[ANPPOM-L] insinuação do Antunes

Diósnio Machado Neto dmneto em eca.usp.br
Sáb Out 6 10:17:47 BRT 2007


Caros.
Acho que os professores clamam (independente das categorias que arrolam) é
pelo abandono gradativo que a universidade sofreu do espírito humanista, que
eliminou a sensibilidade humana em detrimento de um discurso que entendia a
formação apenas e tão-somente pela absorção do dado "objetivo" e "positivo"
que mecanizava, como num passe de mágica, a competência. 

Como diz o prof. Antunes, reavivar esse espírito é a tarefa que vai garantir
o próprio espaço liberal que deve nortear a arte, a ciência e, nessa
congruência, a arte na universidade. O reaquecimento para a compreensão da
complexidade pelos índices valorativos da consciência humana do mundo e não
apenas pelo umbigo da especialidade - Rousseau entendia isso como único
antídoto capaz de superar a opressão histórica social inerente da sociedade
de interesses - é sine qua non para poderemos perseguir a sofisticação do
discurso artístico e sua relação com o desenvolvimento humano e, mais que
isso, dos seres viventes. Senão, comprometeremos pelo preconceito, como
vemos vez e outra explícito nos nossos congressos, a tolerância que garante
a pluralidade que observa a vida sistematizando-a desde a legitimação das
diversas manifestações culturais até o zelo pelo desenvolvimento tecnológico
e suas práticas interpretativas. É tudo um mesmo complexo que se forma no e
pelo homem...

A questão é como fazê-lo em um ambiente de conspurcação moral, política e
social, causa e efeito do abandono sistemático da educação e a
mercantilização do ensino, até mesmo nas universidades públicas. 

Vejo algum lampejo de resposta no surgimento dos cursos técnicos
profissionalizantes, secundários, na área de artes. O modelo já existe,
desde a década de 1970, nas áreas técnicas da engenharia. Apesar dos muitos
problemas sociais que causou o modelo desenvolvimentista militar (e por ser
imposto a sangue e opressão já era por si só repugnante), não há como negar
que os benefícios na área técnica foram notórios e mais, arrisco a dizer que
foi o que consubstanciou o salto para a consolidação dos parques industriais
no Brasil, partindo de uma realidade agrícola até então imarcescível. 
Saudação a todos,
Diósnio Machado Neto
 

-----Original Message-----
From: eduardo luedy
To: antunes em unb.br; Yo Argentino; anppom-l em iar.unicamp.br
Sent: 5/10/2007 20:10
Subject: Re: [ANPPOM-L] insinuação do Antunes

Prezados colegas da anppom,

Este debate está muito interessante.
Concordo em quase tudo que foi dito pelo Jorge
Antunes. Também lamento que a crença no "talento", no
"dom inato" ainda se façam tão presentes em nosso meio
acadêmico. Também lamento a despolitização de nossa
área, como se nós músicos da academia vivêssemos
isolados numa estufa - não afetando, nem sendo
afetados pelas políticas mais amplas. Costumamos
conceber o estudo da música como algo a-histórico e
eminentemente técnico-instrumental. No entanto,
preocupa-me a afirmação de que uma "sólida formação em
acústica, psicoacústica e eletroacústica" poderia nos
ajudar a politizar nossa formação. Mais do que
(apenas?) questionar a hegemonia simbólica do sistema
tonal, acho que alguma formação, ainda que panorâmica,
em filosofia, sociologia e mesmo em etnomusicologia,
poderia nos ajudar a compreender melhor os efeitos de
nossos discursos.

Abraços a todos,

Eduardo Luedy

--- Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:

> Querido Damián:
> 
> Não tenho qualquer acusação a fazer. Só conto com a
> observação pessoal com respeito à ingenuidade
> acadêmica e científica de alguns de nossos pares.
> Essa ingenuidade, essa despolitização, que às vezes
> chega às raias da mediocridade, tem dado enorme
> prejuizo à prática e ao ensino das artes na
> Universidade brasileira.
> Então, quando um acadêmico da área de artes toma
> assento em colegiado rodeado de cientistas,
> filósofos, sociólogos, muitas vezes faz intervenções
> risíveis. A saída, então, passa a ser aquela de se
> apregoar que nossa área tem especificidades que os
> da área de ciências não entendem.
> Muitos defendem, inclusive, que o resultado da prova
> de habilitação em música tenha muito peso,
> reivindicando maior diminuição dos pesos, no
> vestibular, das provas de ciências, história e
> línguas. O emburrecimento e a alienação das novas
> gerações, com isso, vem sendo aumentados. Parece que
> não se deseja formar violinistas. O que se quer é
> formar tocadores de violino.
> Parece que não se pretende mais formar compositores
> intelectuais de sólida formação em acústica,
> psicoacústica e eletroacústica. O que se pretende é
> formar arranjadores submissos ao mercado, ao bispo,
> ao papa e ao pastor.
> O formando, observamos, não precisa saber falar bem,
> escrever bem, pensar bem, criticar bem, opinar bem.
> Essas coisas tem ficado ao encargo do pastor e da
> prática no culto. Na Universidade o importante é ele
> saber tocar o que está escrito no pentagrama,
> quietinho, caladinho, sob a batuta de espoliadores e
> autoridades.
> Pretender que se implante um exame de aptidão numa
> Universidade é de um reacionarismo inaceitável.
> Quem usa a palavra "aptidão" tem que ser realmente
> desconsiderado. Ao se defender um "exame de
> aptidão", com essa designação, não se está cometendo
> um equívoco de linguagem. O que está acontecendo é a
> defesa da idéia de que se acredita na existência de
> "talentos" e de "pendores inatos". E que na
> Universidade só deve entrar "quem tem talento".
> Menos mal será defender, pelo menos por enquanto, a
> aplicação de "provas específicas". Essas provas não
> avaliam "talento". Essas provas não avaliam
> "aptidões". Essas provas não avaliam "pendores
> artísticos". Elas avaliam grau de conhecimentos
> teórico-musicais e domínio auditivo do sistema
> tonal. O que, aliás, também é lamentável. O que se
> deseja é o ingresso de bons solfejadores. A maioria
> dos avaliadores busca candidatos que saibam
> reconhecer e distinguir o modo maior do modo menor,
> o timbre do oboé do timbre do violino, o acorde de
> sétima da dominante do acorde de sétima da sensível.
> Mas os avaliadores não acham importante saber
> distinguir uma onda senoidal de uma onda
> dente-de-serra.
> Abraço,
> Jorge Antunes
> 
> PS. Yo Brasileiro.
> 
> 
> 
> 
> Yo Argentino wrote:
> 
> > >Date: Thu, 04 Oct 2007 16:51:32 -0300
> > From: Jorge Antunes <antunes em unb.br>
> > Subject: Re: [ANPPOM-L] Fim do exame de aptidão no
> Acre
> > To: anppom-l em iar.unicamp.br
> > Message-ID: <4705443D.2E98B60D em unb.br>
> > Content-Type: text/plain; charset="iso-8859-1"
> >
> > >Colegas:
> >
> > >Muitos professores de música que ocupam cargos na
> administração
> > >universitária
> > não têm aptidão para lidar com as pessoas de
> ciência da administração
> > superior e
> > de orgãos colegiados. A relação, nesses casos, se
> torna azeda, acre.
> >
> > Antunes,
> >
> > Se você tem alguma acusação a fazer, faça-a de
> forma explícita, com nome e
> > sobrenome.
> >
> > Obrigado,
> > Damián
> >
> > Dr. Damián Keller
> > Coordenador, Curso de Música
> > Universidade Federal do Acre
> >
> > Chair, Division of Music
> > Federal University of Acre
> > http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
> >
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