[ANPPOM-L] Qual a música que queremos em nossas Universidades?

Jorge Antunes antunes em unb.br
Qui Out 11 09:31:05 BRT 2007


Oi, Hugo:

Não façamos confusão com as metas gerais da civilização brasileira, com palavras de ordem e com os chavões.
Diversidade cultural é panorama de meta e prática, como um todo, para a vida e para as políticas culturais governamentais.
A Universidade não é instituição que deva cobrir, na totalidade, a pesquisa e a formação brasileira.
Além dela, existem outras instituições que garantem a completude da formação profissional-cultural: as escolas de samba, os grupos folclóricos, os grupos de hip-hop, os clubes do choro, as escolas de rock, as gafieiras, os bailes funk, as festas rave, etc, etc.
Cada macaco em seu galho. A Universidade não deve ter a ousadia tresloucada de pretender ensinar a um brincante de bumba-meu-boi a tocar tambor-onça.
O estudo do contraponto clássico não contempla apenas uma vertente musical como você pensa. O microcontraponto que Ligeti e outros usaram e usam na construção de tramas e texturas, não pode ser realizado e analisado por quem não estudou contraponto clássico tonal. Essa técnica escolástica contempla todas as vertentes musicais e abre a mente para o enfrentamento com todas as situações complexas do cotidiano.
Abraço,
Jorge Antunes




Hugo Leonardo Ribeiro wrote:

> Caro Jorge,
>
> Gosto de pensar o estudo do contraponto exatamente como essa metáfora do xadrez, como um exercício de lógica e domínio de conteúdo. Porém, onde fica a diversidade cultural num currículo que só contempla uma vertente musical? Ou devemos deixar a diversidade cultural somente no discurso? Ou isso não deve ser sequer discutido? Talvez em outra lista?
>
> Quando disse nós, eu me referia aos professores universitários responsáveis pela eleição dos conhecimentos válidos a serem ensinados na universidade,  àqueles responsáveis pela construção desse currículo linear que faz com que todos sejam obrigados a cursar as mesmas disciplinas (com um mínimo de flexibilidade), àqueles que decidem quem pode ser um educador musical ou não.
>
> Ou vocês realmente acham que um professor de instrumento, composição ou harmonia não é um educador musical?
>
> Hugo Ribeiro
>
> p.s.1 Meu laptop encontrou uma rede sem fio descriptografada... Estou de volta à civilização :)
>
> p.s.2 Jussamara Souza bem lembrou que nas décadas de 1960 e 70 a Educação Musical estava uito próxima dos compositores (vide as oficinas de música, Schaffer, Cage, Grupo de Compositores da Bahia..). O que houve de lá pra cá? Porquê desse distanciamento tão nocivo para ambas as áreas?
> Em 10/10/07, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
>
>       Caro Eduardo:
>
>      Não vejo nada de problemático no que se refere a uma acertada decisão sobre o que deve servir para as futuras gerações.
>      A nação ideal será aquela formada de cidadãos de grande capacidade intelectual e crítica, capazes de dominar as complexidades.
>      Um povo que só compreende sistemas simples e banais, com baixo nível de complexidade, será um povo consumidor de produtos, estruturas, discursos, ideologias e tecnologias importadas. Será um povo submisso aos donos do mundo, meros consumidores de máquinas, sistemas e saberes importados.
>      O sucateamento da Universidade e a prática que considera a educação como mercadoria, iniciadas com o advento do neoliberalismo, visam exatamente isso: formar um povo que não terá condições de criar saberes novos, porque o ponto máximo a ser alcançado será o status de técnico, apertador de botões (botões de tecnologias importadas do primeiro mundo).
>      É por isso que eu discordo daqueles que são contra o estudo de Contraponto nos cursos de música. O bom músico, seja qual for a área de atuação profissional, deve adquirir formação em que se trabalhe o Contraponto a 2, 3, 4, 5 e 8 vozes, nas claves. Acho que, por isso mesmo, todos deveriam aprender a jogar xadrez.
>      Abraço,
>      Jorge Antunes
>
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