[ANPPOM-L] Qual a música que queremos em nossas Universidades?

Hugo Leonardo Ribeiro hugolribeiro em yahoo.com.br
Sex Out 12 03:57:06 BRT 2007


Realmente, parece que voltamos uns cem anos. Há tempos não lia um discurso
evolucionista desse...
Pensar a análise musical somente em seus aspectos formais-tecnicistas é
muito reducionista. É como se descartássemos toda a contribuição da
Etnomusicologia e da New Musicology (altamente influenciada pela primeira)
para a compreensão das experiências musicais. Talvez Nicholas Cook tenha
realmente ficado "biruta" quando escreveu "agora somos todos
(etno)musicólgos".
http://www.ictus.ufba.br/index.php/ictus/article/viewFile/110/84

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Será que vocês acham que sou um garotinho revoltado com essas disciplinas?
Algo estranho para alguém que se formou em Composição na UFBA, e cuja área
de atuação é justamente as disciplinas de contraponto, harmonia e análise.
Falando em contraponto, quem já deu uma olhada em minha edição do Gradus ad
Parnassum em português (quem sabe até o final do ano eu finalmente tenha a
paciência de completar a tradução completa...)?
http://www.hugoribeiro.com.br/textos/fux.pdf

Para não falar em minha tese de doutorado em etnomusicologia (sob orientação
de Manuel Veiga), recheada de análise musical tradicional, sem a qual não
conseguiria entender a música das bandas estudadas. Mas, obviamente, como
todo bom etnomusicólogo, meu olhar analítico não se restringiu somente aos
aspectos sonoros...
http://www.hugoribeiro.com.br/textos/tese_crua.pdf

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Nunca disse que não gostava de contraponto ou harmonia. O que eu questionei
é se essas disciplinas devem fazer parte do currículo obrigatório de todos
que pretendam um curso superior em música?

Durante esse encontro da ABEM teve um momento que pudemos discutir um pouco
sobre a importância em se definir quais as teorias sobre música que estão
subjacentes aos currículos dos cursos de graduação e música no Brasil. Ou
seja, quais as bases epistemológicas sobre as quais definimos qual o
conhecimento musical deve ser exigido como o mínimo para se reconhecer
determinado músico como merecedor de um diploma de graduado em música. Digo
dessa forma porque, atualmente, existe um conjunto de disciplinas centrais
que são consideradas como condição "sine qua non" para qualquer um que
deseje se formar em música. Seja ele um compositor, regente, violinista ou
educador musical. Refletir sobre essas bases epistemológicas é importante
para se definir o que e como avaliar. E mais ainda, voltando para o assunto
que gerou toda essa discussão, definir qual o conhecimento que deve ser
exigido numa prova de conhecimento específico de música.

Mas o que é triste mesmo, é constatar que alguns profissionais se recusam a
refletir sobre suas práticas e quais as teorias que as orientam, preferindo
não se envolver nos processos de reformulação curricular, ou mesmo na
produção de conhecimento acadêmico sobre sua área de atuação. Lembro-me de
um concurso que participei há pouco tempo atrás, no qual um dos candidatos
havia nos dito (aos demais candidatos), pouco antes da divulgação do
resultado, que compositor não tem que escrever artigos, não tem que ir para
congresso, não tem que se envolver em questões pedagógicas. Compositor tem
que compor. E que uma tese de doutorado de um compositor deveria ser somente
uma composição e pronto. E olha que ele havia acabado de retornar de um
doutorado nos E.U.A.

São profissionais como esses que acabam transformando nossas graduações em
música em conservatórios musicais...

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Interessante também como, em uma lista tão grande, tal assunto só desperte
interesse de quatro pessoas (2x2). Talvez seja hora de eu me abster. Talvez
Luedy faça o mesmo. Não estou afim de representar uma bandeira tão
controversa, mesmo que seja somente pelo prazer de exercitar a retórica, e
sofrer as consequências sozinho. Afinal, quem é esse tal de Hugo, de
Sergipe?
Aliás, onde fica Sergipe mesmo? :)

Um abraço de caranguejo,

Hugo Ribeiro
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