[ANPPOM-L] Qual a música que queremos em nossasUniversidades?

carlos palombini palombini em terra.com.br
Seg Out 15 00:16:47 BRST 2007


> Quando você diz que "alguns dos bons músicos eletroacústicos afirmam 
> alguma coisa" dá a impressão que você acredita que todos consideram 
> serem bons músicos eletroacústicos, aqueles que você considera serem 
> bons músicos eletroacústicos.
>
Eu me referia a um artigo de 2006 de Michel Chion e a uma afirmação 
verbal de Simon Emmerson, em 1989. Mas não é difícil discernir as 
agruras do dilema estética/material através das mais variadas 
manifestações da música eletroacústica. 
>
> O solfejo tradicional ensina bastante. Por exemplo, ensina que um som 
> agudo faz as cordas vocais vibrarem com freqüência maior do que a de 
> um som grave.
>
Encontra-se a mesma informação em outro tipo de literatura.

> Eu, de minha parte, considero tradicional o Solfège do Schaeffer.
>
Ele sucumbe ao paradoxo de todo o ímpeto revolucionário (vide infra).
>
> Eu considero tradicional, também, o dodecafonismo e o serialismo integral.
>
As vanguardas tendem a apresentar um aspecto inovador e um aspecto 
reacionário. Aliás, as vanguardas modernistas (não me refiro aqui ao 
modernismo brasileiro) sempre fizeram questão de inserir suas rupturas 
no contexto da evolução necessária da linguagem herdada (e.g. 
Schoenberg, Boulez). Barthes coloca muito bem este paradoxo quando diz, 
em 1953, que "toda a revolução necessita tomar, àquilo que deseja 
destruir, a própria imagem daquilo que deseja possuir".
>
>
> Mas o bom músico deve, em favor de uma boa formação, estudar todas as 
> linguagens e técnicas tradicionais.
>
Pode, mas isto não é pré-condição para ser um bom músico.  Cartola não o 
fez, tampouco Nazareth, ou Villa-Lobos, ou Chopin. Não consta que Elis 
Regina tenha estudado canto difônico ou orfeônico, nem que Carmen 
Miranda tenha estudado canto lírico. Mozart não estudou os sistemas 
indianos, nem Camargo Guarnieri, que eu saiba, os cantos de peiote dos 
nativos norte-americanos. Uma formação universal, no estrito sentido da 
palavra, não pode ser fornecida a ninguém hoje.  Uma formação 
pretensamente universal, correspondendo à equação "universal = tradição 
culta da Europa ocidental", é o que, parece, boa parte da escolas e 
departamentos de música estão vendendo.
>
>
> O fenômeno da música eletrônica tum-tis-tum demonstra isso. Muitos de 
> seus praticantes, sem qualquer informação técnica e histórica, andavam 
> pensando estar fazendo coisas novas, sem saber que estavam inventando 
> a roda.
>
Sim, encontram-se pessoas assim em todos os tempos e lugares.
>
> Desconhecem, por exemplo, a Reine Verte e o Rock Eletrônico que Pierre 
> Henry compôs em 1963 e o Movimento Browniano que compus em 1968.
>
Da próxima vez que você encontrar uma destas pessoas, não deixe de 
oferecer-lhe uma cópia de seu Movimento Browniano. Depois nos conte o 
que aconteceu.

Carlos Palombini

-- 
carlos palombini (dr p)
professor adjunto de musicologia
universidade federal de minas gerais
<cpalombini em gmail.com>

"... a littérature de résistance vaut très exactement ce que vaut la littérature de collaboration." (Armand Robin, 19 de abril de 1946)




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