[ANPPOM-L] Digest Anppom-l, volume 30, assunto 54

Leonardo Fuks cyclophonica em yahoo.com
Ter Out 16 23:20:00 BRST 2007


Professor Antunes, 
Minha crítica não foi a respeito de seu novo livro que, como declarei, ainda não li. Não quer dizer que não gostei ou que não gostarei. Fiquei verdeiramente curioso, sobretudo pelo título "Sons novos para a Voz", que me lembrou o clássico " New Sounds for Woodwinds" de 1967, escrito pelo brilhante Bruno Bartolozzi. 

Numa mensagem anterior o senhor me cumprimentava por meus trabalhos
sobre vozes "difônicas", coisa que nunca foi objeto principal de meu
estudo. Agora vejo que não posso nem aceitar tais salamaleques, pois o
senhor provavelmente nunca leu meus trabalhos. 


Minha crítica foi a respeito de um termo que o senhor utilizou numa mensagem dirigida a esta comunidade toda. 
Não conheço nenhuma obra que se refira à voz do Louis Armstrong como sendo VOCAL FRY. 
Também Elza Soares frequentemente usa o GROWL. Se ela usa o FRY, não é algo tão característico de sua voz.  
Estou lhe respondendo dentro desta lista, pois todos as citações são a partir de suas mensagens dirigidas a todos. Todos são convidados a emitirem opinião, darem informações, discordarem ou concordarem, e desafio o senhor a dizer que cada um que discordar será anti-acadêmico e anti-ético e anticientificista infantil e academicamente leviano. 
Se o seu livro contém este tipo de afirmativa, e suponho que o tenha, agradeceria saber a fonte bibliográfica de tais considerações. 
Desta vez o senhor provavelmente não apenas errou nos termos que utiliza com seus colegas da academia, mas também errou ao utilizar de maneira equivocada os termos FRY e GROWL. Nada humilhante, nada vergonhoso; nós que acreditamos em atitudes academicamente éticas e científicas na pesquisa admitimos sem problemas cometer pequenos (ou grandes) enganos. 
Felizmente, para esta segunda categoria de erros cabe uma ERRATA. 

Sobretudo quando é um autor " que estuda todas as manifestações sonoro-musicais do mundo
 produzidas com o aparelho fonador, e os sons produzidos com outras partes
 do corpo, com objetos externos alterando a voz ou com a função de
 caixa de ressonância e todos os fonemas das línguas faladas do mundo
 desde aquelas do ocidente até o tâmil, o urdu, o árabe, o grego, o
 russo, o karbadiano, o esquimó, o talago, o hotentote, etc."

A propósito, se são "sons novos para a voz", reunindo todos os estudos sobre todas as manifestações de todo o mundo de todas as línguas do planeta etc, onde mora o NOVO no seu livro novo ?

A respeito de sua última recomendação, que depende da posse de seu livro ("Vai pra página 135, item 129, sem sons vocais!"), gostaria que o senhor a citasse explicitamente, para que saibamos se o senhor agora comete algo que vá além de um simples erro.

Boa noite, 
Leonardo

++++++++++++++++++++++++++++++Colegas:

Esta lista de discussão realmente alcança, no momento, estágio de
 enorme utilidade para a discussão acadêmica e científico-musical.
Mais do que um meio de propaganda de papers publicados eletronicamente,
 funciona como uma instância crítica que nos ajuda a produzir os
 trabalhos acadêmicos.
Opiniões sobre temas de interesse da área, enriquecem nosso debate e,
 mais importante ainda, o intercâmbio de nossas idéias e nossas
 pesquisas.
Entretanto, ao se pretender emitir opinião sobre um trabalho, é
 importante, a bem da responsabilidade e para não se correr o risco de um
 anticientificismo infantil ou de uma leviandade acadêmica, fazê-lo sem
 conhecer o trabalho.
É altamente anti-acadêmico e anti-ético emitir uma opinião sobre um
 livro e, em seguida, ter o desplante de dizer: "confesso não o ter
 ainda  lido."
Sendo assim, fica evidente que o professor Leonardo Fuks se utiliza de
 um comentário exagerado quando duvida da extensão do conteúdo de um
 livro que estuda todas as manifestações sonoro-musicais do mundo
 produzidas com o aparelho fonador, e os sons produzidos com outras partes
 do corpo, com objetos externos alterando a voz ou com a função de
 caixa de ressonância e todos os fonemas das línguas faladas do mundo
 desde aquelas do ocidente até o tâmil, o urdu, o árabe, o grego, o
 russo, o karbadiano, o esquimó, o talago, o hotentote, etc.
A propósito, é importante lembrar que o autor optou pelo uso da
 designação genérica "voz fry", para identificar e estudar os sons graves
 produzidos pela voz humana quando as cartilagens aritenóide se
 posicionam juntas de modo a que somente a parte anterior das cordas vocais
 vibrem.
A designação desse tipo de produção vocal recebe os mais diversos
 nomes por diferentes autores: voz "creaky", voz "growl", voz "fry", voz
 "rumble"", voz "constricted".
Para agrupar diferentes cantores e indivíduos que usam o mesmo tipo de
 técnica, foi adotada a nomenclatura "fry" para exemplificar com as
 performances de Ida Cox, Louis Armstrong, Elza Soares, nativos da língua
 africana hausa, da língua mon-khmer do Vietnam e outros.
Para eventuais novos opinadores futuros que também adotem a
 não-acadêmica atitude do "não li e não gostei", só me restará uma nova
 resposta:
Vai pra página 135, item 129, sem sons vocais!
Humanamente,
Jorge Antunes







Leonardo Fuks wrote:

> Estou certo de que esta lista pode prestar um grande serviço ao
 interlóquio dos nossos pesquisadores e demais interessados.
> Mais do que um meio de propaganda de lançamentos de nossos produtos,
 funciona como uma instância crítica que nos ajuda a produzir os
 trabalhos acadêrmicos.
> Concordo com o físico e músico Alexandre Bräutigam com relação
 à multiplicidade de efeitos e contextos vocais, dos quais a ampla
 antologia do Museu do Homem (Le Voix du Monde) por exemplo, representa
 apenas uma pequena fração do que existe. Sendo assim, fica evidente que o
 professor Antunes se utiliza de um termo exagerado quando descreve a
 extensão de seu trabalho ("estudando todas as manifestações musicais
 do mundo, produzidas com o aparelho fonador")...
> Mas a propaganda é a alma do negócio:)
>
> Por outro lado, acho bem ousada e interessante a inclusão de sons
 fisiológicos no trabalho de Antunes (que confesso ainda não ter lido),
 alguns tidos como nojentos pela maioria, mas que certamente podem ser
 controlados e utilizados musicalmente. Recentemente li o livro infantil
 "AH, ECA, A ENCICLOPÉDIA DE TUDO QUE  É NOJENTO" de JOY MASOFF, da
 Ediouro, e me diverti um bocado!
>
> Devo, entretanto, observar que a voz de Louis Armstrong nada tem a
 ver com o Vocal Fry, segundo é descrito pelos principais autores do
 assunto em fisiologia da voz (e.g. Holien, Blomgren M & Chen Y, Herzel ,
 Titze, entre outros ).
>
> Em um trabalho com o cientista japonês Ken-Ichi Sakakibara e outros
 colaboradores nipônicos, pudemos demonstrar em maior detalhe o
 mecanismo do GROWL, que é o modo de voz de fato atribuído a Armstrong
  (K.-I. Sakakibara, L. Fuks, H. Imagawa, and N. Tayama, “Growl voice in
 ethnic and pop styles” in Proc. Int. Symp. on Musical Acoustics (ISMA
 2004), Nara, Japan, April 2004.).
> O paper pode ser encontrado em
 http://www.brl.ntt.co.jp/people/kis/paper/isma04.pdf
>
> É muito animador vermos que esta lista está congregando um número
 crescente de vozes pensantes, não raro colidentes e dissonantes, nos
 temas da música e musicologia.
>
> Leonardo
>
>
>
> >Antunes escreveu: -"Eu, de minha parte, tenho exemplos que demostram
 justamente o contrário.
> > Para escrever meu mais recente livro, intitulado Sons Novos para a
 Voz,
> > passei dois anos, de setembro de 2005 a agosto de 2007, estudando
 todas as
> > manifestações musicais do mundo, produzidas com o aparelho
 fonador.
> > Estudei todos os trabalhos de Hugo Zemp, Trân Quang Hai,
 Jean-Michel
> > Beaudet, Jacques Bouët, Gilles Léothaud e Bernard Lortat-Jacob,
 sobre as
> > práticas vocais contrapontísticas de Taiwan, Georgia, Albania,
 Itália, Ilhas
> > Solomon, República da África Central (Pigmeus e Banda Linda),
 Etiópia e
> > Indonésia."
>
> > Caro Eduardo:
> >
> > Obrigado por essas suas novas e brilhantes
> > ponderações.
> > Não vou me estender em minha resposta a você, porque
> > acabei de enviar mensagem ao Carlos Sandroni que
> > serve também como resposta para você.
> > Lá, você verá, coloquei a questão das definições dos
> > verbos compreender, entender, ouvir, escutar, etc.
> > Possivelmente estejamos todos de acordo, mas
> > enfrentando problemas de definições prévias de
> > certos verbos e certos conceitos.
> > Até mesmo com relação ao conceito de "música",
> > sinto, neste rico e salutar debate, certas
> > divergências.
> > Mas eu gostaria de lhe dizer de minha total
> > discordância com relação à sua hipótese, a mim
> > aplicada, que aponta "a eleição de certos padrões
> > sonoros como aceitáveis e de outros como
> > não-aceitáveis, ou desviantes etc."
> > Por favor, longe de mim tal atitude. Certamente você
> > não conhece a minha história.
> > Passei os mais importantes anos de minha juventude,
> > no Rio de Janeiro, no período compreendido entre
> > 1961 e 1964, sendo chamado de "doido" por colegas e
> > professores, quando comecei a fazer minhas primeiras
> > obras e experiências com o som eletrônico.
> > Acusavam-me, na época, justamente dessa heresia:
> > "uso de certos padrões sonoros não-aceitáveis, ou
> > desviantes".
> > Aliás, sempre e ainda hoje, a cada novo passo
> > estético que dei e dou, ouvi e ouço a mesma
> > avaliação dos conservadores.
> > Assim, de meu ponto de vista não existe, no universo
> > sonoro e musical de todo este planeta e de outros,
> > nada que possa ser qualificado como padrão sonoro
> > não-aceitável ou desviante.
> > Aproveito para, mais uma vez, fazer propaganda de
> > meu novo livro "Sons novos para a Voz". Lá você
> > verá, na página 57, que faço um estudo sobre os sons
> > do peido, que na página 50 está um estudo sobre os
> > sons do arroto, que na página 46 estão técnicas de
> > produção do som de vomição, e que na página 135
> > estão referências ao repertório sonoro dos letristas
> > que inclui o som de masturbação e o do coito anal
> > sem sons vocais.
> > Nas páginas 73-75 eu faço um estudo sobre a voz fry
> > (Armstrong e Ida Cox). Aí está incluída a técnica
> > usada pela confraria Bwiti, do Gabão,  que consiste
> > na ingestão de ervas excitantes e irritantes que
> > provoca a inflamação da laringe. Dessa forma o
> > solista consegue os sons mais graves em sua voz fry.
> > Em obras para coro, já usei, além do assobio, sons
> > de pigarro e tosse.
> > Você acha, então, que eu seria capaz de considerar
> > não aceitável ou desviante algum padrão sonoro de
> > outra cultura?
> > Abraço,
> > Jorge Antunes






       
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