[ANPPOM-L] o DJ e o compositor (era que músicaqueremos?) [longa]

Rodolfo Caesar rodolfo.caesar em gmail.com
Dom Out 21 16:24:17 BRST 2007


Meus caros,



Que seja, entao, florido. Esqueci que violette pode ser uma flor...

abs,


Rodolfo





Jorge Antunes wrote:
> Caro Rodolfo e demais colegas:
>
> A primeira versão do Étude Violette (1948), de Pierre Schaeffer, usa 
> um contraponto florido a 3 vozes.
>

> Material bruto: acordes no piano, tocados pelo jovem Boulez, então com 
> 23 anos, frequentador do Clube d'Essai.
> Transformações: manipulations diverses.
> Montagem: aleatoire.
> Mixagem final: 3 voix de mixage.
> Rascunho: voix 1: éolien; voix 2: choqui; voix 3: elément de souffle.
>
> Citações:
> (Grifos nossos)
>
> "Le procédé du montage ne permet pas la superposition polyphonique. Le 
> mixage au contraire, consiste à _superposer en concomitance des 
> monophonies_ et à enregister le résultat."
> (Schaeffer- À la Recherche d'une Musique Concrète, Paris: Seuil, 1952, 
> p. 205)
>
> "Le piano, variant lui-même du son normal à des percussions bizarres, 
> était susceptible d'être introduit en harmonie ou en _contrepoint_ sur 
> ces voix."
> (Schaeffer- À la Recherche d'une Musique Concrète, Paris: Seuil, 1952, 
> p. 66)
>
> Bom domingo para todos,
> Jorge Antunes
>  
>  
>  
>  
>  
>  
>
> Rodolfo Caesar wrote:
>
>> Meus caros,
>>
>> Contrariamente ao que disse o Alexandre Bräutigam, Pierre Schaeffer está
>> em matéria obrigatória na graduação em composição pela EM-UFRJ. Seu
>> Solfège é sempre apresentado e discutido. Mas, em lugar de substituir o
>> contraponto florido (vc viu, Carlos, que coisa mais 'camp'!?) ou de
>> servir como pedra filosofal para a 'compreensão' das músicas, é
>> devidamente contextualizado. Todo cuidado é pouco para evitar essa de 'o
>> rei morreu, viva o rei', por esforço para não endossar a monarquia.
>> Nesses treze anos da disciplina, noto que uma das coisas mais difíceis é
>> evitar que os alunos saiam fazendo a écoute réduite de tudo sem quererem
>> descobrir que, no 'fundo', não há redução possível, até porque não
>> existe fundo. Não dá pé.
>> Estou de acordo que este 'engenheiro' (que não sabia contraponto
>> florido) deva ser estudado, sim, sempre. Mas, de acordo com suas
>> próprias palavras, a morfo-tipologia apenas corresponde a uma das
>> diversas etapas da escuta antes de se chegar à 'compreensão'. Está lá no
>> Livre IV.
>>
>> Obrigado e bom domingo!
>>
>> abs,
>>
>> Rodolfo
>>
>> Alexandre Bräutigam wrote:
>> > Caro Palombini e membros da lista,
>> >
>> > Então me parece que na verdade a semântica separa duas classes que, na
>> > prática, estariam em alguns momentos, amalgamadas. Ainda mais quando o
>> > DJ, além de escolher e ordenar as sequências das músicas ao vivo,
>> > também produz as próprias. É o caso do Tiesto e do Infected Mushroom
>> > (o primeiro sem formação musical tradicional, diferente da dupla que
>> > compõe o IM).
>> > Na introdução de 'Converting Vegetarians' (IM) seria incipiente o uso
>> > apenas de uma análise baseada nos conhecimentos adquiridos em aulas
>> > formais de harmonia tonal ou contraponto (seja ele florido ou não).
>> > Muito mais útil seria a tipomorfologia schaefferiana - não como um
>> > sistema pronto e acabado, mas como algo que apresenta ferramentas mais
>> > adequadas para tal.
>> > Apesar disso, muitos alunos de composição dos cursos de graduação de
>> > nossas universidades saem dele sem ao menos saber quem foi Pierre
>> > Schaeffer. Falo isso por experiência própria, conversando com colegas
>> > de mestrado em música. Na UFRJ os cursos que apontam para esse lado
>> > são matérias eletivas e portanto nem todos os alunos recebem este
>> > conhecimento. Se formam especialistas em harmonia e contraponto, mas
>> > desconhecem o Traité de Schaeffer. É isso que queremos para as
>> > faculdades de música?
>> >
>> > um abraço a todos,
>> >
>> > Alexandre Bräutigam.
>> >
>> >
>> >
>> > > Date: Thu, 18 Oct 2007 15:58:50 -0300
>> > > From: palombini em terra.com.br
>> > > To: anppom-l em iar.unicamp.br
>> > > Subject: [ANPPOM-L] o DJ e o compositor (era que música queremos?)
>> > [longa]
>> > >
>> > >
>> > >
>> > > Alexandre Bräutigam escreveu:
>> > > > Estendendo a discussão sobre o compositor, seu papel, seus 
>> meios de
>> > > > produção e registro assim como a delicada discussão dos direitos
>> > > > autorais (tudo o que envolve dinheiro, no mundo dos Homens, é
>> > > > complicado), qual a opinião dos professores a respeito dos 
>> remixes e
>> > > > dos DJs como compositores? Cito um exemplo : o DJ Tiësto 
>> (holandês) e
>> > > > sua música 'Adagio for strings'.
>> > > Minha opinião --- e já que vc só quer ouvir os professores, vou 
>> ser bem
>> > > professoral --- é que... "DJ" e "compositor" são termos que 
>> refletem as
>> > > práticas, os usos e costumes de grupos bem distintos. Pode-se
>> > apresentar
>> > > o DJ como compositor ou o compositor como DJ a fim de esclarecer a
>> > > questão eterna das origens (uma obsessão minha). Meu exemplo 
>> preferido:
>> > > o processo de criação de "Étude pathétique" de Schaeffer (de modo 
>> algum
>> > > um compositor no sentido que se tem usado este termo aqui, i.e. 
>> aquele
>> > > rapaz ou aquela moça que sabe tudo o que um teórico austríaco do 
>> século
>> > > XVII escreveu em latim num livro publicado em 1725) como descrito 
>> pelo
>> > > próprio (por favor, se forem publicar o que se segue, digam que a 
>> idéia
>> > > é minha) o apresenta fazendo exatamente o que um DJ moderno faz. Ele
>> > > dispõe de 4 pratos (como se chamava no meu tempo a superfície 
>> giratória
>> > > daquilo que se denomina hoje pickup) sobre os quais vai 
>> colocando, como
>> > > ele mesmo diz, o que lhe cai nas mãos: uma barca dos canais de 
>> França,
>> > > sacerdotes de Bali, uma harmônica ou acordeon norte-americano, um 
>> disco
>> > > com a tosse de uma radialista interrompendo uma gravação de Sacha
>> > > Guitry. Depois, como ele mesmo diz, "exercício de virtuosidade nos
>> > > quatro potenciômetros e nas oito chaves de ignição". Este estudo 
>> nasce
>> > > em poucos minutos: o tempo de gravá-lo, o próprio Schaeffer 
>> afirma. As
>> > > diferenças entre o que Schaeffer e Garnier fazem seriam tão
>> > > esclarecedoras quanto as analogias, embora não seja apropriado
>> > > discuti-las aqui. Isto quer dizer que Schaeffer foi o primeiro DJ
>> > > moderno, em 1948? Não exatamente. A figura do DJ-produtor se
>> > constrói em
>> > > várias etapas. A melhor fonte a este respeito é _Last Night a DJ 
>> Saved
>> > > My Life: The History of the Disc Jockey_, de Bill Brewester e Frank
>> > > Broughton (New York: Grove Press, 2000); o que se segue é mais uma
>> > > interpretação.
>> > >
>> > > A primeira destas etapas, acredito, é o surgimento de uma cena onde
>> > seus
>> > > serviços sejam requeridos. Os swing kids da alemanha nazista 
>> raramente
>> > > fizeram mais do que discotecar e dançar swing norte-americano.O funk
>> > > carioca existiu por quase duas décadas como "mundo funk carioca"
>> > (título
>> > > do livro de Vianna, que o escreveu no momento em que a cena 
>> estava para
>> > > gerar a música), alimentado por James Brown, soul da Filadélfia e 
>> Miami
>> > > Bass antes de passar a existir como música, em 1989 (i.e. um ano 
>> após a
>> > > publicação do livro de Vianna). O hip-hop existiu como cena desde a
>> > > primeira metade dos anos 70, quando o DJ jamaicano Kool Herc se 
>> mudou
>> > > para o Bronx (na Jamaica, o que chamamos de DJ chamava-se 
>> selector e o
>> > > que chamamos de MC chamava-se DJ, mas Herc era DJ no sentido 
>> nosso, ou
>> > > quase), alimentado por rock, disco e funk (submetidos a processos de
>> > > discotecagem forjados pelos DJs pioneiros da cena disco de 
>> Manhattan e,
>> > > depois, pelo scratch, inventado no próprio Bronx) antes da 
>> explosão de
>> > > "Rapper's Delight", do Sugar Hill Gang (aquela música que utilizou a
>> > > base de "Good Times" do Chic, que também foi usada por um grupo 
>> de rock
>> > > e Gabriel o Pensador no célebre "2345meia78"). A disco foi uma 
>> cena de
>> > > festas e clubes (sobretudo gays negros e latinos) de Manhattan,
>> > > alimentada de rock, soul, experimentalismo e pop desde o final 
>> dos anos
>> > > 60 antes de gerar a música disco, por uma mutação do soul, no 
>> final da
>> > > primeira metade dos anos 70. É na cena disco que surge a figura do
>> > > DJ-produtor, com Walter Gibbons, Tom Moulton, François Kevorkian 
>> etc. O
>> > > veículo principal da arte do DJ-produtor é o single de 12 
>> polegadas (ou
>> > > 305mm, na versão nacionalista), descoberto por Moulton por um acaso,
>> > > quando foi prensar uma mixagem sua e descobriu que não havia 
>> material
>> > > para o single de 7 polegadas (que no meu tempo chamava-se compacto
>> > > simples). Quando Moulton recebeu o LP com uma faixazinha na 
>> borda, deu
>> > > uma gargalhada e julgou que o comprador se consideraria 
>> ludibriado. A
>> > > faixa foi espalhada pela superfície inteira do disco e 
>> descobriu-se que
>> > > o volume de um disco destes era muito mais alto. (Estes discos 
>> podiam
>> > > ser de vinil ou acetato.)
>> > >
>> > > A questão da autoria não é problema na cena dançante. Os grupos que
>> > > produzem esta música não tem cara. Um autor pode ter várias caras,
>> > > simples ou múltiplas (i. é, sozinho ou em parcerias) às quais vai
>> > chamar
>> > > projetos, e estes projetos, por sua vez, podem jamais revelar, a não
>> > ser
>> > > em texturas sonoras (o próprio invólucro do single e às vezes até 
>> seu
>> > > selo não sendo mais do que uma superfície branca), a persona 
>> corpórea
>> > > do "autor". A música eletrônica dançante é, praticamente, uma música
>> > sem
>> > > cara. Por isso é tão difícil orientar-se no labirinto das 
>> tendências.
>> > > Para o "compositor" isto não seria importante, porque tudo 
>> estaria na
>> > > música. Mas quem tenha estudado um pouco as implicações estésicas 
>> das
>> > > tecnologias sabe que não é exatamente assim: "escuta reduzida",
>> > > "situação acusmática", "pseudo-instrumento", "objeto sonoro" de
>> > > Schaeffer; "perda da aura", "declínio do valor de culto", 
>> "aumento do
>> > > valor de exibição" de Benjamin; "fetichismo na música", 
>> "regressão da
>> > > audição" de Adorno; "Im-posição" de Heidegger...
>> > >
>> > > Quanto ao Tiesto, dizem que é o "maior DJ do mundo". Tanto quanto 
>> posso
>> > > julgar pelo vídeo, prefiro o baile de sábado do Clube Boqueirão de
>> > > Regatas, no aterro do Flamengo (entre o MAM e o aeroporto): a
>> > acústica é
>> > > horrível, não há luzes nem ar condicionado e pode haver 
>> pancadaria (de
>> > > cunho recreativo, nada que a segurança do baile não domine), mas o
>> > > público não fica todo virado e embasbacado, levantando os braços 
>> para
>> > > "o maior DJ do mundo".
>> > >
>> > > Carlos
>> > >
>> > > --
>> > > carlos palombini (dr p)
>> > > professor adjunto de musicologia
>> > > universidade federal de minas gerais
>> > > <cpalombini em gmail.com>
>> > >
>> > > "Ed anco pare riconosciuto generalmente che ai giovani appartenga
>> > una specie di diritto di volere il mondo occupato nei pensieri loro."
>> > (Giacomo Leopardi, Pensieri XL, 1845)
>> > >
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