[ANPPOM-L] seletividade e você-sabe-com-quem-está-falando?
carlos palombini
palombini em terra.com.br
Ter Jul 22 17:08:01 BRT 2008
Prezados Colegas,
Já perdi a conta de quantas vezes me candidatei às bolsas da Fundação
Guggenheim, mas foram umas quatro. Edgard Varèse se candidatou pela
primeira vez em 1932 e nunca ganhou nada. Não sei se Varèse escreveu à
Guggenheim dizendo que seu trabalho era único no mundo e que se a
Guggenheim não facilitasse as coisas para ele, ela não teria mais a
honra de seus pedidos. Se ele o fez, sua missiva não surtiu efeito. A
mim, não me ocorreu fazê-lo. Acho mais produtivo melhorar minha proposta
e tentar no ano que vem. Isto enquanto meu apreço pela Fundação se
mantiver intacto.
A estratégia do "você-sabe-com-quem-está-falando?" pode funcionar no
Brasil. Há mais de duas décadas, para minha própria surpresa, ganhei uma
bolsa, originalmente denegada, com um recurso do tipo "como ousam
recusar-me?" Doze anos depois, presidindo a comissão científica de um
congresso nacional (o do Nucom), recebi, de um compositor estrangeiro
cuja comunicação fora eliminada, uma mensagem do gênero. Respondi-lhe
agradecendo ter-me feito saber quem ele fosse (eu, realmente, nunca
tinha ouvido falar dele --- afinal, você só precisa dizer quem você é
quando ninguém sabe disso, não é verdade?). Um mês depois, ele me
escreveu de novo, perguntando se a comunicação havia sido aceita.
Respondi que não, e fiz-lhe notar que sua biografia e uma reformulação
de seu próprio paper de acordo com as recomendações dos consultores ---
os congressos do Nucom eram cuidadosos neste aspecto, minhas submissões
à Anppom jamais retornaram com comentário algum --- eram dois documentos
distintos. Expliquei-lhe também que havia recebido o primeiro, mas que,
quanto ao segundo, já não havia tempo de levá-lo em conta, caso ele se
interessasse em enviá-lo.
Afinal, VOCÊ sabe com quem está falando?
Cordialmente (ma un poco meno),
Carlos Palombini
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