[ANPPOM-L] Contraponto sobre possbilidades dos testes específicos

Marcos Câmara de Castro mcamara em usp.br
Qui Nov 25 13:00:11 BRST 2010



Obrigado, Carole,  

Estou pensando justamente nisso: os departamentos de música das universidades não deveriam ser a única opção para quem quer estudar música. Há o modelo Conservatório Universitário (com suas regras próprias), deveria haver ensino técnico público (tipo mais ULMs, EMMs, conservatórios estaduais etc) e cada departamento universitário de música poderia impor suas próprias regras do jogo: com ou sem exame de aptidão e perfil curricular. A universidade não tem a vocação do consertório, mas de ser um "microcosmo de todo saber humano" e por isso não deveria ser a única opção para um estudo musical específico. Porque não "Escola de Música Clássica Europeia", "Escola de Música Erudita Contemporânea", "Escola de Jazz", de MPB, de World Music, de Música Chinesa etc? Vai depender do perfil do corpo docente ou de uma orientação geral a priori.  

Se cada região/universidade tem seu perfil peculiar, será talvez o quadro de professores que dará ênfase a este ou aquele modelo. As universidades devem ser livres para estabelecer seus cursos de acordo com a demanda local. Em que medida devemos ou não reproduzir o modelo europeu? Há um campo de trabalho específico para eruditos, mas não é a única necessidade de se estudar música. Muitos buscam no curso superior ferramentas para outros fins e a universidade deveria oferecer suas matérias também para esses.  

O difícil, parece, é assumir um modelo, seja qual for, mas não podemos abarcar tudo: se precisamos de músicos para orquestras ou se queremos pesquisar/compor ou praticar outros gêneros musicais. O Departamento de Música da USP-SP adotou durante um tempo uma proposta de composição aliada à performance (como conversei recentemente com um colega), e os produtos alcançados foram frutos dessa escolha. Toda escolha tem seus riscos e suas consequências, mas é preciso fazer uma, sob o risco de não servirmos para nada.  

Não acho que os departamentos de música devam se preocupar com "que alunos queremos formar", mas oferecer um conteúdo teórico e prático de acordo com seu perfil e assumir a responsabilidade dos resultados. O fato é que as teorias e as práticas musicais atuais estão defasadas e é preciso que nos atualizemos para continuar dialogando com a realidade.  

Aproveitando o ensejo, grupos instrumentais e/ou vocais são, a meu ver, a melhor opção para o ensino musical público. Assim, longe de esgotar o tema, as escolas públicas prestariam um serviço possível, dando oportunidade de uma prática disciplinada nas escolas sem intenção profissionalizante, mas que poderá despertar vocações.  

Grato,  

Marcos  

Citando Carole Gubernikoff <gubernik em terra.com.br>:  

> Apenas respondendo, os Conservatórios Universitários, como New England Conservatory, Julliard School, Mannis, Manhattan, e tantos outros, têm textes de entrada dificílimos e pululam de orientais brancos, sul americanos brancos,  africanos , arabes.....  
>
> os departamentos de música náo exigem testes na graduação e funcionam como locais que podem ser frequentados por qualquer aluno de qualquer departamento que se interesse por aulas de música e alguns forma músicos europeus também.   
>
> Porque discutir uma única maneira de formar músicos (se é isto que queremos) se cada instituição pode formular seu curso de acordo com o seus objetivos e sua identidade.   
>
>
> Claro que quando se democratiza o acesso o perfil do aluno terá de ser atualizado e teremos de nos adaptar, o que nos é muito difícil.   
> Muito papo e rancor!  
>
>
> ----- Original Message -----   
> FROM: Marcos Câmara de Castro  
> TO: Carlos Palombini  
> CC: anppom-l em iar.unicamp.br  
> SENT: Thursday, November 25, 2010 9:57 AM  
> SUBJECT: Re: [ANPPOM-L] Contraponto sobre possbilidades dos testes específicos  
>
> Bom dia,  
>
> Eu gostaria de saber se nas universidades estadonidenses há teste de aptidão nos seus departamentos de música.   
>
> Marcos  
>
> Citando Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>:  
>
> > Exatamente, se gosto ou se não gosto de música eletroacústica, não vem ao caso. E meus argumentos não são fracos, proque não expus argumento algum. Ao invés, preferi expor a opinião antitética à predominante, de modo que as vozes discordantes se sentissem à vontade para se manifestar. E André Machado enunciou perfeitamente o argumento que faço meu. É significativo que simplesmente aventurar-se a mencionar a possibilidade de extinção da prova específica e os possíveis benefícios decorrentes desta extinção provoque respostas de cunho eminentemente retórico. Isto mostra a entronização de certo tipo de pensamento em nosso meio. É contra esse tipo de pensamento que declaro meu voto aqui. 
> >
> >
> > 2010/11/24 Eduardo Patricio <epatricio em yahoo.com> 
> >
> >
> > > É. Pela mensagem do André Machado, me parece que a posição do Palombini (e/ou reflexos dela) foi agora melhor captada.   
> > > A questão central seria menos sobre a existência ou não de testes específicos e mais a respeito da necessidade de um questionamento acerca dos objetivos e proposições dos cursos de música no Brasil - que apresentam sim um certo descolamento da realidade (histórico-social), e, que fique claro, não se trata aqui de uma questão puramente de mercado.  
> > >
> > >
> > > Saudações  
> > >
> > >
> > > Eduardo Patrício  
> > >
> > > _____________________________________
> > > EDUARDO PATRíCIO
> > > HTTP://WWW.EDUARDOPATRICIO.COM.BR
> > > +55 41 8434-0480
> > >
> > > -------------------------
> > > DE: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com> 
> > >
> > > PARA: anppom-l em iar.unicamp.br
> > > ENVIADAS: Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010 1:02:13 
> > >
> > > ASSUNTO: Re: [ANPPOM-L] Contraponto sobre possbilidades dos testes específicos
> > >
> > > Voilà!
> > >
> > >
> > > 2010/11/24 André Luís Cardoso Machado <andrelcmac em ig.com.br> 
> > >
> > >
> > > > Olá, se me permitem 
> > > >
> > > > O ensino superior em música é todo baseado na tradição européia que
> > > > culminou na música erudita contemporânea. Os jovens que ingressam nas
> > > > faculdades de música, como todos os outros, são um pouco
> > > > inconsequentes. Se julgam poderosos e pensam poder vencer a realidade
> > > > e se tornar grandes solistas ou reconhecidos compositores. Porém essas
> > > > possibilidades já não existem, já tem algum tempo. O máximo que se
> > > > pode conseguir é um reconhecimentozinho acadêmico. Não dá pra ganhar
> > > > dinheiro nem com a música tradicional nem com a contemporânea. A não
> > > > ser sob a égide do estado que não oferece(e nem deveria) vagas para
> > > > todos.
> > > > Em qualquer outra área a academia se veria obrigada a mudar seus
> > > > rumos. Mas em nossa área específica, amparada inclusive por uma
> > > > equivocada visão de toda a sociedade de que nossos valores são muito
> > > > diferentes do resto, mantem-se tudo como está.
> > > > Me parece que mudar o enfoque acadêmico vigente é como a reforma
> > > > política. Todos sabem que ela é necessária, mas quem tem poder para
> > > > realizá-la são os menos interessados.
> > > >
> > > > Abraço a todos
> > > > André Machado
> > > >
> > > > Em 23/11/10, Carlos Palombini<cpalombini em gmail.com> escreveu:
> > > >
> > > > > É outra possibilidade. Infelizmente, muito pouco na política da Capes e nada 
> > > > > na política do CNPq aponta nesta direção.
> > > > >
> > > > > 2010/11/23 Flavio <flateb em gmail.com>
> > > > >
> > > > >> Pelo visto, pode-se mesmo dizer que nada do que se faz na tal "área
> > > > >> específica" de música presta ( "análises interpretativas",
> > > > >> "instrumentista-pesquisador que nem toca nem faz pesquisa",
> > > > >> "compositor-pesquisador cuja pesquisa é dizer o que quer que seja da
> > > > >> música
> > > > >> que só é ouvida por seus próprios colegas" etc.). Faltou apenas incluir a
> > > > >> categoria de egrégios "pesquisadores" que não tocam, não cantam, não
> > > > >> compõem, não diferenciam uma colcheia de um violão, costumam fugir de sala
> > > > >> de aula e de orientações, mas encontram-se muito bem instalados e pagos
> > > > >> em... Escolas de Música (vejam que coisa!). Enfim, acabemos com esse tipo
> > > > >> também, pessoal, e assim podemos apagar todas as luzes de tão nefasta
> > > > >> área,
> > > > >> entregando os prédios (e principalmente a verba pública que alimenta, por
> > > > >> exemplo, muitas bolsas de pesquisa) para a sociedade fazer de tudo isso um
> > > > >> melhor uso.
> > > > >>
> > > > >>  Flavio Barbeitas.
> > > > >>
> > > > >>
> > > > >> 2010/11/23 Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
> > > > >>
> > > > >> Não, acabamos apenas com a prova de habilidades específicas, o que
> > > > >>> resultará no fim do Conservatório Universitário, e no fim também das
> > > > >>> intermináveis discussões sobre a "especificidade" da área, sobre quantos
> > > > >>> artigos vale um concerto, sobre o número de artigos que substitui uma
> > > > >>> dissertação na pós-graduação em performance, acabamos com as "análises
> > > > >>> interpretativas" e tantos outros males, como o instrumentista-pesquisador
> > > > >>> que nem toca nem faz pesquisa (ou faz de conta que faz, e se publica
> > > > >>> porque
> > > > >>> as revistas precisam de artigos para satisfazer as exigências de
> > > > >>> periodicidade da Capes), com o compositor-pesquisador cuja pesquisa é
> > > > >>> dizer
> > > > >>> o que quer que seja da música que só é ouvida por seus próprios colegas,
> > > > >>> e
> > > > >>> poderemos pensar numa formação adequada e específica para
> > > > >>> instrumentistas,
> > > > >>> compositores, musicólogos, educadores etc. Não seria um benefício?
> > > > >>>
> > > > >>> 2010/11/23 Fernando Pereira Binder <fernandobinder em yahoo.com.br>
> > > > >>>
> > > > >>>> Muito bem,
> > > > >>>>
> > > > >>>> Primeiro acabamos com a prova de habilidades específicas para música.
> > > > >>>> Depois acabamos com a prova geral (português, história, etc...).
> > > > >>>> Daí acabamos com a alfabetização.
> > > > >>>> Re-instituímos a igreja como guardiã do conhecimento ocidental (começada
> > > > >>>> na última eleição).
> > > > >>>> Pronto, voltamos todos à Idade Média em 4 etapas!
> > > > >>>>
> > > > >>>> Fernando Binder
> > > > >>>>
> > > > >>>>  Em 22/11/2010, às 10:07, Carlos Palombini escreveu:
> > > > >>>>
> > > > >>>>
> > > > >>>>
> > > > >>>>  2) Não exigir conhecimentos específicos desvaloriza a Lei 11.769/2008,
> > > > >>>>> uma árdua conquista da área de Música que simboliza sua valorização,
> > > > >>>>> pois
> > > > >>>>> esta é comumente tratada de forma amadora pela sociedade. Atualmente,
> > > > >>>>> há uma
> > > > >>>>> verdadeira "indústria educacional" em torno da Educação Básica, pois
> > > > >>>>> sua
> > > > >>>>> função mais comum é oferecer acesso à Universidade, desvalorizando sua
> > > > >>>>> própria utilidade educacional. Nesse contexto, há o risco de muitos se
> > > > >>>>> perguntarem: "pra que estudar Música se para entrar no Curso de Música
> > > > >>>>> não é
> > > > >>>>> necessário estudar Música?";
> > > > >>>>>
> > > > >>>>
> > > > >>>> Há um erro básico aqui: supor que estudar música seja solfejar, tocar um
> > > > >>>> instrumento (ou cantar), ou compor. Como é isso que a maioria de nossos
> > > > >>>> colegas sabe fazer, esse erro não será democraticamente erradicado. A
> > > > >>>> prova
> > > > >>>> específica tem a função de perpetuá-lo.
> > > > >>>>
> > > > >>>>
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