[ANPPOM-L] RES: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil

Marcos Câmara de Castro mcamara em usp.br
Sáb Mar 26 08:44:19 BRT 2011



Prezados colegas, 

Bernard Lehmann, em seu famoso livro sobre as orquestras francesas, conta que o julgamento de um maestro pelos músicos da orquestra expressa-se também no vocativo: "Monsieur" para um maestro respeitável e "Maestro" quando se quer usar o tom pejorativo. Acho instrutiva essa informação e sugiro a adoção entre os músicos de orquestras brasileiras. 

Marcos 

Citando Mauricio Alves Loureiro <mauricio.alves.loureiro em gmail.com>:

> Prezados músicos desta lista,
>
> Acho que o problema que ainda persiste nas orquestras brasileiras é
> exatamente aquilo que permite os Srs. Maestros, se chamarem de Maestros, e,
> obviamente, exigindo que todos o chamem assim. Talvez seja isso que faz com
> que soe perfeitamente natural essa declaração do Sr. Maestro Minczuk:
> “...ESTOU DANDO oportunidade para os músicos da própria OSB alcançarem
> posições acima das que ocupam hoje”.
>
> Seria mais coerente com a real estrutura funcional de uma orquestra
> sinfônica se aos regentes fossem dado o nome de Sr. Sol, para homenagear
> Luis XVI, em cuja corte essa bizarra instituição foi inventada.
>
> Esses Maestrinhos jovens, que no contexto acadêmico seriam chamados de
> "recém-maestros", chegam a dar saudade da tirania do velho Eleazar de
> Carvalho...
>
> Abraços
>
> Mauricio Loureiro
> (assistente de primeira clarineta e requinta da OSESP Eleazarana)
>
>
>
> De: Aurora Neiva [mailto:auroraneiva em gmail.com]
> Enviada em: domingo, 20 de março de 2011 18:10
> Para: undisclosed-recipients:
> Assunto: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil
>
> Prezados Colegas
>
> Embora seja docente da área de Letras da UFRJ e não de Música, venho
> solicitar que os colegas avaliem a afirmação feita pelo Maestro Minczuk na
> revista Época (ver texto integral abaixo, especialmente trecho em amarelo)
> sobre a qualidade dos cursos de música no Brasil (“Um grande problema do
> Brasil é que nossas escolas não preparam bons músicos, com o nível de que as
> orquestras de excelência precisam”) e o uso indevido que ele está fazendo da
> OSB Jovem, como substituta da OSB profissional, conforme noticiado no
> próprio site oficial da OSB. O Sr. Minczuk, como vocês já devem saber, está
> encabeçando um processo de desintegração e desnacionalização da OSB.
> Como muitos de vocês, fiz meu doutorado no exterior, mas isso não significa
> que todos os estudantes de minha área de atuação só serão bons profissionais
> se também estudarem fora do Brasil.  Muito pelo contrário: foi feito um
> investimento em nossas formações no exterior para que pudéssemos ser
> multiplicadores de excelência em nossas áreas de atuação nas universidades
> do país, tanto nos cursos de pós como nos de graduação. E tenho certeza de
> que estamos fazendo nosso papel muito bem.
>
>  Envio-lhes o link da petição pública contra as ações desse maestro e da
> administração da Fundação OSB. Talvez vocês concordem em se juntar aos 3314
> signatários já existentes:
> http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=OSB2011
>
> Saudações universitárias,
>
> Aurora Neiva
> Professora Associada
> Departamento de Letras Anglo-Germânicas
> Programa Interdisciplinar Linguística Aplicada
> Faculdade de Letras / UFRJ
>
> Artigo da Época
> Roberto Minczuk: "Não existe desafio para os músicos"
> Em meio à revolta de mais da metade da Orquestra Sinfônica Brasileira, o
> regente afirma que só vai tocar na temporada quem for avaliado
> RAFAEL PEREIRA
> A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) é uma das mais tradicionais do país.
> Foi criada há 70 anos por três professores da Escola Nacional de Música para
> ser a principal orquestra do país. Passou por fases gloriosas,
> principalmente sob a batuta do maestro Isaac Karabtchevsky, mas foi
> derrubada pela decadência financeira nos anos 90. A tradição ainda está lá,
> mas há muito deixou de estar entre as melhores. Quando chegou para assumir
> como maestro e diretor artístico, em 2005, Roberto Minczuk encontrou músicos
> com salários baixos e atrasados. Sua missão pessoal foi tirar a OSB do limbo
> artístico, e a fundação privada que administra a orquestra fechou
> patrocínios importantes para tornar isso possível.
> Em cinco anos, os salários dos músicos praticamente triplicaram, e Minczuk
> instituiu uma rotina maior de ensaios e concertos. Justamente quando tudo
> parecia ir bem, os músicos se insurgiram contra seu maestro. O motivo: para
> um novo salto de excelência, todos os quase 90 músicos deveriam ser
> avaliados individualmente, para ajustes técnicos. É uma medida rara,
> normalmente tomada para substituir músicos com rendimento abaixo do
> esperado. Foi o que aconteceu na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
> (Osesp), em 1997. Na ocasião, Minczuk era diretor artístico adjunto da
> Osesp, sob o comando do maestro John Neschling. O fantasma da demissão e a
> falta de participação nas decisões da instituição revoltaram os
> instrumentistas da OSB. “Discordamos do modo autoritário como a
> administração nos trata”, disse Luzer Machtyngier, presidente da comissão de
> músicos.
> Em um primeiro momento, os músicos exigiram mudanças no processo de
> avaliação. O tempo de dois meses de preparo foi considerado insuficiente.
> Além disso, pediram à direção uma reunião para discutir o repertório das
> avaliações. Logo depois, porém, reunidos em assembleia, decidiram não
> participar das audições individuais, realizadas entre os dias 10 e 18 de
> março. A comissão de músicos pediu a suspensão das avaliações, mas o pedido
> foi negado em segunda instância. Mesmo assim, mais da metade dos músicos não
> apareceu para a avaliação, e a situação segue sem solução. O caso virou tema
> internacional nas redes sociais.
> Em entrevista a ÉPOCA, Minczuk disse que os músicos que faltaram estão sendo
> contatados para uma segunda chamada. A temporada de ensaios e concertos da
> OSB começará em agosto, mas o impasse prosseguirá. Na retomada dos
> trabalhos, Minczuk afirma que contará apenas com músicos que passaram pela
> avaliação.
>   ENTREVISTA - ROBERTO MINCZUK  
> QUEM É
> Maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, do Rio de
> Janeiro. Nasceu em São Paulo, em 23 de abril de 1967. Foi trompista prodígio
> e tornou-se profissional aos 14 anos. Foi regenteassociado da Filarmônica de
> Nova Yorke regente adjunto da Osesp, em São Paulo
> O QUE FEZ
> Depois de cinco anos à frente da OSB,exigiu avaliações individuais
> dosmúsicos para o que chamou de “salto dequalidade”, provocando revolta no
> grupo
> ÉPOCA – O senhor esperava tanta reclamação ao exigir avaliações individuais
> de seus músicos? 
> Roberto Minczuk – Estranhei porque, como músico, não faria isso. Não estou
> pedindo isso a troco de nada. A proposta é ter aquilo que sempre se sonhou e
> nunca se teve na OSB. E me dói muito, porque a maior parte das acusações não
> tem fundamento algum.
> ÉPOCA – O que os músicos ganham com isso? 
> Minczuk – Não estamos fazendo avaliações sem dar nada em troca. O piso
> salarial vai aumentar de R$ 6.200 para valores entre R$ 9 mil e R$ 11 mil.
> Atualmente tenho 13 posições abertas na orquestra. Por meio das avaliações,
> estou dando oportunidade para os músicos da própria OSB alcançarem posições
> acima das que ocupam hoje. Um violista que ouvimos nesse processo já foi
> promovido dentro do grupo. Vai ganhar mais, vai sentar mais à frente.
> ÉPOCA – Houve recusa de fazer testes? 
> Minczuk – Houve, e não era facultativo. Teremos um calendário maior, com
> ensaios à tarde – coisa que não existia – e uma exigência de dedicação
> maior. Alguns músicos não têm interesse ou disponibilidade para esse grau de
> dedicação. Nós apresentamos um programa de demissão voluntária para quem não
> estiver de acordo tomar a iniciativa de sair. As audições estão ocorrendo
> bem, mas pouco mais da metade dos músicos não está vindo.
> ÉPOCA – O medo dos músicos é da demissão. Algum músico pode ser demitido se
> não for bem durante a avaliação? 
> Minczuk – As audições não são para demitir ninguém. Nunca foi dito que isso
> aconteceria. Esse receio existe, é claro, porque pessoas já foram demitidas
> no passado recente, mas não é o caso do processo atual. Além disso, as
> avaliações são compostas de repertório que todos já tocaram e têm debaixo
> dos dedos.
> "Alguns não têm instrumento de qualidade superior. Vão ter de comprar"
> ÉPOCA – Quando o senhor demitiu algum músico da OSB? 
> Minczuk – Quando assumi a orquestra, em agosto de 2005, trabalhei 18 meses
> com eles e, depois dessa primeira fase, detectamos que a OSB era muito
> desigual, com músicos muito bons e outros com menos qualidade. Fizemos esse
> ajuste no começo de 2007 e, dos mais de 80 músicos, 14 não estavam aptos
> para acompanhar o crescimento da orquestra.
> ÉPOCA – Como os músicos reagiram? 
> Minczuk – É sempre difícil demitir, e houve muita reclamação, evidentemente.
> Uma foi sobre a falta de avaliações: “Maestro, poderia ter havido uma
> avaliação para essas pessoas antes da decisão”. Foi um dos motivos que me
> levaram a fazer as avaliações atuais, para todos.
> ,
> PROTESTO
> Os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira em protesto que fizeram na
> semana passada contra a decisão do maestro de testá-los
> ÉPOCA – Se as avaliações atuais não são para demitir músicos com baixo
> rendimento, para que servirão?
> Minczuk – Por exemplo, em um naipe de 16 primeiros violinos, precisamos
> ouvir um por um para detectar pequenos problemas rítmicos, de afinação ou
> sonoridade. Precisamos de uma unidade perfeita. Nas avaliações que já
> fizemos, detectamos alguém que tem tendência a uma afinação mais alta, e
> outra pessoa, ao contrário, mais baixa. Em termos de ritmo, alguns são mais
> lentos e outros mais rápidos. Até em relação à sonoridade. Alguns não têm
> instrumento de qualidade superior, para a sonoridade que queremos. Com a
> nova remuneração, essa pessoa terá de investir em um novo instrumento.
> Podemos dar esse retorno ao músico e ajustar esses detalhes, fundamentais
> para o passo de qualidade que queremos. O que mais dá força em uma orquestra
> é essa uniformidade, quando ouvimos várias pessoas tocando como uma só.
> ÉPOCA – A mudança técnica de patamar pode levar a OSB a recuperar o
> prestígio que perdeu no mercado nacional?
> Minczuk – É fundamental para manter uma posição competitiva com outras
> orquestras. Com São Paulo, por exemplo. Para você atrair bons músicos,
> precisa oferecer salários atraentes. Por isso os seguidos aumentos. Se você
> compara nossa agenda com a da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a
> Osesp, temos muito menos ensaios e concertos. Eles ganham mais em São Paulo,
> mas, proporcionalmente ao número de dias trabalhados, os músicos da OSB
> ganham mais. Nossa proposta atual é equiparar os salários com a Osesp.
> Queremos instituir a gratificação por espetáculo, o que vai aumentar sua
> renda e estimular a produtividade.
> ÉPOCA – Os músicos reclamam do pouco tempo que tiveram para se reciclar
> antes das avaliações, de dois meses. É pouco? 
> Minczuk – Para o que pretendemos, não. Na Osesp, foi uma audição para ver
> quem ficaria ou não. Lá também tivemos revolta. Os dois meses de
> antecedência dados aqui foram o período de férias, em janeiro e fevereiro,
> pagos pela orquestra. A questão não é ouvir o músico tocando uma sinfonia de
> Brahms com seis meses de treinamento, porque tocamos uma sinfonia nova toda
> semana. Quero ouvir a realidade, em que toda semana temos de preparar um
> programa de 75 minutos.
> ÉPOCA – A temporada da OSB em 2011 vai começar só com músicos avaliados? 
> Minczuk – Sim. É uma condição da instituição.
> ÉPOCA – O senhor está preparado para uma debandada? 
> Minczuk – Espero que isso seja resolvido da melhor maneira. Ainda mais
> agora, com as audições já acontecendo. Já tivemos hoje um violinista que
> faltou à primeira chamada, mas veio na segunda. Foi uma decisão sábia, e ele
> foi muito bem avaliado, correu tudo bem.
> ÉPOCA – Como o senhor compara a qualidade artística das orquestras
> brasileiras com as grandes orquestras do mundo? 
> Minczuk – Um grande problema do Brasil é que nossas escolas não preparam
> bons músicos, com o nível de que as orquestras de excelência precisam. Temos
> bons professores, mas não existe uma instituição que se compare a um
> conservatório europeu ou americano. Grande parte dos músicos, de qualquer
> orquestra profissional brasileira, aperfeiçoou-se fora do país.
> ÉPOCA – É impossível ser um músico excelente estudando em escolas
> brasileiras? 
> Minczuk – É difícil. Não pela questão técnica. O que distingue o ótimo do
> soberbo são os detalhes, o estilo, a abordagem distinta que precisamos dar a
> compositores diferentes como Mozart ou Tchaikovsky. O que faz a diferença é
> viver em um ambiente onde se dá atenção às nuances. Isso se aprende com
> professores fantásticos e com músicos que te desafiam. Quando eu e meu irmão
> começamos a estudar música na Escola Municipal de Música de São Paulo, eu
> com 9 e ele com 12 anos, estávamos na mesma classe de solfejo. Nós dois
> éramos os únicos com ouvido absoluto na sala de aula, entre mais de 20
> alunos, todos mais velhos. Quando fui estudar na escola Juilliard, nos
> Estados Unidos, na minha classe de solfejo, de 15 alunos, pelo menos dez
> tinham ouvido absoluto. O desafio é constante. No Brasil ainda não existe
> desafio para os músicos clássicos. Existe para os músicos populares. Temos
> os melhores músicos de choro, e todos vêm para o Rio aprender.
> ÉPOCA – É destino dos maestros serem vistos como déspotas? 
> Minczuk – As pessoas gostam da imagem do vilão da novela... Tem gente que
> não me conhece e fala barbaridades sobre mim. O maestro tem essa
> responsabilidade. São 90 músicos, e seguem um comando único. É uma relação
> de amor e ódio que cria uma tensão que faz bem à música. Nosso objeto de
> trabalho é a vida, o desespero, o sublime... É evidente que isso influencia
> o relacionamento. Se essa tensão for canalizada para o lugar certo, ela faz
> bem à grande arte.
> O que os músicos querem
> As reivindicações dos integrantes da Orquestra Sinfônica Brasileira
> Discutir o programa dos concertos com o maestro 
> Os músicos querem participar da escolha das obras a serem tocadas nas
> avaliações. Segundo eles, em nenhum momento foram consultados 
>  
> Mais tempo de ensaio 
> O período de ensaios foi de dois meses, e o tempo de avaliação é de cerca de
> 30 minutos para cada um. Segundo os músicos, é muito pouco 
>  
> Dividir o poder com o maestro 
> Os músicos questionam o poder de Minczuk, que ocupa simultaneamente os dois
> cargos mais importantes da OSB: maestro e diretor artístico. Eles querem
> participação nas decisões de ambas as funções
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-- 
Prof. Dr. Marcos Câmara de Castro
Departamento de Música/FFCLRP
Universidade de São Paulo
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