[ANPPOM-L] RES: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil

Didier Guigue didierguigue em gmail.com
Sáb Mar 26 09:29:16 BRT 2011


Colegas

Não conheço o maestro Minczuk e pouco acompanhei a celeuma em torno da OSB.
Mas enfim, cair em cima de um regente só porque quer realizar audições para
tentar reerguer uma orquestra falida...
Aliás, não vejo nada demais naquela entrevista, e só podemos concordar com o
maestro quando afirma que
"não existe uma instituição que se compare a um
conservatório europeu ou americano."
Pois aquelas instituições se dedicam em tempo integral a formação de
músicos, enquanto as Universidades brasileiras se dedicam em tempo integral
a atender as exigências estatísticas da Capes, a diferença é esta.
(E o modelo de maestro que conhecemos provem do séc. XIX, não XVII).

Abs

Didier

Em 20 de março de 2011 20:47, Mauricio Alves Loureiro <
mauricio.alves.loureiro em gmail.com> escreveu:

> Prezados músicos desta lista,
>
> Acho que o problema que ainda persiste nas orquestras brasileiras é
> exatamente aquilo que permite os Srs. Maestros, se chamarem de Maestros, e,
> obviamente, exigindo que todos o chamem assim. Talvez seja isso que faz com
> que soe perfeitamente natural essa declaração do Sr. Maestro Minczuk:
> “...ESTOU DANDO oportunidade para os músicos da própria OSB alcançarem
> posições acima das que ocupam hoje”.
>
> Seria mais coerente com a real estrutura funcional de uma orquestra
> sinfônica se aos regentes fossem dado o nome de Sr. Sol, para homenagear
> Luis XVI, em cuja corte essa bizarra instituição foi inventada.
>
> Esses Maestrinhos jovens, que no contexto acadêmico seriam chamados de
> "recém-maestros", chegam a dar saudade da tirania do velho Eleazar de
> Carvalho...
>
> Abraços
>
> Mauricio Loureiro
> (assistente de primeira clarineta e requinta da OSESP Eleazarana)
>
>
>
> De: Aurora Neiva [mailto:auroraneiva em gmail.com]
> Enviada em: domingo, 20 de março de 2011 18:10
> Para: undisclosed-recipients:
> Assunto: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil
>
> Prezados Colegas
>
> Embora seja docente da área de Letras da UFRJ e não de Música, venho
> solicitar que os colegas avaliem a afirmação feita pelo Maestro Minczuk na
> revista Época (ver texto integral abaixo, especialmente trecho em amarelo)
> sobre a qualidade dos cursos de música no Brasil (“Um grande problema do
> Brasil é que nossas escolas não preparam bons músicos, com o nível de que
> as
> orquestras de excelência precisam”) e o uso indevido que ele está fazendo
> da
> OSB Jovem, como substituta da OSB profissional, conforme noticiado no
> próprio site oficial da OSB. O Sr. Minczuk, como vocês já devem saber, está
> encabeçando um processo de desintegração e desnacionalização da OSB.
> Como muitos de vocês, fiz meu doutorado no exterior, mas isso não significa
> que todos os estudantes de minha área de atuação só serão bons
> profissionais
> se também estudarem fora do Brasil.  Muito pelo contrário: foi feito um
> investimento em nossas formações no exterior para que pudéssemos ser
> multiplicadores de excelência em nossas áreas de atuação nas universidades
> do país, tanto nos cursos de pós como nos de graduação. E tenho certeza de
> que estamos fazendo nosso papel muito bem.
>
>  Envio-lhes o link da petição pública contra as ações desse maestro e da
> administração da Fundação OSB. Talvez vocês concordem em se juntar aos 3314
> signatários já existentes:
> http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=OSB2011
>
> Saudações universitárias,
>
> Aurora Neiva
> Professora Associada
> Departamento de Letras Anglo-Germânicas
> Programa Interdisciplinar Linguística Aplicada
> Faculdade de Letras / UFRJ
>
> Artigo da Época
> Roberto Minczuk: "Não existe desafio para os músicos"
> Em meio à revolta de mais da metade da Orquestra Sinfônica Brasileira, o
> regente afirma que só vai tocar na temporada quem for avaliado
> RAFAEL PEREIRA
> A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) é uma das mais tradicionais do país.
> Foi criada há 70 anos por três professores da Escola Nacional de Música
> para
> ser a principal orquestra do país. Passou por fases gloriosas,
> principalmente sob a batuta do maestro Isaac Karabtchevsky, mas foi
> derrubada pela decadência financeira nos anos 90. A tradição ainda está lá,
> mas há muito deixou de estar entre as melhores. Quando chegou para assumir
> como maestro e diretor artístico, em 2005, Roberto Minczuk encontrou
> músicos
> com salários baixos e atrasados. Sua missão pessoal foi tirar a OSB do
> limbo
> artístico, e a fundação privada que administra a orquestra fechou
> patrocínios importantes para tornar isso possível.
> Em cinco anos, os salários dos músicos praticamente triplicaram, e Minczuk
> instituiu uma rotina maior de ensaios e concertos. Justamente quando tudo
> parecia ir bem, os músicos se insurgiram contra seu maestro. O motivo: para
> um novo salto de excelência, todos os quase 90 músicos deveriam ser
> avaliados individualmente, para ajustes técnicos. É uma medida rara,
> normalmente tomada para substituir músicos com rendimento abaixo do
> esperado. Foi o que aconteceu na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
> (Osesp), em 1997. Na ocasião, Minczuk era diretor artístico adjunto da
> Osesp, sob o comando do maestro John Neschling. O fantasma da demissão e a
> falta de participação nas decisões da instituição revoltaram os
> instrumentistas da OSB. “Discordamos do modo autoritário como a
> administração nos trata”, disse Luzer Machtyngier, presidente da comissão
> de
> músicos.
> Em um primeiro momento, os músicos exigiram mudanças no processo de
> avaliação. O tempo de dois meses de preparo foi considerado insuficiente.
> Além disso, pediram à direção uma reunião para discutir o repertório das
> avaliações. Logo depois, porém, reunidos em assembleia, decidiram não
> participar das audições individuais, realizadas entre os dias 10 e 18 de
> março. A comissão de músicos pediu a suspensão das avaliações, mas o pedido
> foi negado em segunda instância. Mesmo assim, mais da metade dos músicos
> não
> apareceu para a avaliação, e a situação segue sem solução. O caso virou
> tema
> internacional nas redes sociais.
> Em entrevista a ÉPOCA, Minczuk disse que os músicos que faltaram estão
> sendo
> contatados para uma segunda chamada. A temporada de ensaios e concertos da
> OSB começará em agosto, mas o impasse prosseguirá. Na retomada dos
> trabalhos, Minczuk afirma que contará apenas com músicos que passaram pela
> avaliação.
>   ENTREVISTA - ROBERTO MINCZUK
> QUEM É
> Maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, do Rio de
> Janeiro. Nasceu em São Paulo, em 23 de abril de 1967. Foi trompista
> prodígio
> e tornou-se profissional aos 14 anos. Foi regenteassociado da Filarmônica
> de
> Nova Yorke regente adjunto da Osesp, em São Paulo
> O QUE FEZ
> Depois de cinco anos à frente da OSB,exigiu avaliações individuais
> dosmúsicos para o que chamou de “salto dequalidade”, provocando revolta no
> grupo
> ÉPOCA – O senhor esperava tanta reclamação ao exigir avaliações individuais
> de seus músicos?
> Roberto Minczuk – Estranhei porque, como músico, não faria isso. Não estou
> pedindo isso a troco de nada. A proposta é ter aquilo que sempre se sonhou
> e
> nunca se teve na OSB. E me dói muito, porque a maior parte das acusações
> não
> tem fundamento algum.
> ÉPOCA – O que os músicos ganham com isso?
> Minczuk – Não estamos fazendo avaliações sem dar nada em troca. O piso
> salarial vai aumentar de R$ 6.200 para valores entre R$ 9 mil e R$ 11 mil.
> Atualmente tenho 13 posições abertas na orquestra. Por meio das avaliações,
> estou dando oportunidade para os músicos da própria OSB alcançarem posições
> acima das que ocupam hoje. Um violista que ouvimos nesse processo já foi
> promovido dentro do grupo. Vai ganhar mais, vai sentar mais à frente.
> ÉPOCA – Houve recusa de fazer testes?
> Minczuk – Houve, e não era facultativo. Teremos um calendário maior, com
> ensaios à tarde – coisa que não existia – e uma exigência de dedicação
> maior. Alguns músicos não têm interesse ou disponibilidade para esse grau
> de
> dedicação. Nós apresentamos um programa de demissão voluntária para quem
> não
> estiver de acordo tomar a iniciativa de sair. As audições estão ocorrendo
> bem, mas pouco mais da metade dos músicos não está vindo.
> ÉPOCA – O medo dos músicos é da demissão. Algum músico pode ser demitido se
> não for bem durante a avaliação?
> Minczuk – As audições não são para demitir ninguém. Nunca foi dito que isso
> aconteceria. Esse receio existe, é claro, porque pessoas já foram demitidas
> no passado recente, mas não é o caso do processo atual. Além disso, as
> avaliações são compostas de repertório que todos já tocaram e têm debaixo
> dos dedos.
> "Alguns não têm instrumento de qualidade superior. Vão ter de comprar"
> ÉPOCA – Quando o senhor demitiu algum músico da OSB?
> Minczuk – Quando assumi a orquestra, em agosto de 2005, trabalhei 18 meses
> com eles e, depois dessa primeira fase, detectamos que a OSB era muito
> desigual, com músicos muito bons e outros com menos qualidade. Fizemos esse
> ajuste no começo de 2007 e, dos mais de 80 músicos, 14 não estavam aptos
> para acompanhar o crescimento da orquestra.
> ÉPOCA – Como os músicos reagiram?
> Minczuk – É sempre difícil demitir, e houve muita reclamação,
> evidentemente.
> Uma foi sobre a falta de avaliações: “Maestro, poderia ter havido uma
> avaliação para essas pessoas antes da decisão”. Foi um dos motivos que me
> levaram a fazer as avaliações atuais, para todos.
> ,
> PROTESTO
> Os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira em protesto que fizeram na
> semana passada contra a decisão do maestro de testá-los
> ÉPOCA – Se as avaliações atuais não são para demitir músicos com baixo
> rendimento, para que servirão?
> Minczuk – Por exemplo, em um naipe de 16 primeiros violinos, precisamos
> ouvir um por um para detectar pequenos problemas rítmicos, de afinação ou
> sonoridade. Precisamos de uma unidade perfeita. Nas avaliações que já
> fizemos, detectamos alguém que tem tendência a uma afinação mais alta, e
> outra pessoa, ao contrário, mais baixa. Em termos de ritmo, alguns são mais
> lentos e outros mais rápidos. Até em relação à sonoridade. Alguns não têm
> instrumento de qualidade superior, para a sonoridade que queremos. Com a
> nova remuneração, essa pessoa terá de investir em um novo instrumento.
> Podemos dar esse retorno ao músico e ajustar esses detalhes, fundamentais
> para o passo de qualidade que queremos. O que mais dá força em uma
> orquestra
> é essa uniformidade, quando ouvimos várias pessoas tocando como uma só.
> ÉPOCA – A mudança técnica de patamar pode levar a OSB a recuperar o
> prestígio que perdeu no mercado nacional?
> Minczuk – É fundamental para manter uma posição competitiva com outras
> orquestras. Com São Paulo, por exemplo. Para você atrair bons músicos,
> precisa oferecer salários atraentes. Por isso os seguidos aumentos. Se você
> compara nossa agenda com a da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a
> Osesp, temos muito menos ensaios e concertos. Eles ganham mais em São
> Paulo,
> mas, proporcionalmente ao número de dias trabalhados, os músicos da OSB
> ganham mais. Nossa proposta atual é equiparar os salários com a Osesp.
> Queremos instituir a gratificação por espetáculo, o que vai aumentar sua
> renda e estimular a produtividade.
> ÉPOCA – Os músicos reclamam do pouco tempo que tiveram para se reciclar
> antes das avaliações, de dois meses. É pouco?
> Minczuk – Para o que pretendemos, não. Na Osesp, foi uma audição para ver
> quem ficaria ou não. Lá também tivemos revolta. Os dois meses de
> antecedência dados aqui foram o período de férias, em janeiro e fevereiro,
> pagos pela orquestra. A questão não é ouvir o músico tocando uma sinfonia
> de
> Brahms com seis meses de treinamento, porque tocamos uma sinfonia nova toda
> semana. Quero ouvir a realidade, em que toda semana temos de preparar um
> programa de 75 minutos.
> ÉPOCA – A temporada da OSB em 2011 vai começar só com músicos avaliados?
> Minczuk – Sim. É uma condição da instituição.
> ÉPOCA – O senhor está preparado para uma debandada?
> Minczuk – Espero que isso seja resolvido da melhor maneira. Ainda mais
> agora, com as audições já acontecendo. Já tivemos hoje um violinista que
> faltou à primeira chamada, mas veio na segunda. Foi uma decisão sábia, e
> ele
> foi muito bem avaliado, correu tudo bem.
> ÉPOCA – Como o senhor compara a qualidade artística das orquestras
> brasileiras com as grandes orquestras do mundo?
> Minczuk – Um grande problema do Brasil é que nossas escolas não preparam
> bons músicos, com o nível de que as orquestras de excelência precisam.
> Temos
> bons professores, mas não existe uma instituição que se compare a um
> conservatório europeu ou americano. Grande parte dos músicos, de qualquer
> orquestra profissional brasileira, aperfeiçoou-se fora do país.
> ÉPOCA – É impossível ser um músico excelente estudando em escolas
> brasileiras?
> Minczuk – É difícil. Não pela questão técnica. O que distingue o ótimo do
> soberbo são os detalhes, o estilo, a abordagem distinta que precisamos dar
> a
> compositores diferentes como Mozart ou Tchaikovsky. O que faz a diferença é
> viver em um ambiente onde se dá atenção às nuances. Isso se aprende com
> professores fantásticos e com músicos que te desafiam. Quando eu e meu
> irmão
> começamos a estudar música na Escola Municipal de Música de São Paulo, eu
> com 9 e ele com 12 anos, estávamos na mesma classe de solfejo. Nós dois
> éramos os únicos com ouvido absoluto na sala de aula, entre mais de 20
> alunos, todos mais velhos. Quando fui estudar na escola Juilliard, nos
> Estados Unidos, na minha classe de solfejo, de 15 alunos, pelo menos dez
> tinham ouvido absoluto. O desafio é constante. No Brasil ainda não existe
> desafio para os músicos clássicos. Existe para os músicos populares. Temos
> os melhores músicos de choro, e todos vêm para o Rio aprender.
> ÉPOCA – É destino dos maestros serem vistos como déspotas?
> Minczuk – As pessoas gostam da imagem do vilão da novela... Tem gente que
> não me conhece e fala barbaridades sobre mim. O maestro tem essa
> responsabilidade. São 90 músicos, e seguem um comando único. É uma relação
> de amor e ódio que cria uma tensão que faz bem à música. Nosso objeto de
> trabalho é a vida, o desespero, o sublime... É evidente que isso influencia
> o relacionamento. Se essa tensão for canalizada para o lugar certo, ela faz
> bem à grande arte.
> O que os músicos querem
> As reivindicações dos integrantes da Orquestra Sinfônica Brasileira
> Discutir o programa dos concertos com o maestro
> Os músicos querem participar da escolha das obras a serem tocadas nas
> avaliações. Segundo eles, em nenhum momento foram consultados
>
> Mais tempo de ensaio
> O período de ensaios foi de dois meses, e o tempo de avaliação é de cerca
> de
> 30 minutos para cada um. Segundo os músicos, é muito pouco
>
> Dividir o poder com o maestro
> Os músicos questionam o poder de Minczuk, que ocupa simultaneamente os dois
> cargos mais importantes da OSB: maestro e diretor artístico. Eles querem
> participação nas decisões de ambas as funções
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Didier Guigue
UFPB--Departamento de Música
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