[ANPPOM-L] Artigo de JORGE ANTUNES

Jorge Antunes antunes em unb.br
Ter Set 13 23:23:22 BRT 2011


Aos colegas músicos:

Peço que leiam o meu novo artigo, reproduzido abaixo, e que o divulguem às
outras listas de músicos.
O artigo foi publicado hoje na revista eletrônica *O Miraculoso*.
http://www.miraculoso.com.br/index.php/pt/noticias-do-brasil/140-a-invisibilidade-da-jogatina-e-do-comunismo-malgre-dona-santinha.html
Podem reproduzir e republicar.
Se gostarem da ideia lançada no artigo, talvez os músicos pudéssemos fazer
um movimento nacional.
Obrigado,
abraço,
Jorge Antunes


*Dinheiro para a Saúde: de onde tirar?*

*Jorge Antunes*
*maestro, compositor, pesquisador do CNPq, pesquisador sênior da UnB*

    Para o baile de minha formatura no Colégio Pedro II, em 1960, a vaquinha
feita entre os estudantes deu, milagrosamente, para contratar a Orquestra de
Waldir Calmon. Que sonoridade especial! O solovox, instrumento único no
Brasil, encantava as moçoilas e os rapazes do colégio padrão.
    Waldir Calmon se consagrou a partir de 1944, trabalhando e dando emprego
a muitos músicos, tocando no Cassino Atlântico, de Santos, e no Cassino
Copacabana no Rio. Com o fechamento dos cassinos em 1946, a vida começou a
ficar difícil para os músicos.
    O maestro Guerra Peixe em 1938 recebeu convite do Cassino Atlântico, de
Petrópolis, para tocar como pianista. Adaptando-se perfeitamente ao estilo
do crooner Moreira da Silva, consagrou-se como grande orquestrador fazendo
arranjos para a orquestra daquela casa de jogos. Guerra Peixe, por indicação
de Vicente Paiva, em 1939, foi trabalhar como violinista na orquestra do
Cassino Icarahy, participando também da Orquestra Típica Argentina que
animava o Grill do famoso cassino. Com o fechamento dos cassinos em 1946, a
vida começou a ficar difícil para ele e para todos os outros músicos.
    Mário Zan conheceu, em 1940, o diretor do Cassino Atlântico, o polonês
Ziembinsky. Este gostou muito do trabalho do jovem acordeonista, mas
determinou que Mário não tocaria no Cassino Atlântico sentado. O experiente
homem de teatro pressentiu a beleza comunicativa das performances de Mário
Zan. Com o fechamento dos cassinos em 1946, a vida de todos os acordeonistas
começou a ficar difícil.
    O grande clarinetista Abel Ferreira teve as influências de todo menino
de interior: a bandinha do coreto, as orquestras de baile, o rádio. Em 1935
decidiu viver de música. Em 1943 se fixou no Rio de Janeiro, tocando no
famoso Cassino da Urca. Com o fechamento dos cassinos três anos depois, sua
vida começou a ficar difícil.
    Em 1919 Pixinguinha fez, com seu conjunto, uma turnê por São Paulo,
Minas Gerais, Paraná, Bahia e Pernambuco. De volta ao Rio em 1921, o grupo
começou a tocar no Cassino Assírio, no subsolo do Teatro Municipal. Foi ai
que Pixinguinha conheceu o milionário Arnaldo Guinle, que se apaixonou pelos
músicos e bancou  para eles uma  temporada em Paris. Com o fechamento dos
cassinos em 1946, os músicos assistiram perplexos à arrasadora diminuição do
mercado de trabalho.
    Identificamos um único culpado para aquele desastre que foi a proibição
dos jogos de sorte no Brasil. Aliás, uma culpada: Dona Santinha. Foi ela, a
Sra. Carmela Leite Dutra, mulher do Presidente Dutra, que exigiu do marido a
assinatura do decreto-lei 9215, de 30 de abril de 1946, que fechou os
cassinos de todo o Brasil.
    Aqueles lugares luxuosos, em que se apresentavam grandes espetáculos
artísticos, eram, segundo Dona Santinha, meros “antros do pecado”. A
católica fervorosa, carola de carteirinha, não ficou por aí em suas
exigências. A primeira dama pediu também que se extinguisse o Partido
Comunista Brasileiro. Seu desejo veio a ser atendido um ano depois. Em 7 de
maio de 1947, por decisão do STF, o PCB foi colocado na ilegalidade.
    Mais adiante, na ditadura dos anos de chumbo, os governos passaram a
arrecadar impostos com a jogatina acessível às míseras economias do nosso
povo. Tudo começou com a loteria esportiva. Depois vieram os mais variados
joguinhos, encastelados nas lotéricas, que sugam a pobre economia popular.
    Neste momento em que, preocupados com a precariedade da Saúde, algumas
autoridades admitem a criação de um novo imposto, acho que seria oportuno
colocar-se em pauta a discussão sobre a legalização dos cassinos.
    Sabemos que dinheiro para a Saúde, para a Educação, para a Segurança, é
coisa que não falta. Mas ele é desviado para o pagamento dos juros de
dívidas já pagas e para as cuecas e as meias da podridão que ronda as
chamadas “casas do povo”.
    Em junho deste ano estive em Buenos Aires, como convidado do Festival
Resonancias de la Modernidad. Fiquei impressionado com a quantidade de
brasileiros que estavam no mesmo hotel em que fiquei. Tomei coragem para
perguntar a um casal a razão da presença de tantos brasileiros. A razão era
o Cassino Puerto Madero. Milhares de brasileiros se deslocam até lá a cada
ano, para evadir fortunas brasileiras. Aquelas mesmas grandes fortunas, que
de acordo com a Presidenta Dilma não devem ser tributadas, escorrem para as
burras hermanas a todo tempo.
    Urge reabrir os cassinos cujos impostos vultosos, se bem  fiscalizados,
poderão atender as necessidades básicas de Saúde e Educação de nossa gente.
Os cassinos, além disso, ampliariam o mercado do turismo e abririam novas e
inúmeras vagas de trabalho direto e indireto.
-------------- Próxima Parte ----------
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