[ANPPOM-L] artigo: teses

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Seg Set 26 11:57:45 BRT 2011


Caro Marcos, Maestro, 

  Também aprovo a proposta, por irrisória que seja a economia de textos frente verso face a grande indústria do desmatamento, a academia precisa se envolver na questão, já seria algo.
   Agora, a sugestão de que os trabalhos não deveriam ser escritos me arrepia. Vou procurar conhecer esse Flusser, mas proponho pensar no seguinte: o formato substituído não substitui uma forma particular de pensamento? 
   Nunca se prescindiu de imagens para desenvolver idéias, a iconografia medieval atesta isso, qual é a novidade da imagem para construção do conhecimento? Profetizar ou defender a exclusividade de uma forma de pensar, seja a da leitura, da audição ou da visão de imagens me parece a defesa de uma miopia. O que falta são mais formas de intermediação conceitual com o mundo, não menos. 
   Espero que sua filha navegue feliz e contente entre um mar de teses volumosas (impressas ou online), depois de curtir um cinema mudo preto e branco e 3d com o namorado, e antes de aproveitar a linda imagem de um por do sol ao lado do carinhoso papai!
Abraço a todos, 

Luciano


--- Em dom, 25/9/11, Marcos Filho <marcosfilhomusica em yahoo.com.br> escreveu:

De: Marcos Filho <marcosfilhomusica em yahoo.com.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-L] artigo: teses
Para: "Anppom" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Domingo, 25 de Setembro de 2011, 21:43



Muito boa a ideia do artigo arbóreo escrito pelo Prof. Jorge Antunes. Gostei da forma bem humorada e crítica com que o autor conduz esse tema que é pouco lembrado, apesar da sua importancia . Concordo também com o MC. Vivendo na era dos tablets, até a impressão do outro lado da folha deixa de fazer sentido. Se é para poupa-las, então os textos acadêmicos não deveriam nem ser impressos. Ou, para dialogar com um autor que estou conhecendo recentemente, os textos acadêmicos não deveriam nem mesmo serem escritos. Vilém Flusser, teórico da técnica e da
 fotografia, já profetizava na década de 1970 acerca do fim da escrita e a substituição para uma cultura essencialmente imagética.
Acho que a renovação virá não só pela questão ambiental, mas também pelo próprio esgotamento dos formatos em vigor. Tenho muita esperança de que as essas novas gerações (Y, Z, ZZ, entre outras) construam procedimentos diferentes de produção e registro do conhecimento científico [não consigo imaginar nem a minha filha de 8 anos, que adora ler, escrevendo e lendo uma tese acadêmica de 600 paginas]. Muita coisa já vem sendo feita, sobretudo no MIT, mas tendo em vista o panorama demonstrado pelo Prof. Antunes na micro análise da UnB, ainda estamos longe. Talvez imprimindo do outro lado da folha, já seja um
 começo de renovação. Sutil. Mas um começo necessário. 
Só uma pergunta, prof. Antunes: O artigo será publicado em frente e verso ?
Um abraço forte,
 Marcos Filho

Professor Assistente - Departamento de Música (DMUSI)
Universidade Federal de São João del-Rei, UFSJ
Doutorando em História, UFMG

marcosfilhomusica em yahoo.com.br
myspace/marcosfilho
@marcosfilho_
(31) 3327-8339
(31) 9376-8339
De: Marcelo Coelho <muzikness em gmail.com>
Para: Jorge Antunes <antunes em unb.br>
Cc: ANPPOM-L <anppom-l em iar.unicamp.br>
Enviadas: Sábado, 24 de Setembro de 2011 17:32
Assunto: Re: [ANPPOM-L] artigo: teses

De acordo com o prof. Dr. da FGV de SP Samy Dana, várias universidades americanas (a FGV inclusive) estão digitalizando as suas bibliotecas.
 Os livros (que serão guardados em locais apropriados) darão espaço a um imenso salão com recursos digitais perfeitamente adaptados para consultas e reuniões. E as teses e dissertações em papel, independente da utilização de ambos os lados da folha? Não será o momento de nos adequarmos ao futuro que já se faz presente, ou deixaremos esta tarefa para a futura geração que já não se identifica com as enormes estantes carregadas de sumos da celulose?
MC
Enviado via iPhone
Em 24/09/2011, às 11:44, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:

Caros e caras colegas da
 Anppom:

Abaixo reproduzo meu novo artigo, que será publicado na revista O Miraculoso e no Correio Braziliense.
Ele aborda questão da prática acadêmica, que concerne a todos nós.

Gostaria de receber opiniões sobre a análise e a proposta colocadas no texto.
Obrigado,
Jorge Antunes



As Universidades promovem o desmatamento



Jorge Antunes 



            Com quantos
paus se faz uma canoa? Eta, perguntinha difícil de ser respondida! Mas existe
outra pergunta mais difícil ainda: com quantos paus se faz uma resma de papel?
Essa pergunta parece um tanto quanto vaga. Sejamos mais objetivos: quantas resmas
de papel A4 são fabricadas com uma árvore?



            Existem
outras perguntas, sobre o mesmo assunto, que deveriam ser feitas
permanentemente nas Universidades. Uma delas: quantas folhas de papel são
gastas anualmente para serem impressas dissertações e teses? Outra: quantas
árvores devem ser derrubadas anualmente para que possam ser impressas as
dissertações e teses produzidas na Academia? 

            Enfim,
podemos formular a pergunta definitiva: quantas folhas de papel podem ser
produzidas de uma árvore? Não é impossível responder essa pergunta. Para
respondê-la, seria necessário inicialmente esclarecer qual árvore será
derrubada. Será um abeto? Será uma araucária? 

            No Brasil o
papel é feito, às vezes, de pinus eliotti e, menos frequentemente, de pinus taeda.
Mas as árvores predominantemente usadas são o eucalipto e o pinheiro.

            Um pinheiro
tem, em média, 30 cm de diâmetro e 18 metros de altura. Cálculos simples nos
levam a concluir que um pinheiro nos fornece cerca de 13.346 metros cúbicos de
madeira. Outra experiência simples, de pesagem, nos permite verificar que um pinheiro
pesa cerca de 646 quilogramas.

            Mas, como
cerca de 50% da árvore são formados de nódulos e de outras substâncias que não
servem para fabricar papel, temos que apenas metade de sua madeira pode ser
transformada em polpa útil. Isso quer dizer que de um pinheiro podemos produzir
cerca de 323 kg de papel.

            Uma resma
de papel A4 pesa, mais ou menos, 2,27 kg. Usando todos os dados podemos
concluir que com uma árvore podemos fabricar, aproximadamente, 71.145 folhas de
papel.

            Embora o
papel da Universidade, no Brasil, ainda não tenha sido definido claramente,
sabemos muito bem que o papel, na Universidade, é um dos insumos mais usados. Evidentemente,
uma tese pode ter 600 páginas. Mas isso não é comum. Na prática verificamos que
as teses ficam, em média, com cerca de 300 páginas. Os regulamentos e normas
das Universidades determinam que as dissertações de Mestrado devem ser
impressas com uma tiragem de 11 exemplares e que as teses de Doutorado devem
ter tiragem de 15 exemplares.

            Outra norma
acadêmica estabelece que os exemplares a serem encaminhados para a banca
examinadora devem ter o texto impresso em um só lado da folha, para que o
verso, em branco, possa ser usado pelo examinador para escrever suas
observações.

            Chegamos a
um dos busílis das manias acadêmicas. Quando manuseamos uma tese que passou
pelas mãos de um membro de alguma banca examinadora, verificamos que
pouquíssimas folhas, em seu verso, têm observações manuscritas. Essas anotações
poderiam, quase sempre, ocupar uma única folha de papel à parte.

            Faltam
estatísticas quanto à quantidade de dissertações e teses produzidas por ano nas
Universidades brasileiras. Aqui mesmo em casa, em nossa UnB, não contamos com
relatórios que divulguem a quantidade de trabalhos produzidos por ano. Para se
ter uma idéia por alto, seria necessário garimpar cada Departamento, cada
Instituto e Faculdade. Mas sabemos que a Faculdade de Comunicação produziu, em
2010, 22 teses e dissertações. No ano de 2010 a Pós-Graduação em Estruturas e
Construção Civil produziu 14 teses. No Departamento de Matemática foram
defendidas 12 teses e dissertações. Da Ceppac, em 2010, saíram 11 teses e no
Centro de Desenvolvimento Sustentável foram defendidas 10 teses e dissertações.

            Como a
Universidade de Brasília conta com 66 cursos de mestrado e 45 de doutorado, numa
projeção feita a grosso modo podemos concluir que em 2010 a UnB produziu mais
de mil teses e dissertações.

            Voltemos à
nossa aula de “matemática arborística”. Como exercício para casa, deixamos ao
leitor os cálculos finais para descobrirmos quantas árvores a UnB, sozinha, faz
com que sejam derrubadas por ano.

            Uma árvore
serve para a fabricação de 71 mil folhas. Com a produção de mil teses, cada uma
com 300 folhas e publicada com 13 exemplares, facilmente concluiremos que a UnB
provoca a derrubada de 56 árvores por ano.

            Enfim,
deixo aqui a proposta de se empreender uma campanha no sentido de que as
Universidades não mais permitam a produção de teses com seus textos impressos
em apenas um lado da folha. Que passe a ser obrigatória a apresentação de teses
com suas folhas impressas em frente e verso. Metade de nossas árvores seria
poupada.




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