[ANPPOM-Lista] Polarização das áreas do conhecimento na Universidade

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Qui Dez 27 14:46:48 BRST 2012


Caros colegas,

O prof. José Mannis tocou em outro assunto muito importante para discussão: a valorização de áreas do conhecimento específicas dentro da Universidade.

Já basta a supervalorização que a sociedade brasileira dá pra áreas como Medicina, Engenharia e Direito; a Universidade tem (ou deveria ter) o papel transformador de reforçar a importância de cada área e dar o exemplo à sociedade. Mas ao invés disso, vê-se que ela é na verdade uma mera reprodução das práticas que já existem.

As áreas de Artes então, estas são sempre o "patinho feio": só dão gastos e sua produção não visa à aplicação imediata em massa. Não existe nenhum tipo de incentivo à produção artística se ela não estiver vinculada ou adequada a projetos de pesquisa ou extensão (creio que deveria haver um tipo de projeto específico voltado à produção artística, legalmente institucionalizado). E fora da Universidade, a produção artística tem que se adequar aos padrões de mercado, com nossas geniais "Leis de Incentivo" (ou seja: os artistas não merecem uma política cultural digna; tem de viver de "incentivo" ou caridade das empresas). Se não houver resistência, daqui a 50 anos o país será feito de Micheis Teló e de "estudiosos acadêmicos da Música".

 Tem um ditado que um de nossos alunos criou, sabiamente: "a sociedade pensa que o músico é uma prostituta: tem que viver para dar prazer aos outros".


Daniel Cerqueira
http://musica.ufma.br


--- Em qua, 26/12/12, jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br> escreveu:

De: jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br>
Assunto: [ANPPOM-Lista] Posição de docentes quanto às politicas de cotas
Para: "'ANPPOM'" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Quarta-feira, 26 de Dezembro de 2012, 15:26


    O editorial desta data (26/12/2012) OESP, especificamente “Cotas nas universidades paulistas”, cita posição de colegiados e de ‘vários docentes’ das universidades estaduais paulistas de uma maneira que me causou estranhamento.    Cito excerto: “.../ Historicamente, os órgãos colegiados da USP, Unicamp e Unesp sempre foram contrários à adoção de políticas de cotas nos vestibulares, alegando que elas distorcem os resultados dos exames, comprometem o princípio de mérito e colocam em salas de aula alunos despreparados.  Vários docentes receberam com reservas esse programa de inclusão social. Serão decisivas as reuniões das congregações das faculdades mais importantes, como as de Medicina, Direito e Engenharia. /...”  Sou membro de vários colegiados em minha universidade, em vários niveis, e tenho claro em minha memória que em todas as oportunidades em que ocorreu a discussão a respeito de cotas para ingresso na
 universidade, o principal motivo de questionamento era o de estar implementando um procedimento para remediar um problema sem sanar sua causa. ‘Colocar alunos despreparados em salas de aula’ é uma das consequências disso, mas não algo a ser observado e tratado em si e de forma restrita, senão visto num contexto amplo diante de uma situação complexa.   ‘Comprometer o princípio de mérito’ e ‘distorcer os resultados do exame de vestibular’ são alegações que podem até ter ocorrido, mas são irrelevantes em relação ao eixo de pensamento, uma vez que o cerne da questão, sempre bem aceito por todos, era ‘buscar uma solução para combater uma desigualdade e uma injustiça’.   Em todos os debates foi unânime a aprovação de que uma educação fortalecida pela revitalização das escolas públicas nos níveis fundamental e médio teria um impacto marcante e decisivo sobre essa exclusão que se busca combater. Sempre perguntamos
 onde está o compromisso do estado (em nível federal, estadual e municipal) que deveria cumprir as metas estabelecidas quanto ao percentual orçamentário dedicado à educação. Se fossem de fato cumpridos, de forma responsável e eficiente, a desigualdade não estaria na situação em que se encontra atualmente.  O que os colegiados e os membros da comunidade acadêmica desejam, não é que a prova seletiva que elaboram seja aplicada exibindo sua elegância e a consistência de seus métodos. O que zelamos sempre em nosso método de trabalho é que antes de adotar e aplicar um procedimento, este deve ser suficiente e consistentemente testado e validado. Em políticas públicas esse rigor seria uma prevenção para que, com o tempo, grandes soluções anunciadas com alarde não se revelem ineficientes, senão inócuas.  Se temos alunos na sala de aula com dois níveis de preparação distintos, isso poderia até ser trabalhado. Temos condições e
 potencial criativo para encontrar soluções. Mas não queremos sair precipitadamente empurrando o caminhão, antes de ter certeza de que o motor dele de fato não pode funcionar, ou que pelo menos o freio de mão seja solto. Queremos que, antes disso, as obrigações do estado (Federação, Estado e Município) sejam cumpridas. No costume dos índios, o cacique era o primeiro a se levantar e a realizar a tarefa árdua que ninguém queria fazer. Depois dele, todos se erguiam e se punham a trabalhar.    Por outro lado, como docente e pesquisador, nunca ousaria dizer que uma área do conhecimento pudesse ser mais importante do que outra. Simplesmente porque o universo, com sua estrutura e seus fenômenos, segue seu curso normal, independentemente da taxonomia que os homens inventaram para vê- lo, entendê-lo e explicá-lo, da mesma forma como aves, mamíferos, anfíbios, insetos, plantas e demais formas de vida seguem vivendo, se reproduzindo e
 evoluindo à revelia das frequentes e rápidas variações das classificações que lhes aplicam.   José Augusto Mannis (docente Instituto de Artes, Depto. de Música, Unicamp)          _____________________________________  Prof. Dr. José Augusto MannisUniversidade Estadual de Campinas - UnicampInstituto de ArtesDepto. de Músicajamannis em uol.com.br+55 (19) 8116-3160 RID: B-9522-2012ORCID: 0000-0002-9484-5674  
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