[ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

Ale Fenerich fenerich em gmail.com
Ter Jun 19 10:03:53 BRT 2012


Rodolfo!


Sua colocação aqui é um oásis pertinente. Vinha até aqui acompanhando a
discussão um pouco estupefato com os argumentos... Concordo contigo: a
criação, em ambos os campos, está na tensão entre arte e ciência, entre
criação artística e acadêmica, entre explosiva falta de rigor metodológico
(e rigor expressivo) e método científifico, entre experiências telúricas
regadas a vinho e escuta (uma festa noise, um baile funk) e uma palestra
solidamente fundamentada.

Acredito  mais na potência das gigs improvisadas/improvisatórias num Plano
B que numa estréia na Sala São Paulo, prenha de sua pompa psdbista (nada
mais arcaico, já que a esquerda hoje virou direita, envelheceu). Muito mais
impacto social, didático e estético. (Espero não estar sendo exagerado: é
minha opinião sincera).

Já toquei em salas de concerto na Europa (a sala da DDK em Colônia, por
exemplo) que me trouxeram o quê? um ponto no lattes, alguma grana, a fama
patética de ter tocado ali, e mais nada... já as vezes que eu toquei no
Parque Lage, no Plano B, no Ibrasotope ou no Sergio Porto (com o Mosquito
operando o som, nada mais frágil...) me renderam conversas explêndidas, uma
tese de doutorado, um namoro, umas 4000 ideias. Mas como é que nós vamos
medir isso?

Não sei... jogo pétalas (ou algo mais fétido) ao ar.


Um abraço!


Alexandre


Em 17 de junho de 2012 15:28, Rodolfo Caesar <rodolfo.caesar em gmail.com>escreveu:

> Caros,
>
> Como vai ser difícil, esse trabalho, Silvio!
> Na minha opinião o qualis artístico só 'funciona' em regime de
> precariedade. Daí, em lugar de ansiarmos por um ponto final,
> deveríamos contar mais com uma flexibilidade esperta e ajustes anuais,
> uma vez que a maldição parece inevitável.
> Porque:
> - a proposta de vincular o ponto à autoridade da difusora (editora,
> sala de espetáculo, evento, etc.) implica em dependencia do sistema às
> leis de mercado.
> - p.ex.: as artes visuais, historicamente mais velozes que a música,
> tratam, por exemplo das 'ocupações' (de terrenos baldios, prédios
> abandonados) como obra/política. Nós, aqui, escalonando a partir do A1
> Carnegie Hall, estamos mesmo muuuito por fora!...
> - de tão caretas que somos, nem pontuaríamos os incríveis mashups
> gratuitos no youtube, soundcloud, etc.. (talvez tb. porque seus
> autores não estejam em dia com a OMB).
> - o mundo das artes em geral é mais dinâmico que o mundo que teoriza
> sobre elas (gosto de acreditar que ainda seja assim, ou já me
> engano?). Se assim é, então não podemos, de cima de nossa autoridade,
> dizer que tal coisa vale mais porque impactou com mais força, porque:
> - para analisar impactos é preciso fazer uma avaliação do tipo
> 'musicologia histórica': não dá pra ser na hora e no ato. Falamos de
> impacto cultural, certo? Então que antropólogos e etnólogos ainda
> avaliem a análise do musicólogo histórico!
> - tenho medo desse matrimônio entre arte e ciência. Claro que existe
> ligação histórica entre ambas, mas também muito conflito. Esse loop
> que pretendemos montar com o qualis tende a neutralizar o conflito.
> - sem conflito, nossa arte fica acariciando o próprio umbigo. É nós
> aqui fazendo musicologia da própria obra ou do colega. O mesmo que um
> bioquímico sintetizar a molécula que o colega de outro departamento
> vai analisar. É o compositor compondo obra para (na melhor das
> hipóteses) o colega analisar.
>
> Um abraço,
> Rodolfo Caesar
>
>
>
> 2012/6/17 silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>:
> > aí tenho de concordar um pouco com "o sistema"...
> > para apresentação em uma sala grande existe um conselho, uma direção
> artística etc...que de certo modo qualifica o evento.
> > a qualificação de um artigo se dá pela revista em que ele foi publicado,
> o de um livro pela editora...o de concertos pela equação evento/espaço.
> > ou seja, a avaliação do conteúdo, da técnica, do repertório, etc.
> estaria avaliada pelo local/editora/evento/revista de difusão.
> >
> > abs
> > silvio
> >
> >
> > On Jun 15, 2012, at 9:18 AM, lcm em usp.br wrote:
> >
> >> Caro Álvaro, Silvio e demais da lista,
> >>
> >> Quanto ao parágrafo 5 da resposta do Álvaro ("Correndo o risco de falar
> uma bobagem imensa..."):
> >>
> >>   Me pergunto se realmente é diferente se apresentar em um evento local
> (a tal B1) e numa grande sala, se o conteúdo da interpretação ou composição
> é o que realmente faz a diferença. Já que por um vídeo na internet e
> broadcast yourself (desculpem: divulgar a sua produção acadêmica) é coisa
> que absolutamente QUALQUER UM pode fazer. A diferença não reside por aí...
> >>   Eu gostaria que fosse considerada a questão dos critérios de modo a
> diferenciar a produção universitária da produção para e do mercado. Nosso
> modelo já é excessivamente americano, em tudo o que o modelo americano tem
> de ruim (comprometimento com empresas, dinheiro, produção para o mercado)
> sem trazer o que ele tem de bom (basicamente, recursos).
> >>   Será que estamos realmente discutindo se o que deve ser avaliado na
> produção artística universitária é o conteúdo ou a embalagem? Concordo com
> o Sílvio que a discussão sobre conteúdo é imensamente difícil, mas avaliar
> o "impacto na área" (aliás, o que vem a ser "relevância" de uma obra ou de
> uma execução?) me parece igualmente estranho.
> >> Abraços,
> >>
> >> Luciano
> >>
> >>
> >> Citando Alvaro Henrique <alvaroguitar em gmail.com>:
> >>
> >>> Sílvio (permita-me chamá-lo apenas por seu nome), ao optar pela opção
> >>> "responder" ao invés da "responder a todos", os e-mails acabam não
> sendo
> >>> enviados à lista, mas apenas ao autor da mensagem respondida.
> >>>
> >>> Acredito que um qualis em performance é extremamente simples,
> provavelmente
> >>> mais simples que na composição - talvez porque sou da performance vejo
> >>> assim ;-) . Mas veja só:
> >>>
> >>> - não é a mesma coisa tocar no auditório do próprio local de trabalho e
> >>> tocar no Carnegie Hall;
> >>> - não é a mesma coisa tocar numa orquestra de projeto social e ser
> solista
> >>> da Berliner;
> >>> - não é a mesma coisa organizar a própria apresentação e ser aprovado
> pra
> >>> tocar no maior congresso da sua área;
> >>> - não é a mesma coisa fazer um recital isolado e fazer uma turnê de
> >>> lançamento de CD.
> >>>
> >>> Etc...
> >>>
> >>> Dá trabalho, talvez não seja interessante, mas é viável. Claro que a
> >>> primeira versão terá falhas, mas só é aprimorável o quê já existe. Já
> tem
> >>> um protótipo disso, como ser performance em evento acadêmico, ter
> âmbito
> >>> nacional, local ou internacional, etc.
> >>>
> >>> E, ao contrário do que pensa o autor da matéria do jornal, uma
> performance
> >>> A1 tem de valer o mesmo de um artigo A1, além da performance ter de ser
> >>> avaliada por parâmetros da performance, não por de outro tipo de
> produção.
> >>> O fato de "regência de coros comunitários" ser objeto de artigos A1 não
> >>> deve fazer com que, para o qualis de performance, reger um coro de
> igreja
> >>> valha mais que reger a Wiener Philharmoniker. Afinal, a proposta dele
> era
> >>> que seu livro, por poder ser hipoteticamente objeto de estudo de um
> >>> possível artigo qualificável como A1, deve inevitavelmente pontuar
> mais que
> >>> um artigo A1 sempre. Especialmente se o livro for escrito por um
> professor
> >>> e o artigo por um aluno, óbvio. Mais geração x, impossível. Desculpe a
> >>> cutucada, aqui não é o local apropriado pra discutir conflito de
> gerações.
> >>>
> >>> Provavelmente se compositores se dedicarem a pensar um pouco sobre um
> >>> qualis de composição serão encontradas essas diferenças óbvias que
> podem
> >>> gerar uma proposta de qualis que terá falhas, mas a vida é assim. Só
> >>> podemos discutir sobre melhorar o lattes havendo um lattes, não é
> mesmo?
> >>>
> >>> Correndo o risco de falar uma bobagem imensa, por meter o dedo de outra
> >>> área, acho que faz sentido a Bienal pontuar como B1. Ela é demasiado
> >>> nacional, em alguns aspectos extremamente local, pra pleitear um qualis
> >>> maior que isso, apesar da peneira certamente ser dura. Desculpe-me se
> >>> estiver mal informado, mas me parece que os intérpretes da bienal são
> >>> apenas músicos da cidade que a organiza. Isso é um dos fatores que
> limita o
> >>> alcance e a relevância do evento em muitos aspectos, que vão desde
> >>> a intérpretes trabalhando em ritmo de produção que compromete as
> >>> performances à pouca repercussão das obras - afinal, é natural que
> >>> intérpretes que preparam uma obra para um evento importante a toquem em
> >>> pelo menos uma ocasião mais, e se 100 intérpretes de 1 cidade a toquem
> de
> >>> novo, foi apenas uma reprise na mesma cidade, provavelmente pro mesmo
> >>> público, enquanto 100 músicos de 100 cidades que a toquem de novo
> gerarão
> >>> 100 outras cidades e milhares de outros ouvintes apreciando um
> pouquinho da
> >>> bienal. O fato da Bienal não ser um evento itinerante e não gerar
> gravações
> >>> também não ajuda. Já que apenas os moradores de uma cidade e os
> >>> compositores prestigiados podem apreciar o evento, o alcance fica
> >>> incrivelmente menor que eventos de pequeno porte, como o Festival de
> Música
> >>> Clásica Contemporánea de Lima, que transmite as apresentações ao vivo
> pela
> >>> internet, produz ao final CDs com trechos de cada um dos recitais, e
> conta
> >>> com a presença de compositores e intérpretes de quatro a seis países
> >>> diferentes.
> >>>
> >>> Concordo que o julgamento de qualis deve ser mais focado em relevância
> e
> >>> alcance que qualidade (tanto composição quanto performance). Sem
> dúvida o
> >>> fato de uma apresentação ter acontecido ou de uma composição ter sido
> >>> tocada significa que ela já teve seu mérito de qualidade julgado como
> >>> satisfatório, do contrário aquela performance não ocorreria.
> >>>
> >>> Abraços,
> >>> Alvaro Henrique
> >>>
> >>>
> >>>
> >>>
> >>>
> >>> Em 11 de junho de 2012 19:44, Damián Keller
> >>> <musicoyargentino em hotmail.com>escreveu:
> >>>
> >>>>
> >>>> Reencaminhando...
> >>>>
> >>>> Abraços,
> >>>> Damián
> >>>>
> >>>> Dr. Damián Keller - Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) -
> >>>> Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research -
> Federal
> >>>> University of Acre - http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
> >>>>
> >>>>
> >>>> ------------------------------
> >>>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre
> >>>> arte e ciência
> >>>> From: silvioferrazmello em uol.com.br
> >>>> Date: Wed, 6 Jun 2012 10:10:29 -0300
> >>>> CC: musicoyargentino em hotmail.com
> >>>> To: alexandre_ficagna em yahoo.com.br; rcaesar em oi.com.br;
> >>>> carole.gubernikoff em gmail.com
> >>>>
> >>>> Como minhas mensagens não são postadas na lista da ANPPOM, escrevo a
> vcs...
> >>>>
> >>>> Falando da composição, minha área de atuação:
> >>>>
> >>>> Existe uma grande diferença entre produção artística e produção
> científica.
> >>>> A primeira dela diz respeito a arte da performance: "l'art de la
> >>>> répétition" ... "rehearsal art"
> >>>> O que para um teórico seria repetir, repetir um artigo ou palestra
> aqui ou
> >>>> acolá, na arte é outra coisa: repetir uma obra tem implicações muito
> mais
> >>>> sérias e interessantes do que simplesmente se repetir.
> >>>>
> >>>> Do mesmo modo que tocar um concerto duas vezes não é se repetir (o
> >>>> repertório é sempre retrabalhado, sempre envolve boas horas de
> estudo), ter
> >>>> uma obra tocada duas vezes ao ano, por grupos diferentes ou pelo mesmo
> >>>> grupo mas em lugares muito diferentes, não é se repetir.
> >>>> Envolve contato com o grupo, ensaios, reensaios, ajustes de partitura.
> >>>> Por outro lado a repetição de uma obra em concerto demonstra o
> >>>> amadurecimento de um trabalho.
> >>>> É comum a estreia de uma obra, mas é raro ela ser reapresentada,
> sobretudo
> >>>> reapresentada por grupos diferentes, o que demonstra crescimento da
> obra e
> >>>> de sua recepção.
> >>>>
> >>>> No que diz respeito à criação propriamente dita: Ok, escrevemos a
> peça uma
> >>>> vez só, no entanto não temos como publica-la. Por isto o erro de
> >>>> considerar-se a estreia como publicação. Qdo publicação é publicação,
> seja
> >>>> digital ou analógica. O mesmo vale para gravação, que também não
> substitui
> >>>> a publicação nem a estreia.
> >>>>
> >>>> Neste sentido é que necessitamos de um qualis de composição sério,
> >>>> distinto de qq qualis de livro ou congresso.
> >>>> Ok, podemos ter um primeiro critério: espaços de abrangência
> >>>> internacional, nacional, local; editoras idem; gravadoras idem.
> >>>> Mas temos também o repertório envolvido, sua dificuldade.
> >>>> Uma obra para orquestra tem uma certa complexidade de escrita, mas a
> mesma
> >>>> coisa se dá para um solo...ou seja, não pode ser por aí.
> >>>>
> >>>> Por outro lado... a avaliação por pares: isto já ocorre no processo de
> >>>> seleção para concertos, não precisa ser refeito no qualis....aliás, o
> tempo
> >>>> de avaliação de uma banca para uma bienal é bem maior do que o do
> avaliador
> >>>> capes...o que torna sua qualificação falha.
> >>>>
> >>>> Minha sugestão é:
> >>>> 1. avaliação do local de difusão (concerto, evento, editora,
> gravadora:
> >>>> internacional, nacional, local; com/sem conselho; com/sem processo
> seletivo
> >>>> por pares)
> >>>> 2. avaliação do grupo encarregado pela difusão (internacional,
> nacional,
> >>>> local)
> >>>> 3. avaliação de amadurecimento: estreia, apresentação (considerando-se
> >>>> distancia mínima entre apresentações e se com o mesmo ensemble ou
> >>>> performer, que configure retrabalho..equivalendo assim estreia e
> >>>> apresentação)
> >>>>
> >>>> A coisa é simples e não devemos nunca entrar em méritos de qualidade
> do
> >>>> trabalho: isto quem qualifica é o grupo que selecionou a obra, o
> evento que
> >>>> a aceitou, a gravadora, ou a editora. Já basta ter papers
> esculhambado por
> >>>> razões de discordância teórica...isto se multiplica exponencialmente
> no
> >>>> caso de trabalhos artísticos...
> >>>>
> >>>> abs
> >>>> Silvio
> >>>>
> >>>>
> >>>>
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Alexandre Sperandéo Fenerich
prof. Adjunto IAD - UFJF - http://www.ufjf.br/musica/

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