[ANPPOM-Lista] Composição em Grupo

Estevão Moreira estevaomoreira em gmail.com
Seg Mar 26 07:06:29 BRT 2012


Bom dia Daniel, Silvio, Damian e Colegas

O termo "composição", parece-me, ora é utilizado enquanto "obra" e ora
enquanto "processo". Independente do que "seja" isso que chamamos de
"composição", certamente esse diferenciação - e eventualmente outras -
precisam ser evidenciadas, como já fez o Damian.

Se o termo composição for pensado enquanto "obra", é preciso levar em
consideração que os critérios normatizadores que a "consolidam" enquanto
tal não podem dar conta da experiência de outrem com "esta" obra, tampouco
dos seus usos (abordagem wittgensteiniana).

Mas o que é a obra então? Seria algo comum para "todos" no mínimo enquanto
produto? Um algo ouvido, escutado, entendido e/ou compreendido? Um sinal? E
o que/quem pode determinar e deliberar sobre a legitimidade  de uma
experiência?

No entanto, e se considerarmos que a música não é somente sonora; se
considerarmos que isso que chamamos de "música" é um "estado de coisas"
onde o som é apenas mais um elemento do "background"?

Assim, a composição enquanto "obra" (produto) ficaria também subordinada ao
sentido de "composição enquanto processo", pois nesse caso, tanto o
contexto de origem, como o contexto final  de uma composição seriam fatores
relevantes (a "obra" é aberta).

Partindo desse princípio - e das experiências relatadas - parece que as
modalidades de interação dessa coletividade é que podem ser enfocadas e, se
se quiser, categorizadas (outro problema).

Talvez a ideia de composição enquanto prática contemple tanto a dimensão do
produto/obra quanto a dimensão processual.

Em tempo 1: já se falou em improvisação mas, mais especificamente, cito as
práticas musicais não "eruditas" (na falta de um nome melhor) como o Jazz,
o Choro e o Funk, por exemplo, que entendo como contextos de prática
composicional coletiva, seja com relação à "obra" (produto) ou enquanto
processo.

Em tempo 2: minha sugestão bibliográfica "indireta", então, é Wittgenstein.

Abs
Estevão
Em 25/03/2012 22:59, "Damián Keller" <musicoyargentino em hotmail.com>
escreveu:

>
>
> Certo. Silvio. Agora entendi melhor a tua linha de pensamento. Estamos
> falando de aspectos diferentes mas não incompatíveis. A tua proposta
> focaliza o fator material, a minha o fator humano.
>
> > neste modelo, seja "individual" seja coletivo, é sempre coletivo.
> Nesse ponto concordamos totalmente. No
> modelo-de-dentro-para-fora-de-fora-para-dentro (MDF), o exemplo do
> <compositor omnisciente> (prefiro não usar autista para não insultar os
> autistas ;-) é um construto: na prática nunca acontece esse caso. Ou seja,
> individual é sempre coletivo e coletivo é sempre (em parte) individual. A
> proposta de Simondon (citação abaixo) trata da questão material e não é
> incompatível com os conceitos que estamos usando em ecocomposição.
> > consistência: a sobreposição ou justaposição de material dará conta
> sozinha de juntar as coisas.
> Aqui concordamos pela metade. Vou tentar me explicar...
> > o paradigma da unidade formal e estrutural que herdamos do
> classico-romantico-moderno e que perpassa toda a vanguarda estruturalista.
> Sem dúvida. Unidade formal-estrutural não é consistência. A palavra chave
> aqui é estrutura. Confere na nossa conversa que em nenhum momento falamos
> em estrutura. A estrutura é uma consequência, não uma ferramenta ou uma
> causa como pensava Boulez (e seguidores).
> > 2 permitem mais elementos e mais elementos permitem mais pontos de
> contato entre material, o que viria a garantir a consistência.
> Este é o ponto que está aberto a discussão. Concordamos em que mais
> elementos aumentam as chances de chegar a um resultado consistente e ao
> consenso (no MDF). O problema está na velocidade ou fluidez do processo.
> Pensa no caso extremo: o universo como obra. A chance de consistência é
> 100%, mas quem vai ouvir esse troço? :-)
> Por esse motivo precisamos do fator humano. No MDF consenso é só a decisão
> que permite chegar a um resultado. Por isso não é incompatível com a tua
> ideia de consistência.
> Abraço,Damián
> Simondon, Gilbert. L’individu et sa genèse physico-biologique. Paris :
> Presses Universitaires de France, 1964. Translation by Taylor Adkins.The
> technical operation institutes the internal resonance in the matter taking
> form, by means of topological conditions that can be named form, and the
> energy conditions that express the whole system. Internal resonance is a
> state of the system which requires this realization of the energy
> conditions, the topological conditions and the material conditions:
> resonance is movement and energy exchange in a determined enclosure,
> communication between a microphysical matter and a macrophysical energy
> starting from a singularity of average magnitude, topologically definite.
>
> Dr. Damián Keller -
> Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) - Universidade Federal do Acre
> - Amazon Center for Music Research - Federal University of Acre -
> http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
>
>
> > OI Damian
>
> eu parti um pouco de um modelo um pouco distante do modelo clássico de
> indivduação e cognição.
> e neste modelo, seja "individual" seja coletivo, é sempre coletivo.
> até mesmo o autista.
> aí aqui vale a pena uma referência pq a coisa começa a complicar para mail.
> vale citar uma leitura de gilbert simondon e sua ideia de individuação e
> tal.
>
> mas qdo falei de potencializar o coletivo, realmente aqui também é
> necessário uma outra quebra com paradigma clássico.
> o paradigma da unidade formal e estrutural que herdamos do
> classico-romantico-moderno e que perpassa toda a vanguarda estruturalista.
> e neste paradigma talvez possamos não ter esta etapa do consenso e
> substituir esta noção pela de consistência: a sobreposição ou justaposição
> de material dará conta sozinha de juntar as coisas. Neste caso, intverte-se
> a lógica q vc propõe: 2 permitem mais elementos e mais elementos permitem
> mais pontos de contato entre material, o que viria a garantir a
> consistência.
>
> são lógicas distintas…
> acho que isto vale um tema de congresso de criação musical, coisas que há
> tempo não temos no brasil, mas q pelo que temos debatido aqui fica claro
> que perpassa desde a educação musical até a musicologia analítica.
>
> abs
> silvio
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20120326/78ea319d/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L