[ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’ dos bailes funk no Rio

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qui Nov 8 16:45:44 BRST 2012


Silvio

Conheço Vincent pessoalmente. Ele é meu amigo e sei perfeitamente de que
ponto de vista ele se coloca em relação ao que retrata. Creio que vc
deveria se ater a discutir objetos dos quais tem conhecimento, para evitar
expor-se ao ridículo.

cp

2012/11/8 silvio ferraz <silvioferrazmello em gmail.com>

> caros…
>
> desculpe-nos carlos… mas uma hora a coisa passa da conta… e o limite entre
> dogma e temática de estudo passa a não ser tão tênue e assim.
> a matéria enviada ha uns dias é tão tosca qto a posição dos senhores
> coronéis da PM paulistana.
> o olhar estrangeiro é mais que alegoria, é fato histórico não superado,
> daí o resultado:
> aquela matéria é eurocentrista, bem ao estilo "não existe pecado ao sul do
> equador"… aquele besteirol que vem se desenrolando desde as épocas do
> descobrimento… bem ao estilo:
> "le brésil c'est cool"
> "oh là là, il manque des fête punk au brésil a cause des UPPs… tu c'est
> qu'est-ce-que une UPP? … ah! ce sont des choses que sont régulières en
> france… mais au brésil..."
>
> desculpem-me mas o artigo não passa de manifestação de turismo sexual
> barato… de um cara que é dono de agencia de fotografia e que deve de encher
> o rabo vendendo rabo fotografado….
> ou de um fulano que realmente está por aqui mais é pra traçar do que
> realmente pra contribuir em alguma coisa.
>
> abs
> silvio
>
> On Nov 8, 2012, at 1:31 PM, luciano cesar wrote:
>
> Prezados senhores da lista,
>
>
> A ligeireza com que tratei o assunto a que se refere o título desta
> mensagem facilitou julgamentos – esses sim, *ad hominem – *a minha
> pessoa, diretamente. Não reclamo da divergência de opiniões, mas me senti
> ofendido e humilhado por ser associado a uma lente de olhar “curioso”,
> “preconceituoso”, “elitista” do senso “comum”, “devoto e escravo dos
> ditames senhoriais” e por ter minha opinião sendo classificada como
> irrelevante, apesar de ter merecido a atenção dos senhores a partir de
> julgamentos que atingem a minha pessoa e não a opinião que emito a respeito
> de um gênero musical. Mas não recebi nenhum argumento.
>
> Há dois pontos que levantei em meu comentário que, pela leveza até
> irresponsável do meu tratamento, foram ignorados. Primeiro, a questão de se
> o funk é (entre muitas coisas diferentes que caracterizam o objeto social)
> um gênero musical legítimo como representação das classes populares
> associadas a ele, ou licença, dada pela classe dominante, para manutenção
> de estruturas sociais desiguais e estratificadas. O segundo ponto é, no
> caso de se considerar o funk como manutenção de estruturas estratificadas
> de poder, se o olhar estrangeiro laudatório não facilitaria a celebração
> dessa manutenção dominante. As questões são claras, e podem ser
> perfeitamente discutidas sem juízo do interlocutor e a partir de uma
> argumentação científica. Pode ser que frequentar e fotografar bailes
> realmente qualifique um fotógrafo a se dizer conhecedor “por dentro e de
> perto”, como afirma o sr. Rafael Marin. Mas trabalhar em projetos sociais –
> como é o meu caso – talvez também ajude a alimentar um olhar mais
> aproximado sobre a representatividade que os moradores de comunidades de
> periferia efetivamente conferem a esse gênero musical.
>
> Não entendo como a crítica feita a partir desses dois pontos
> (estratificação de estruturas de poder e apologia a uma cultura isolada,
> uma reforçando a outra) seja a de uma “mentalidade colonizada”, até porque
> não aleguei em momento nenhum, comparação com qualquer manifestação
> cultural de “elite”. Sequer falei da relação de belo-não belo. Esse
> preconceito, provavelmente, está na cabeça de quem leu. A defesa que faço -
> em minha vida privada e acadêmica - da política das cotas, por exemplo,
> leva em conta exatamente a intenção de desestratificar essas estruturas de
> poder exercido através da cultura. A meu ver, a apologia da cultura das
> classes subjugadas tem esse efeito ambíguo: por um lado celebra a vida
> cultural de uma comunidade, mas por outro, oculta a negação do livre acesso
> de outras expressões culturais a uma parcela desfavorecida da população num
> movimento de dominação implícita.
>
> Isso não é fruto de uma pesquisa científica, mas uma opinião (embasada) a
> que tenho direito, com toda a probabilidade de ser refutada por
> convencimento da parte de pesquisadores comprometidos com a questão. O que
> eu não gostaria é de me ver enredado em ofensas pessoais por defender tal
> opinião, mesmo que tenha que discutir e reconhecer o erro de meu ponto de
> vista.
>
> Embaso essa discussão não só em minha opinião mas, entre outras
> experiências, na ação pública do escritor, cantor e artista Ferrez (
> http://ferrez.blogspot.com.br/p/autor.html), a quem tive oportunidade de
> ouvir renegando os bailes funk como representativos da cultura de periferia
> (palestra dada ao programa Guri Santa Marcelina em 08/02/2012). Não sei se
> Ferrez concordaria com minha mensagem, mas com certeza discutiria a questão
> em outros termos. Sou levado a pensar que talvez ele discutisse a questão e
> não a minha pessoa. E talvez, mesmo que concordasse comigo do ponto de
> vista da crítica, apreciaria a qualidade artística das fotos, como eu
> também apreciei.
>
> No entanto, o sr Carlos Palombini e o sr. Rafael Marin responderam como se
> se quisessem pareceristas de um artigo acadêmico ao que deveria ter sido a
> expressão livre de uma opinião. Ou seja, cientificizaram o rechaçamento de
> minha pessoa, de minha capacidade de raciocínio (“O restante do raciocínio,
> se é correto empregar este termo aqui”), rejeitaram minha experiência
> possível e subestimaram minha capacidade de compreender argumentos
> contrários que, acredito sinceramente, os senhores são perfeitamente
> capazes de proferir. Nesses “pareceres”, um verniz cientificista deslocado
> trouxe a luz uma leitura rasa que atribui à minha pessoa posições que
> absolutamente não defendo, além de me acusarem de ignorante sem sequer
> conhecer a experiência que tenho como professor de projetos sociais. Nenhum
> dos dois me conhece pessoalmente para justificar o seu juízo.
>
> Pergunto aos senhores onde está o argumento *ad hominem *na minha
> mensagem, já que não mencionei pessoas: o termo “francês ver”, de minha
> primeira frase, alegoriza um olhar estrangeiro, tradicionalmente
> deslumbrável pelo exótico com que reveste o diferente, às vezes para
> mostrar a beleza, mas às vezes para negar a injustiça social imanente ao
> fenômeno social que observa. Nas respostas, entretanto, faculdades
> cognitivas foram mencionadas. Fui acusado, além de elitista e ignorante,
> também de falacioso no “abraço” com que sempre assino minhas mensagens
> escritas a comunidade acadêmica de que faço parte, que amo e defendo, mesmo
> discordando, exercendo minha liberdade de expressão e confiança de que
> minhas opiniões possam ser acolhidas, compreendidas e refutadas sempre que
> necessário.
>
> Se falei uma imensa bobagem, peço sinceras desculpas e me disponho a
> pesquisar melhor os dados. Como acabo de dizer, manifestei uma opinião e
> estou realmente aberto a argumentos que enriqueçam essa opinião, desde que
> haja discussão dos pontos levantados. Mas eu, sinceramente, esperava uma
> reação melhor dos senhores.
>
>
> Grato pela atenção,
>
> Um abraço a quem aceitar.
>              Luciano Morais
>
>
>
>
> --- Em *ter, 6/11/12, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>* escreveu:
>
>
> De: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’
> dos bailes funk no Rio
> Para: anppom-l em iar.unicamp.br
> Data: Terça-feira, 6 de Novembro de 2012, 14:41
>
> Interessante como os ataques à matéria mostram uma forte propensão ao *argumentum
> ad hominem*, isto é, atacam o oponente, e não seus argumentos. Trata-se
> de uma falácia lógica ou, mais precisamente, de uma irrelevância. O
> restante do raciocínio, se é correto empregar este termo aqui, é
> tautológico. Não há qualquer sombra de elaboração teórica ou de experiência
> reveladora do que quer que não seja preconceito de classe, isto é,
> ignorância. Agradeço a gentileza dos "abraços", que não posso aceitar, por
> falaciosos.
>
> cp
>
> Mensagem de Rafael Marin:
>
> Ao invés de uma celebração pela etnografia fotográfica que o olhar - de
> perto e de dentro - de Vicent Rosenblatt nos traz (trabalho este que
> deveria levar, em primeiro lugar, a uma discussão acerca das pesquisas
> etnomusicológicas que têm como campo e objeto de pesquisa os espaços do
> funk carioca e suas implicações sócio-culturais), o que tivemos foi,
> lamentavelmente, um infeliz comentário que reflete um olhar - de fora e de
> longe - ingênuo (cientificamente falando), preconceituoso e elitista de
> um devoto e escravo dos ditames senhoriais que ainda insistem em se
> proclamar, através de seus porta-vozes, detentores dos critérios que
> distinguem o belo do não-belo, o artístico do não-artístico, o estético do
> não-estético, quando na verdade a única distinção que fazem é entre
> ciência e senso comum, entre pesquisador e curioso.
> Rafael Marin
>
>
>
> 2012/11/6 <lcm em usp.br>
>
>     Cultura pra francês ver. Às "elites" interessa exatamente isso:
> alienação, ignorância, superficialidade da classe popular. O funk não é uma
> insurreição contra nenhuma estrutura social, pelo contrário. Até defendo o
> o funk como expressão social e cultural de uma classe oprimida, mas a
> apologia e a esteticização disso me parece a mesma coisa que elogiar a
> pujança e a beleza das senzalas.
> Abraço,
>
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> -----Anexo incorporado-----
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> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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carlos palombini
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