[ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’ dos bailes funk no Rio

Ale Fenerich fenerich em gmail.com
Sex Nov 9 10:57:25 BRST 2012


Me impressiona o fato de doutores em música não conseguirem ter um olhar
minimamente isento de seu preconceito de classe diante das imagens
apresentadas por Palombini, no site de Vincent Rosenblatt. O patético é que
esse preconceito vem revestido de um discurso de esquerda dos anos 60, que
só acentua o lugar de onde esses senhores falam.

O fotógrafo em questão realizou um trabalho de pesquisa guiado por uma
expressão musical - o Funk no Rio de Janeiro. Este trabalho, pela extensão
temporal e espacial, pela qualidade técnica (pois as imagens são
impecáveis) e pela sua aguda inserção nas comunidades dificilmente é
igualado por outros trabalhos realizados no âmbito acadêmico. Entretanto,
só escutamos: alegoria de turismo sexual, dominação estrangeira,
imperialismo, "não existe pecado ao sul do equador", música estrangeira...
- ou seja, uma série de chavões acadêmicos. Me desculpem, mas isso tudo é
muito pobre enquanto crítica. O trabalho de Vincent merece uma maior
qualidade crítica.



Em 8 de novembro de 2012 16:45, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>escreveu:

> Silvio
>
> Conheço Vincent pessoalmente. Ele é meu amigo e sei perfeitamente de que
> ponto de vista ele se coloca em relação ao que retrata. Creio que vc
> deveria se ater a discutir objetos dos quais tem conhecimento, para evitar
> expor-se ao ridículo.
>
> cp
>
> 2012/11/8 silvio ferraz <silvioferrazmello em gmail.com>
>
>> caros…
>>
>> desculpe-nos carlos… mas uma hora a coisa passa da conta… e o limite
>> entre dogma e temática de estudo passa a não ser tão tênue e assim.
>> a matéria enviada ha uns dias é tão tosca qto a posição dos senhores
>> coronéis da PM paulistana.
>> o olhar estrangeiro é mais que alegoria, é fato histórico não superado,
>> daí o resultado:
>> aquela matéria é eurocentrista, bem ao estilo "não existe pecado ao sul
>> do equador"… aquele besteirol que vem se desenrolando desde as épocas do
>> descobrimento… bem ao estilo:
>> "le brésil c'est cool"
>> "oh là là, il manque des fête punk au brésil a cause des UPPs… tu c'est
>> qu'est-ce-que une UPP? … ah! ce sont des choses que sont régulières en
>> france… mais au brésil..."
>>
>> desculpem-me mas o artigo não passa de manifestação de turismo sexual
>> barato… de um cara que é dono de agencia de fotografia e que deve de encher
>> o rabo vendendo rabo fotografado….
>> ou de um fulano que realmente está por aqui mais é pra traçar do que
>> realmente pra contribuir em alguma coisa.
>>
>> abs
>> silvio
>>
>> On Nov 8, 2012, at 1:31 PM, luciano cesar wrote:
>>
>> Prezados senhores da lista,
>>
>>
>> A ligeireza com que tratei o assunto a que se refere o título desta
>> mensagem facilitou julgamentos – esses sim, *ad hominem – *a minha
>> pessoa, diretamente. Não reclamo da divergência de opiniões, mas me senti
>> ofendido e humilhado por ser associado a uma lente de olhar “curioso”,
>> “preconceituoso”, “elitista” do senso “comum”, “devoto e escravo dos
>> ditames senhoriais” e por ter minha opinião sendo classificada como
>> irrelevante, apesar de ter merecido a atenção dos senhores a partir de
>> julgamentos que atingem a minha pessoa e não a opinião que emito a respeito
>> de um gênero musical. Mas não recebi nenhum argumento.
>>
>> Há dois pontos que levantei em meu comentário que, pela leveza até
>> irresponsável do meu tratamento, foram ignorados. Primeiro, a questão de se
>> o funk é (entre muitas coisas diferentes que caracterizam o objeto social)
>> um gênero musical legítimo como representação das classes populares
>> associadas a ele, ou licença, dada pela classe dominante, para manutenção
>> de estruturas sociais desiguais e estratificadas. O segundo ponto é, no
>> caso de se considerar o funk como manutenção de estruturas estratificadas
>> de poder, se o olhar estrangeiro laudatório não facilitaria a celebração
>> dessa manutenção dominante. As questões são claras, e podem ser
>> perfeitamente discutidas sem juízo do interlocutor e a partir de uma
>> argumentação científica. Pode ser que frequentar e fotografar bailes
>> realmente qualifique um fotógrafo a se dizer conhecedor “por dentro e de
>> perto”, como afirma o sr. Rafael Marin. Mas trabalhar em projetos sociais –
>> como é o meu caso – talvez também ajude a alimentar um olhar mais
>> aproximado sobre a representatividade que os moradores de comunidades de
>> periferia efetivamente conferem a esse gênero musical.
>>
>> Não entendo como a crítica feita a partir desses dois pontos
>> (estratificação de estruturas de poder e apologia a uma cultura isolada,
>> uma reforçando a outra) seja a de uma “mentalidade colonizada”, até porque
>> não aleguei em momento nenhum, comparação com qualquer manifestação
>> cultural de “elite”. Sequer falei da relação de belo-não belo. Esse
>> preconceito, provavelmente, está na cabeça de quem leu. A defesa que faço -
>> em minha vida privada e acadêmica - da política das cotas, por exemplo,
>> leva em conta exatamente a intenção de desestratificar essas estruturas de
>> poder exercido através da cultura. A meu ver, a apologia da cultura das
>> classes subjugadas tem esse efeito ambíguo: por um lado celebra a vida
>> cultural de uma comunidade, mas por outro, oculta a negação do livre acesso
>> de outras expressões culturais a uma parcela desfavorecida da população num
>> movimento de dominação implícita.
>>
>> Isso não é fruto de uma pesquisa científica, mas uma opinião (embasada) a
>> que tenho direito, com toda a probabilidade de ser refutada por
>> convencimento da parte de pesquisadores comprometidos com a questão. O que
>> eu não gostaria é de me ver enredado em ofensas pessoais por defender tal
>> opinião, mesmo que tenha que discutir e reconhecer o erro de meu ponto de
>> vista.
>>
>> Embaso essa discussão não só em minha opinião mas, entre outras
>> experiências, na ação pública do escritor, cantor e artista Ferrez (
>> http://ferrez.blogspot.com.br/p/autor.html), a quem tive oportunidade de
>> ouvir renegando os bailes funk como representativos da cultura de periferia
>> (palestra dada ao programa Guri Santa Marcelina em 08/02/2012). Não sei se
>> Ferrez concordaria com minha mensagem, mas com certeza discutiria a questão
>> em outros termos. Sou levado a pensar que talvez ele discutisse a questão e
>> não a minha pessoa. E talvez, mesmo que concordasse comigo do ponto de
>> vista da crítica, apreciaria a qualidade artística das fotos, como eu
>> também apreciei.
>>
>> No entanto, o sr Carlos Palombini e o sr. Rafael Marin responderam como
>> se se quisessem pareceristas de um artigo acadêmico ao que deveria ter sido
>> a expressão livre de uma opinião. Ou seja, cientificizaram o rechaçamento
>> de minha pessoa, de minha capacidade de raciocínio (“O restante do
>> raciocínio, se é correto empregar este termo aqui”), rejeitaram minha
>> experiência possível e subestimaram minha capacidade de compreender
>> argumentos contrários que, acredito sinceramente, os senhores são
>> perfeitamente capazes de proferir. Nesses “pareceres”, um verniz
>> cientificista deslocado trouxe a luz uma leitura rasa que atribui à minha
>> pessoa posições que absolutamente não defendo, além de me acusarem de
>> ignorante sem sequer conhecer a experiência que tenho como professor de
>> projetos sociais. Nenhum dos dois me conhece pessoalmente para justificar o
>> seu juízo.
>>
>> Pergunto aos senhores onde está o argumento *ad hominem *na minha
>> mensagem, já que não mencionei pessoas: o termo “francês ver”, de minha
>> primeira frase, alegoriza um olhar estrangeiro, tradicionalmente
>> deslumbrável pelo exótico com que reveste o diferente, às vezes para
>> mostrar a beleza, mas às vezes para negar a injustiça social imanente ao
>> fenômeno social que observa. Nas respostas, entretanto, faculdades
>> cognitivas foram mencionadas. Fui acusado, além de elitista e ignorante,
>> também de falacioso no “abraço” com que sempre assino minhas mensagens
>> escritas a comunidade acadêmica de que faço parte, que amo e defendo, mesmo
>> discordando, exercendo minha liberdade de expressão e confiança de que
>> minhas opiniões possam ser acolhidas, compreendidas e refutadas sempre que
>> necessário.
>>
>> Se falei uma imensa bobagem, peço sinceras desculpas e me disponho a
>> pesquisar melhor os dados. Como acabo de dizer, manifestei uma opinião e
>> estou realmente aberto a argumentos que enriqueçam essa opinião, desde que
>> haja discussão dos pontos levantados. Mas eu, sinceramente, esperava uma
>> reação melhor dos senhores.
>>
>>
>> Grato pela atenção,
>>
>> Um abraço a quem aceitar.
>>              Luciano Morais
>>
>>
>>
>>
>> --- Em *ter, 6/11/12, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>* escreveu:
>>
>>
>> De: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
>> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’
>> dos bailes funk no Rio
>> Para: anppom-l em iar.unicamp.br
>> Data: Terça-feira, 6 de Novembro de 2012, 14:41
>>
>> Interessante como os ataques à matéria mostram uma forte propensão ao *argumentum
>> ad hominem*, isto é, atacam o oponente, e não seus argumentos. Trata-se
>> de uma falácia lógica ou, mais precisamente, de uma irrelevância. O
>> restante do raciocínio, se é correto empregar este termo aqui, é
>> tautológico. Não há qualquer sombra de elaboração teórica ou de experiência
>> reveladora do que quer que não seja preconceito de classe, isto é,
>> ignorância. Agradeço a gentileza dos "abraços", que não posso aceitar, por
>> falaciosos.
>>
>> cp
>>
>> Mensagem de Rafael Marin:
>>
>> Ao invés de uma celebração pela etnografia fotográfica que o olhar - de
>> perto e de dentro - de Vicent Rosenblatt nos traz (trabalho este que
>> deveria levar, em primeiro lugar, a uma discussão acerca das pesquisas
>> etnomusicológicas que têm como campo e objeto de pesquisa os espaços do
>> funk carioca e suas implicações sócio-culturais), o que tivemos foi,
>> lamentavelmente, um infeliz comentário que reflete um olhar - de fora e de
>> longe - ingênuo (cientificamente falando), preconceituoso e elitista de
>> um devoto e escravo dos ditames senhoriais que ainda insistem em se
>> proclamar, através de seus porta-vozes, detentores dos critérios que
>> distinguem o belo do não-belo, o artístico do não-artístico, o estético do
>> não-estético, quando na verdade a única distinção que fazem é entre
>> ciência e senso comum, entre pesquisador e curioso.
>> Rafael Marin
>>
>>
>>
>> 2012/11/6 <lcm em usp.br>
>>
>>     Cultura pra francês ver. Às "elites" interessa exatamente isso:
>> alienação, ignorância, superficialidade da classe popular. O funk não é uma
>> insurreição contra nenhuma estrutura social, pelo contrário. Até defendo o
>> o funk como expressão social e cultural de uma classe oprimida, mas a
>> apologia e a esteticização disso me parece a mesma coisa que elogiar a
>> pujança e a beleza das senzalas.
>> Abraço,
>>
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