[ANPPOM-Lista] "formação acadêmica com foco na cooperação solidária"

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Ter Jan 22 11:18:17 BRST 2013


Com “universidades de integração”, Brasil aposta na diplomacia do diploma

http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/

Cada vez mais inserido no processo de internacionalização acadêmica, País
aposta em universidades transnacionais para fortalecer integração com
América Latina e África.

*Via Opera Mundi<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26557/atraves+do+ensino+superior+brasil+quer+firmar+posicao+como+lider+regional+solidario.shtml?__akacao=1235533&__akcnt=e512888e&__akvkey=a23d&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Boletim_OM_200113>
*

A recente ascensão do Brasil como potência mundial emergente ressuscitou
uma antiga tese, muito difundida especialmente na América do Sul durante os
anos de ditadura, que enxerga o gigante sul-americano como uma nação
imperialista. Como exemplos contemporâneos que contribuem para a má fama
estão os protestos de trabalhadores contra condições precárias de trabalho
e o forte impacto ambiental causado por mineradoras de origem brasileira na
África, especialmente em Moçambique; ou o envolvimento de empreiteiras
nacionais em zonas reivindicadas por populações nativas, como na Bolívia.

Por outro lado, o País também procura demonstrar, por meio de uma série de
iniciativas pioneiras na Educação, que também é capaz de exercer uma
liderança regional sobre bases diferentes. Com o ensino superior cada vez
mais inserido no processo de internacionalização, o governo adotou os
princípios de cooperação solidária e integração regional para nortear as
parcerias no setor, especialmente com países latino-americanos e africanos.

A cooperação solidária se baseia em acordos de mão dupla, onde todos possam
sair ganhando: estímulo à transferência e compartilhamento de experiências
e conhecimento e fortalecimento do intercâmbio e de parcerias entre
instituições de ensino superior, principalmente através de redes.

Com base nesses princípios foram criadas recentemente duas instituições de
caráter transnacional, a Unila (Universidade Federal da Integração
Latino-Americana), em Foz do Iguaçu, na Fronteira Trinacional, voltada a
todo o continente latino-americano e o Caribe; e a Unilab (Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), na pequena Redenção
(Ceará), primeira cidade brasileira a abolir a escravidão, em 1883. Ela é
voltada aos países da CPLP (Comunidades de Países da Língua Portuguesa).

A primeira, iniciada em 2010, incentiva os alunos latino-americanos a
voltarem aos seus países de origem para lá poderem aplicar seus
conhecimentos. A segunda, que teve os primeiros cursos iniciados em 2011,
determina que os três últimos trimestres de cada curso sejam realizados em
países africanos ou no Timor Leste – caso estes tenham parcerias,
equivalência e condições para oferecê-los.
[image: Unila01]<http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/unila01/>

O atual campus da Unila, no Paraná, é vizinho nas obras da segunda unidade
da instituição; acima, o rio Iguaçu.

Ao mesmo tempo em que procura se tornar um polo de atração para estudantes
e professores do exterior, o Brasil incentiva os estudantes a voltarem para
os seus países de origem, sem incentivar a “fuga de cérebros”. E o
interesse dessa iniciativa é claramente geoestratégico.

“O Brasil, há alguns anos, se considerava autossuficiente. Sua abundância
em recursos naturais fazia pensar que não precisávamos dos outros. Vivíamos
de costas para a América do Sul, voltados para nós mesmos. Essa visão
mudou. O país está cada vez mais inserido no cenário internacional. Sua
presença é cada vez maior no continente africano, mas busca crescer através
de uma relação diferente às das tradicionais grandes potências”, afirma
Paulo Speller, reitor da Unilab, em entrevista a Opera Mundi. “Para nós, a
formação acadêmica tem o foco na cooperação solidária”, complementa, em
contraposição ao modelo voltado ao mercado de trabalho e à iniciativa
privada.

“O processo de internacionalização na Unila não mostrará resultados
iniciais, pois não tem fins lucrativos. O modelo voltado ao mercado
apresenta vantagens mensuráveis. Já nós abrimos a universidade para alunos
de todos os países da região para que eles possam retornar para casa com a
bagagem adquirida aqui”, conta. A vantagem para o Brasil? “Confirmar sua
vocação latino-americana de solidariedade com o resto do continente”,
responde Andrea Ciacchi, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação na Unila –
italiano de nascimento e há mais de 20 anos no Brasil, também ouvido pela
reportagem. “Não se dá para mensurar concretamente, o retorno [*dessa
iniciativa*] se dará por mil outros aspectos”.

“A ideia da Unila é a colaboração. Estamos longe ainda da primeira turma de
formandos, mas quando eles completarem os cursos, não faremos nada para
manter os estrangeiros aqui. A não ser que eles queiram, é claro. Serão
bem-vindos para realizar uma pós. Porque a ideia não é dizer’ venha e fique
no Brasil porque somos melhores’. Esse passado do Brasil subimperialista
foi uma teoria corrente nos anos 1960”, lembra. Ciacchi diz que, em 20
anos, dezenas de milhares de profissionais liberais latino-americanos já
terão passado pelo país e “deixarão um elo de amizade e parceria”.

Como um exemplo dessa diferença de mentalidade, ele cita o curso de Letras,
que ao contrário das outras universidades brasileiras, não se volta
prioritariamente à Literatura Brasileira ou aos cursos de Língua
Portuguesa. “Em nossa grade curricular, o Português tem o mesmo peso do
Espanhol. As literaturas são estudadas em grupos regionalizados, não
nacionais [*como, por exemplo, Literatura da Comarca Andina ou de Fronteira
Norte/Sul*]. Ele deve vir procurar um ensino diferenciado, não só porque
conseguiu vaga por meio do Sisu”, explica Ciacchi.

Speller lembra que a iniciativa visa formar profissionais preparados para
voltar seus conhecimentos ao mercado de trabalho em seus países de origem.
E que, pelas redes de cooperação, eles possam futuramente aproveitar esses
laços, o que resulta em retorno para o Brasil. “A expectativa é mais longa
e ainda estamos atendendo as demandas de todos os outros países associados [
*à CPLP*].”

Ainda em fase de estruturação, nenhuma turma ainda foi formada nas duas
universidades e os trabalhos acadêmicos ainda nem tiveram tempo para gerar
frutos. Mas ambas estão em fase de expansão. A meta da Unila é chegar a 10
mil estudantes, dividida em 50% por brasileiros e estrangeiros – atualmente
são 1.241 (608 e 633, respectivamente) – e um novo campus, vizinho ao atual
e projetado por Oscar Niemeyer, está em construção.
[image: Unilab01]<http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/unilab01/>

Campus da Unilab, destinada à integração entre brasileiros e integrantes de
países lusófonos. Atrás, a pequena cidade de Redenção, de 26 mil habitantes.

Mais nova, a Unilab constrói uma segunda unidade em São Francisco do Conde,
interior da Bahia, 73 quilômetros ao norte de Salvador. É a única
universidade no Brasil a ter todos seus 78 professores com título de
doutorado. Seu nível de internacionalização, no entanto, é mais modesto:
dos 1.008 estudantes, só 220 são estrangeiros – e a maioria deles, 71, do
Timor Leste, o único país não africano incluído (não há alunos
portugueses). Entre os brasileiros, os cearenses são, de longe, mais
numerosos. O objetivo também é chegar a 50% entre brasileiros e
estrangeiros.

Outra similaridade entre as duas universidades é que os respectivos
processos de internacionalização têm como prerrogativa respeitar o contexto
e as necessidades locais em que estão inseridos – o que influencia desde a
escolha dos cursos até os objetivos das áreas de pesquisa.

E, para o Brasil, tornar-se um polo de atração não implica diminuir a
presença de estudantes brasileiros no
exterior<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/25928/brasil+e+franca+firmam+parceria+para+aumentar+a+concessao+de+bolsas+de+estudo.shtml>.
Pelo contrário, a outra via do intercâmbio foi incrementada com o
programa Ciência
Sem Fronteiras<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/21410/programa+brasileiro+podera+mandar+12+mil+alunos+ao+canada.shtml>,
onde se pretende oferecer mais de cem mil bolsas em quatro anos para
estudantes brasileiros no exterior.

*Os limites do mercado*

Em um caminho diferente do que está sendo planejado pelo Brasil, Chile e
Canadá são dois exemplos clássicos que apostam assumidamente na fórmula do
ensino superior voltado às necessidades do mercado e com ênfase em
universidades privadas e pagas (capítulos 10 e 11 do livro *Internacionalização
do Ensino Superior<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/entrevistas/16580/chile+mostra+esgotamento+do+modelo+%26%2339privatista%26%2339+de+educacao+superior+diz+pesquisador.shtml>
*, Ed. Alameda, 536 págs.). No entanto, desde 2011 esse modelo tem sido
colocado em xeque por seus respectivos movimentos estudantis e associações
de professores, ao ponto de, no último semestre, terem-se tornado tema
decisivo nas últimas disputadas eleitorais regionais.
[image: Quebec01]<http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/quebec01/>

Estudantes quebequenses protestam contra a alta nas universidades.

Os dois países foram tomados por grandes manifestações populares exigindo
um ensino público gratuito e de
qualidade<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13888&Itemid=86>.
No Chile, os protestos se iniciaram em março de 2011 e contribuíram para
derrotas importantes da coalizão do presidente Sebastián Piñera nas
eleições municipais realizadas em outubro – o que pode vir a ser uma prévia
a disputa presidencial no fim deste ano.

Já a aparentemente calma província canadense do Quebec – que vive uma
histórica tensão separatista com o resto do país – passou por um processo
de ebulição iniciado em abril de 2011, quando o governo local – comandado
pelo liberal Jean Charest – anunciou que iria aumentar as taxas das
instituições públicas de ensino em 75% nos próximos cinco anos.

Os estudantes não aceitaram e saíram às ruas para pedir reformas profundas
em todo o sistema educacional. O governo chegou a aprovar uma lei que
restringia protestos nas ruas, o que só serviu para aumentar a popularidade
das mobilizações, obrigando Charest a antecipar a eleição provincial para
agosto de 2012<http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/24104/apos+meses+de+protestos+estudantis+provincia+do+quebec+realiza+eleicao+decisiva.shtml>.
Resultado: vitória da oposição, os nacionalistas do Partido Quebequense.
Embora a nova premiê Pauline Marois não tenha prometido realizar mudanças
significativas, ao menos interrompeu o processo de desmantelamento do
ensino público capitaneada por Charest, que, por sua vez, não conseguiu
sequer manter o próprio assento no Parlamento.


-- 
carlos palombini
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