[ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Qua Jan 30 18:31:58 BRST 2013


Caros Lucas, Silvio e colegas/professores, 

  Eu estava pensando há dias nesse assunto. 
  Confraternizo-me com as questões levantadas. Partamos da consideração de que 1) Um dos problemas da performance artística (e da composição experimental de vanguarda) é ter um espaço para resguardo das exigências profissionais de mercado e instituições promotoras de concertos para desenvolver pesquisa especulativa e 2) Que esse espaço tem sido suprido em parte pela pesquisa na universidade nos seus modelos que melhor reconhecem a produção artística... 
    Então quais as consequencias de um mestrado profissionalizante que, se entendi bem, propõe retirar a ênfase da reflexão teórica, resguardada para professores de cátedra e pesquisadores, e enfatizar a prática como aplicação das teorias? Ou seja, separar teoria de prática exatamente num momento em que cresce um movimento de integração entre essas instâncias?
   Me parece que o que está em questão aqui não é nem reduzir a importância e a presença da teoria e da reflexão, que renova e retira o gesso das práticas tecnológicamente aplicadas (frequentemente irrefletidas, que seguem se reproduzindo por que "sempre se fez assim", por que "assim funciona"), mas da manutenção do modelo de separação entre teoria e prática. Ora, as artes são justamente o território em que as duas coisas se mesclam de maneira mais exemplar! São o terreno em que a investigação histórica e a pesquisa tem maiores consequencias no desenvolvimento e aprofundamento das produções... um mestrado profissionalizante não seria a instauração de um preceito questionavel, o de que na música se dividem as pessoas entre os que pensam e ensinam e os que fazem e praticam? 
    Outro ponto é a vinculação da pesquisa academica a instituições de interesse. Esse modelo já solapou muitas pesquisas especulativas que não despertam interesse do mercado, mas que nem por isso são menos importantes ou tem menos consequencias para o que se faz nas diversas áreas. Me parece que a academia acaba reconhecendo o seu lugar como patrocinadora e vincula esse patrocínio a um setor de estudo, dividindo o que deveria estar integrado. Ou seja, a universidade pública casa-se com o mercado profissional no nível da pos-graduação.
    Em todo o caso, essa crítica não diminui o reconhecimento da importância da iniciativa e a torcida para que as coisas aconteçam da melhor maneira possivel. Se os professores da UFBA estão encontrando esse caminho, com certeza é por bons motivos. Só torço para que o diálogo de ideias das diversas áreas permaneça mais fluido ainda, já que estão se separando quase que institucionalmente.

Abraços, 

Luciano Morais


--- Em qua, 30/1/13, silvioferrazmello em uol.com.br <silvioferrazmello em uol.com.br> escreveu:

De: silvioferrazmello em uol.com.br <silvioferrazmello em uol.com.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA
Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>, professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com
Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 11:04


Caros Lucas e colegas,

A proposta da UFBA é bastante interessante, e tem de ser parabenizada.
Porém ela dá a volta sem resolver um problema fundamental: a contínua separação entre performance, criação e reflexão conceitual (ou teórica).
Tanto a produção composicional e de performance devem ser consideradas produções acadêmicas (aquelas que se dão na academia), não se distinguindo da conceitual, nem sendo complementares umas às outras.
Uma tese em matemática pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de cálculo, que apenas os matemáticos entendem, por que uma tese em música não pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de partitura ou 2 horas de gravação, que só os músicos entendem?
Por que a música, pelo seu flerte com as ciências humanas, tem de se submeter a mecanismos intelectuais do século XIX?

Por que não podemos assumir a posição de uma ciência a parte, um real estética (ciência do sensível) e com isto reservar lugar digno para a produção do musicólogo (esta conceitual ou história) e para a produção musical (em teses e dissertações focadas em suas práticas, nas quais os textos não necessariamente se constituam em trabalhos conceituais ou teóricos).
Claro que o texto clarifica uma proposta, ele introduz, apresenta uma proposta composicional ou de performance, mas ele não pode ser o único resultado esperado deixando à prática o lugar de campo de experimentação.

Mas de qq maneira, parabenizo a iniciativa, pois já coloca a prática em algum lugar na produção acadêmica.
Apenas pergunto se já não estaria na hora de assumirmos nossas produções musicais em sua íntegra.
Se não formos nós a fazer tal mudança, sem dúvida ela não será feita pelo departamento de engenharia elétrica.

abs
Silvio Ferraz
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