[ANPPOM-Lista] Fundamentação Teórica?

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Ter Mar 12 16:56:43 BRT 2013


Olá professor,

Como tu mesmo disseste, meus dois "ex"-professores trabalham arduamente por fora da Universidade para fazer Arte. Porém, a questão que desejo propor aqui é: por que a Universidade, ao assumir seu caráter plural e buscando se aproximar cada vez mais da prática de forma integrada com a teoria, não assume e reconhece as especificidades de cada área, ao invés de focar sempre na abordagem teórico-técnica? Por que a Universidade não pode incentivar, contribuir e valorizar a produção cultural e respeitar suas particularidades, da mesma forma que faz com a produção científica?

Precisamos urgentemente de mudanças, pois este mesmo cenário faz com que meus "ex-"professores tem de recorrer a mecanismos fora da Universidade, porque dentro dela, seu trabalho não está adequado aos padrões da academia, e - consequentemente - não é  devidamente valorizado.

Creio ser muito vago acreditar que a Universidade, só por estar vinculada ao Ministério da Educação, não possa contemplar também questões da Cultura. Ainda mais porque o Ministério da Cultura também não está preocupado com o artista, mas com o produto cultural, e não há políticas que garantam a sobrevivência do artista e - consequentemente - da arte. E falar em Ministério não significa ser subordinado a ele. Se pensarmos assim, voltamos à Ditadura.

Agora, fazer o mais "fácil" é justamente o que a maioria das pessoas fazem. Seria muito fácil produzir arte em outro lugar, e usar a Universidade só pra dar minha aulinha e ir embora. Seria muito mais fácil não me propor a dialogar sobre isso, ou não estar na Lista da ANPPOM nem "dar minha cara a tapa" expondo minhas ideias. E - lógico - seria muito mais fácil não propor nenhum projeto de Extensão, já que ele não supera as fronteiras da "Ciência sem Fronteiras". Mas ao vivenciar esse problema, prefiro falar, pois é por questões como essa que meus "ex-"professores - artistas de reputação internacional - acabam por buscar apoio fora da Universidade, devido aos problemas que a estrutura universitária possui no Brasil.

Então, estou disposto a buscar uma estrutura que contemple de fato a produção artística, pois ela constitui a essência e o diferencial de nossa área. Ela deve conviver - e não substituir ou ser equivalente - com a pesquisa. Mas que se assumam que são questões diferentes e enriquecedoras, cada uma com suas características, e que a Universidade deve ampliar sua visão "lógico-racional" (cuja restrição pode muito bem ser comparada ao "teocentrismo" da Idade Média e seus Feudos). Obviamente será um caminho longo e árduo, mas acredito que estamos dando os primeiros passos. E sei que muitos colegas também solidarizam com nossa posição.

Abraço,

Daniel Lemos Cerqueira 
Coordenador de Música 
Coordenador do PIBID de Artes 
Membro da COPEVE 
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) 
http://musica.ufma.br


--- Em seg, 11/3/13, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com> escreveu:

De: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Fundamentação Teórica?
Para: anppom-l em iar.unicamp.br
Data: Segunda-feira, 11 de Março de 2013, 22:59


Daniel,

"Fundamentação teórica" não é e nunca foi "justificativa"; são dois sub-itens distintos de um projeto de pesquisa.

Se você acha que isso tudo é blablablá, é muito simples, seja honesto e não faça. Há tantos e tão bons artistas que não necessitam de verbas "de pesquisa" para fazer arte, e.g., dois de seus ex-professores de piano. O MEC, apesar do nome, é o Ministerio da Educação, e não da Cultura. 


Os "artistas acadêmicos" precisam de blablablá exatamente por serem o que são.

Abraço,
Carlos

2013/3/11 Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>


Prezados,


Estou encaminhando um projeto de extensão na UFMA chamado "Grupo Musical". O projeto consiste em criar uma equipe de seis participantes de qualquer formação musical (instrumentistas/cantores, com a possibilidade de um compositor/arranjador), tratando-se de uma proposta bem flexível, cuja formação e repertório serão modificados e definidos no início de cada semestre. Seu objetivo central é apresentar o repertório trabalhado em no mínimo quatro recitais ao final do semestre, em espaços diferentes da UFMA. Trata-se de uma necessidade há muito mencionada por alunos, professores do curso e da comunidade acadêmica em geral (se somos músicos, por que não tocamos?).


Bem, ao (tentar) cadastrar este projeto no SIGProj - a plataforma do MEC para projetos - deparei-me com o tópico "Fundamentação Teórica". Obviamente, a
 plataforma está adaptada para projetos em geral, e não há nenhuma preocupação em oferecer uma plataforma específica para projetos artísticos e culturais - apesar do MEC acreditar que só por haver palavras-chave como "Cultura" e "Arte" já seria suficiente.


Assim, fica aqui a minha questão: se eu deixar em branco, corro o risco de ter o projeto reprovado. Agora, criar uma fundamentação teórica para justificar a "importância da Música" e da "Performance Musical" é um tanto quanto estúpido, bizarro e grotesco. 


Obviamente, posso justificar que a Performance Musical é uma das práticas mais diversificadas da atividade humana, pois envolve Biologia/Fisiologia/Anatomia/Educação Física - o corpo, as técnicas instrumentais - Psicologia Cognitiva/Neurociência - a aquisição das habilidades e desenvolvimento do controle motor - História/Musicologia, Antropologia/Geografia - a Composição como elemento de construção da
 indentidade de um povo - Física/Acústica/Matemática, bla, bla... bla.... mas me digam:

Pra quê?

Será que os artistas acadêmcias agora tem sempre que ficar justificando porque a prática artística é importante?





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