[ANPPOM-Lista] avaliação qualitativa

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Sáb Maio 11 16:51:15 BRT 2013


Muito se tem falado, com mais ou menos propriedade, contra as avaliações
quantitavivas. A avaliação qualitativa, por outro lado, só tem sido
discutida nos termos de queixumes contra o qualis. O qualis certamente
apresenta problemas. Em resumo, não vejo ali nada de qualitativo. Todos os
seus oito estratos, exceto o C, de peso 0, começam com a mais infeliz das
frases: "Publicações reconhecidas pela área, seriadas e arbitradas e
dirigidas à comunidade acadêmico-científica, que atendam às normas da ABNT
ou equivalente (no exterior) [...]" Eu diria, ao ler isso, que os melhores
textos tenham as melhores chances de estar em periódicos de peso 0 ou no
exterior, onde nada de equivalente existe para publicações científicas. Nas
publicações anglo-saxãs, quem determina aquilo acerca do qual, no Brasil, a
ABNT legisla, é precisamente cada periódico e cada editora. Como essas
sabem bem que diferentes tipos de pesquisa (numa mesma área, inclusive) se
apresentam melhor através de sistemas de referência distintos, elas
imprimem manuais tão precisos que se dão ao trabalho de oferecer um
conjunto de modelos de referência associados aos tipos de pesquisa que via
de regra lhes correspondem. E me parece evidente que uma das
responsabilidades do pesquisador é definir o sistema que se coaduna com sua
pesquisa. Só há uma maneira de avaliar a qualidade de um periódico: lê-lo.

Numa entrevista recente, contudo, meu colega Vitor Haase, do departamento
de Psicologia da UFMG, apresentou o problema sob outro ponto de vista: o de
uma psicopatologia coletiva. O texto integral encontra-se aqui:

http://scienceblogs.com.br/socialmente/2012/03/psicologia-brazuca-vitor-haase-e-a-neuropsicologia/

Refiro-me diretamente a este excerto:

Vou encerrar a resposta a esta pergunta comentando sobre um paradoxo e
> contrastando o ambiente intelectual brasileiro com o ambiente intelectual
> em outros países.
>
> O paradoxo é o seguinte: Os mesmos grupos e correntes que argumentam em
> favor da transformação da realidade, da aceitação e convivência com as
> diferenças, pela diversidade etc. e tal, são justamente aqueles que na
> academia tentam eliminar as formas rivais de pensamento de maneiras por
> vezes abjetas, incluindo perseguições, humilhações e desmoralização de
> colegas, como tantas vezes já tive oportunidade de testemunhar. O paradoxo
> aparente é o fato de as mesmas pessoas que argumentam contra o preconceito
> e pela diversidade comportarem-se de forma hegemônica em relação aos que
> divergem do seu pensamento. Parece que eles propugnam um tipo bem
> específico de diversidade, uma diversidade enviesada, abrangendo apenas um
> segmento do espectro de opções possíveis. Isto leva a uma forma de
> pensamento dicotômico, de nós contra eles, de luta da forças do bem e do
> “progresso” contra as forças da reação, do mal. Mas o paradoxo é apenas
> aparente, desaparecendo quando lembramos que somos todos seres humanos e
> que as associações entre conspecíficos são reguladas de modos bastante
> típicos, os quais são extensivamente investigados pela psicologia social.
> A última questão diz respeito à comparação do panorama intelectual
> brasileiro e internacional. O nível dos debates no Brasil é muito baixo,
> muito ideologizado, contrastando com o que se observa em congressos
> internacionais e em instituições universitárias de outros países.
>

cp
-- 
carlos palombini
pesquisador visitante, centro de letras e artes, unirio
ufmg.academia.edu/CarlosPalombini
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