[ANPPOM-Lista] avaliação qualitativa

Damián Keller musicoyargentino em gmail.com
Dom Maio 12 13:32:13 BRT 2013


Oi Carlos,

Obrigado pelo link para o trabalho do grupo de cognição social da UnB.
Tem vários artigos interessantes aí:
http://scienceblogs.com.br/socialmente/category/cognicao-social/

Sobre os comentários de Vitor Haase, eles foram separados do contexto.
Ele está argumentado explicitamente a favor da aplicação do método
científico e faz uma crítica aguda à postura anticientífica na
universidade brasileira:

VH:
> O resultado deste processo, na minha avaliação, é uma hegemonia de atitudes anticientíficas nas universidades brasileiras atuais. O ambiente entre professores e alunos é majoritariamente hostil à pesquisa científica, à testagem de hipótese e à busca de neutralidade no conhecimento científico. Todo um castelo de construções teóricas foi construído, procurando argumentar que não existe neutralidade na pesquisa, que interesses econômicos e de dominação são os motivos verdadeiros subjacentes à pesquisa, que a ciência é um aparelho ideológico do estado, um instrumento de dominação e hegemonia e etc.

> A crítica ideológica é o caminho do menor esforço. Não há necessidade de ralar, de malhar, de estudar epistemologia, estatística, de aprender neuroanatomia, epidemiologia clinica, matemática, programação de computadores, controle de variáveis etc. Basta se apossar de um referencial teórico mínimo e sair por aí “interpretando”.

O resumo desse enfoque está neste parágrafo:
> Na tradição hermenêutica, que caracteriza o existencialismo/humanismo, psicanálise e psicossociologia, o objetivo da psicologia é construir um referencial interpretativo que auxilie na atribuição de sentido psicológico à experiência subjetiva humana. Se caracterizarmos a ciência pelo método hipotético-dedutivo-experimental, então estas disciplinas não são ciência. Seu conhecimento é de outro tipo. Mais relacionado com a sabedoria. Eu gosto de pensar assim: a perspectiva hermenêutica trata a experiência subjetiva como variável independente, quase lhe atribuindo um estatuto de fator explicativo causal. Já na perspectiva científico-natural, a subjetividade é concebida como uma variável dependente, ou seja, algo que precisa ser explicado em função de fatores genéticos, da estrutura anátomo-funcional do cérebro, das experiências de aprendizagem etc.

Os exemplos que VH menciona, justamente apoiam a ideia de que as
ciências humanas precisam de métodos quantitativos:

> Nos países de língua alemã, p. ex., o curriculum de graduação em psicologia pode compreende até uma dúzia de disciplinas relacionadas a métodos quantitativos, tais como estatística, programação, psicometria, metodologia experimental. O aluno sai do curso de graduação com uma base matemática e metodológica que foge ao alcance da imaginação dos nossos estudantes e professores. A psicologia é concebida como uma ciência e os seus conceitos e métodos precisam ser validados através do teste de hipóteses.

Sinceramente, ao ler os argumentos de Vitor Hasse ou de Sidarta
Ribeiro ou de Suzana Herculano-Houzel (pesquisadores da área de
humanas) não vejo nenhum apoio para a exclusão do método científico.
Inclusive, eles são altamente críticos das posturas que excluem o
método científico como ferramenta de conhecimento e sugerem (como no
parágrafo acima) que os métodos inferenciais podem conviver com outros
métodos.

Abraços,
Damián



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