[ANPPOM-Lista] RES: Marinetti, futurismo e barulhentos

jose henrique padovani zepadovani em gmail.com
Ter Nov 5 22:59:15 BRST 2013


Minha mãe, na infância, foi vizinha de Russolo entre 42 e 45, quando muitos
que eram de Milão (como o próprio Russolo) buscaram refúgio em Laveno.
Ele tinha intonarumori no porão de sua casa em Cerro (meu avô e meus tios
chegaram a ver, ficando impressionadíssimos). Enfim, não sei ao certo se
foram todos destruídos: não há dúvida que especialmente a partir de 1942
qualquer um tivesse sido ligado ao fascismo quisesse esconder-se junto com
seus documentos em "um porão".
Assim como não dá pra saber que loucura levou essa gente toda a ter
posições tão caricatas e extremadas. Minha impressão é que seguiram na
contramão desse furor que foi o fascismo e o nacionalismo italianos: acho
(e é só achismo) que eram mais fascistas e lunáticos em 1913 que em 1945
(época em que ele jogava bocha em Laveno e já era um tanto mais naïf no que
se refere a estilo pictórico. Ficou até o fim da vida por lá, o que
provavelmente indica que recolheu-se mesmo...).

Em Londrina devo falar um pouco disso a partir de uma conversa que tive com
minha mãe. Apesar de muito nova na época (ela é de 35), ela passa um
retrato da situação mais "doméstico"... uma referência interessante é um
livro recente de Luciano Chessa. (o título exato me foge agora, mas tá na
Amazon)

abs.
josé henrique

PS: Meu tio, que chegou a ser padre aqui no Brasil, ainda vive lá... vende
vinhos, cigarros e jornais. rsrs. ele foi pintado por Russolo na época da
guerra.



Em 5 de novembro de 2013 11:03, Heloísa e Wagner Valente <
whvalent em terra.com.br> escreveu:

> Caro maestro e demais,
>
>
>
> Agradeço as informações sobre o tema, sempre interessante!
>
> Incluindo mais uma nota no assunto, o artigo “Da estética à política: as
> duas visitas de Marinetti ao Brasil”, de Orlando de Barros (In: Weyraycg,
> Cléia S.; Fontes, M. A.:R; Avella, A. A. (orgs.): Travessias Brasil- Itália
> (Ed. Uerj, 2007) traz um interessante relato sobre o assunto.
>
> Abraço, Heloísa
>
> *De:* anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:
> anppom-l-bounces em iar.unicamp.br] *Em nome de *Jorge Antunes
> *Enviada em:* domingo, 3 de novembro de 2013 21:37
> *Para:* Acácio Piedade; Flavia Toni; ANPPOM-L; Hugo Leonardo Ribeiro
> *Assunto:* Re: [ANPPOM-Lista] LONDRINA, de 12 a 15 de novembro
>
>
>
> Colegas:
>
>
>
> Estou um tanto quanto surpreso ao ter notícia de que colegas se
> surprenderam com a história do futurismo italiano, Marinetti, Russolo,
> Pratella, Piati, e suas ligações com o fascismo.
>
> Surpreso fico também em saber que poucos conhecem a história das ligações
> de Marinetti, o futurismo e o movimento integralista no Brasil.
>
>
>
> Mussolini organizou em 28 de Outubro de 1922, a Marcha sobre Roma,
> promovendo uma passeata de cerca de 50 mil fascistas em Roma. Pressionado,
> o rei Vítor Emanuel III encarregou Mussolini de formar um novo governo, em
> 28 de Outubro de 1922.
>
>
>
> Em 1919 Marinetti alistou-se no exército italiano, defendeu a intervenção
> italiana na guerra e ingressou no Partido Nacional Fascista. Politicamente
> foi um ativo militante fascista e chegou a afirmar que a ideologia do
> partido representava uma extensão natural das idéias futuristas.
>
> O Futurismo italiano foi uma das influências da Semana de Arte Moderna de
> 1922.
>
>
>
> Em 1926 Marinetti visita São Paulo, onde dá palestras.
>
>
>
> Marinetti morreu em 1944.
>
>
>
> Em abril de 1945 Mussolini foi enforcado, com a esposa, em praça pública:
>
> http://www.youtube.com/watch?v=PcnfH4ZPLCE
>
>
>
> Os* intona rumori *de Russolo foram todos destruídos, em Milão, na II
> Guerra Mundial.
>
>
>
> Luigi Russolo morreu dois anos depois de Mussolini:1947.
>
>
>
> Com a derrota do nazismo e do fascismo, a Signora María Russolo, viuva de
> Luigi Russolo, escondeu tudo que era do marido.
>
> Somente dez anos depois, em 1957, toda a obra de Russolo começou a ser
> recuperada: inclusive alguns pedaços dos *intona rumori*: molas,
> manivelas etc. E também suas telas.
>
>
>
> O autor da façanha foi Fred K. Prieberg, durante sua visita a Cerro di
> Laveno, na província de Varese, junto ao Lago Maggiore, no m*e*s de março
> de 1957.
>
> Em 1957, com o fascismo e o nazismo já um tanto longe e esquecido, a Sra.
> Russolo teve coragem de abrir seus baus trancados, para a pesquisa do Sr.
> Prieberg.
>
>
>
> Toda essa história, e muito mais, é contada por Fred Prieberg em seu livro
> MUSICA EX MACHINA.
>
>
>
> PRIEBERG, Fred K. *Musica ex Machina*. Verlag Ullstein; Berlim: 1960.
>
>
>
> Ou na tradução:
>
> PRIEBERG, Fred K. *Musica ex Machina*.Trad. Juan Godo Costa; Ediciones
> Zeus. Barcelona: 1964.
>
>
>
> Para quem quiser se aprofundar no Futurismo, existe um outro bom livro no
> Brasil:
>
> BERNARDINI, Aurora F. (org.). *O Futurismo Italiano*. Ed. Perspectiva,
> Coleção Debates. São Paulo: 1980
>
>
>
> A partir de 2001, grupos e músicos em Milão e nos Estados Unidos vêm
> fazendo um trabalho de recuperação do nome, da história e dos instrumentos
> de Russolo.
>
> http://www.youtube.com/watch?v=BbbmPD7NuDY
>
> http://www.youtube.com/watch?v=oqgyXiR_WH4
>
> http://www.youtube.com/watch?v=BYPXAo1cOA4
>
> http://www.youtube.com/watch?v=Lqej96ZVoo8
>
>
>
> Abraços,
>
> Jorge Antunes
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
> Em 3 de novembro de 2013 14:03, Acácio Piedade <acaciopiedade em gmail.com>
> escreveu:
>
> Caro Jorge Antunes
>
> Gostei do post sobre os futuristas, como  o Hugo Ribeiro, e fiquei curioso
> sobre a ligação de Russolo com o fascismo, nunca li a respeito. Eu tinha
> para mim que ele era ligado ao anarquismo!
>
> Abraços
>
> Acácio Piedade
>
>
>
>
>
> Em 2 de novembro de 2013 19:30, Hugo Leonardo Ribeiro <hugoleo75 em gmail.com>
> escreveu:
>
>
>
> Que belo post. Obrigado por essas informações. Realmente são muito
> interessantes. E é realmente uma pena que a ideologia de determinadas
> pessoas acabem por ofuscar suas produções. Assim como comunistas foram e
> são ofuscados em regimes ditatoriais de direita ou extremamente liberais.
>
>
>
> É o preconceito às avessas.
>
>
>
> Hugo
>
>
>
> Em 2 de novembro de 2013 12:08, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
>
> De 12 a 15 de novembro será realizado, em Londrina, Paraná, um importante
> Festival dedicado a celebrar o uso dos ruídos em música.
>
>
> MUSICA E ECOLOGIA SONORA__CEM RUIDOS
>
> O momento de realização do evento é oportuno, porque em 2013 estão se
> completando 100 anos da publicação do tratado "A Arte dos Ruídos" (L'arte
> dei rumori), um manifesto futurista do italiano Luigi Russolo.
> Luigi Russolo foi um pintor e compositor Itáliano, futurista, autor da
> L'Arte dei Rumori e Música Futurista.
>
> Russolo, tal como seus colegas do movimento futurista (Marinetti,
> Pratella), eram fascistas, admiradores da ideologia de Mussolini. Por essa
> razão as pesquisas artísticas dele andaram engavetadas, escondidas, por
> muito tempo.
>
> A celebração do ruído se encaixava nas ideologias fascistas e futuristas,
> ao preconizar a guerra como higiene da humanidade. Marinetti exaltava o
> ruidismo: os tiros de canhão, os tiros de pistolas, os gritos desesperados,
> o barulho ensurdecedor das máquinas que surgiam no início da era industrial.
>
> Mario de Andrade ficou um tanto quanto fascinado pelo movirmento, e também
> andou escrevendo poemas "ruidosos", onopatopaicos, exaltando os ruídos dos
> bondes e outras máquinas.
> Marinetti esteve em São Paulo em 1926, recepcionado por Ronald de
> Carvalho, Sérgio Buarque de Holanda, Renato Almeida, Prudente de Morais
> Neto, Manuel Bandeira, Henrique Pongetti, Tasso da Silveira, Agrippino
> Grieco e Graça Aranha.
> Claro, os integralistas da época, como Menotti Del Picchia, Plinio
> Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, também passaram a colocar suas
> manguinhas fascistas de fora.
> O nome de Filippo Marinetti foi dado a uma rua paulista. A Rua Filipe
> Marinetti fica em São Mateus, São Paulo, ali perto da Praça Cattaruza.
>
> Enfim. Isso é passado um tanto quanto vergonhoso, mas o fato é que o uso
> do ruído em música se estabeleceu, para aumentar nossa paleta sonora.
>
> Em 1970, quando ninguém ainda preconizava ostensivamente a Ecologia e
> muito menos a Reciclagem, eu fui pioneiro nessas áreas compondo a obra
> "Music for Eight Persons Playing Things", em que músicos tocam latas,
> garrafas, vasilhames de plásticos, copos, tubos de papelão, tubos de ferro,
> caixas com bolas de gude, parafusos, porcas, fichas de plástico, extintores
> de incêndio etc.
> A obra, composta na Holanda em 1970, quando eu era um jovem bolsista do
> governo holandês, ganhou o Premio Avro, da Semana Gaudeamus da Holanda, em
> 1971.
>
>
> Você pode ouvir a composição aqui:
> https://soundcloud.com/leonardo-bertolini-labrada/music-for-eight-persons
>
> TODOS A LONDRINA !
> de 12 a 15 de novembro
>
>
>
> abraços barulhentos,
>
> Jorge Antunes
>
>
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> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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