[ANPPOM-Lista] RES: Marinetti, futurismo e barulhentos

Heloísa e Wagner Valente whvalent em terra.com.br
Ter Nov 5 12:03:54 BRST 2013


Caro maestro e demais,

 

Agradeço as informações sobre o tema, sempre interessante!

Incluindo mais uma nota no assunto, o artigo “Da estética à política: as
duas visitas de Marinetti ao Brasil”, de Orlando de Barros (In: Weyraycg,
Cléia S.; Fontes, M. A.:R; Avella, A. A. (orgs.): Travessias Brasil- Itália
(Ed. Uerj, 2007) traz um interessante relato sobre o assunto.

Abraço, Heloísa

De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de Jorge Antunes
Enviada em: domingo, 3 de novembro de 2013 21:37
Para: Acácio Piedade; Flavia Toni; ANPPOM-L; Hugo Leonardo Ribeiro
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] LONDRINA, de 12 a 15 de novembro

 

Colegas:

 

Estou um tanto quanto surpreso ao ter notícia de que colegas se surprenderam
com a história do futurismo italiano, Marinetti, Russolo, Pratella, Piati, e
suas ligações com o fascismo.

Surpreso fico também em saber que poucos conhecem a história das ligações de
Marinetti, o futurismo e o movimento integralista no Brasil.

 

Mussolini organizou em 28 de Outubro de 1922, a Marcha sobre Roma,
promovendo uma passeata de cerca de 50 mil fascistas em Roma. Pressionado, o
rei Vítor Emanuel III encarregou Mussolini de formar um novo governo, em 28
de Outubro de 1922.

 

Em 1919 Marinetti alistou-se no exército italiano, defendeu a intervenção
italiana na guerra e ingressou no Partido Nacional Fascista. Politicamente
foi um ativo militante fascista e chegou a afirmar que a ideologia do
partido representava uma extensão natural das idéias futuristas.

O Futurismo italiano foi uma das influências da Semana de Arte Moderna de
1922.

 

Em 1926 Marinetti visita São Paulo, onde dá palestras.

 

Marinetti morreu em 1944.

 

Em abril de 1945 Mussolini foi enforcado, com a esposa, em praça pública:

http://www.youtube.com/watch?v=PcnfH4ZPLCE

 

Os intona rumori de Russolo foram todos destruídos, em Milão, na II Guerra
Mundial.

 

Luigi Russolo morreu dois anos depois de Mussolini:1947.

 

Com a derrota do nazismo e do fascismo, a Signora María Russolo, viuva de
Luigi Russolo, escondeu tudo que era do marido.

Somente dez anos depois, em 1957, toda a obra de Russolo começou a ser
recuperada: inclusive alguns pedaços dos intona rumori: molas, manivelas
etc. E também suas telas.

 

O autor da façanha foi Fred K. Prieberg, durante sua visita a Cerro di
Laveno, na província de Varese, junto ao Lago Maggiore, no mes de março de
1957.

Em 1957, com o fascismo e o nazismo já um tanto longe e esquecido, a Sra.
Russolo teve coragem de abrir seus baus trancados, para a pesquisa do Sr.
Prieberg.

 

Toda essa história, e muito mais, é contada por Fred Prieberg em seu livro
MUSICA EX MACHINA.

 

PRIEBERG, Fred K. Musica ex Machina. Verlag Ullstein; Berlim: 1960.

 

Ou na tradução:

PRIEBERG, Fred K. Musica ex Machina.Trad. Juan Godo Costa; Ediciones Zeus.
Barcelona: 1964.

 

Para quem quiser se aprofundar no Futurismo, existe um outro bom livro no
Brasil:

BERNARDINI, Aurora F. (org.). O Futurismo Italiano. Ed. Perspectiva, Coleção
Debates. São Paulo: 1980

 

A partir de 2001, grupos e músicos em Milão e nos Estados Unidos vêm fazendo
um trabalho de recuperação do nome, da história e dos instrumentos de
Russolo.

http://www.youtube.com/watch?v=BbbmPD7NuDY

http://www.youtube.com/watch?v=oqgyXiR_WH4

http://www.youtube.com/watch?v=BYPXAo1cOA4

http://www.youtube.com/watch?v=Lqej96ZVoo8

 

Abraços,

Jorge Antunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 3 de novembro de 2013 14:03, Acácio Piedade <acaciopiedade em gmail.com>
escreveu:

Caro Jorge Antunes

Gostei do post sobre os futuristas, como  o Hugo Ribeiro, e fiquei curioso
sobre a ligação de Russolo com o fascismo, nunca li a respeito. Eu tinha
para mim que ele era ligado ao anarquismo! 

Abraços

Acácio Piedade

 

 

Em 2 de novembro de 2013 19:30, Hugo Leonardo Ribeiro <hugoleo75 em gmail.com>
escreveu:

 

Que belo post. Obrigado por essas informações. Realmente são muito
interessantes. E é realmente uma pena que a ideologia de determinadas
pessoas acabem por ofuscar suas produções. Assim como comunistas foram e são
ofuscados em regimes ditatoriais de direita ou extremamente liberais.

 

É o preconceito às avessas.

 

Hugo

 

Em 2 de novembro de 2013 12:08, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:

De 12 a 15 de novembro será realizado, em Londrina, Paraná, um importante
Festival dedicado a celebrar o uso dos ruídos em música.


MUSICA E ECOLOGIA SONORA__CEM RUIDOS

O momento de realização do evento é oportuno, porque em 2013 estão se
completando 100 anos da publicação do tratado "A Arte dos Ruídos" (L'arte
dei rumori), um manifesto futurista do italiano Luigi Russolo.
Luigi Russolo foi um pintor e compositor Itáliano, futurista, autor da
L'Arte dei Rumori e Música Futurista.

Russolo, tal como seus colegas do movimento futurista (Marinetti, Pratella),
eram fascistas, admiradores da ideologia de Mussolini. Por essa razão as
pesquisas artísticas dele andaram engavetadas, escondidas, por muito tempo.

A celebração do ruído se encaixava nas ideologias fascistas e futuristas, ao
preconizar a guerra como higiene da humanidade. Marinetti exaltava o
ruidismo: os tiros de canhão, os tiros de pistolas, os gritos desesperados,
o barulho ensurdecedor das máquinas que surgiam no início da era industrial.

Mario de Andrade ficou um tanto quanto fascinado pelo movirmento, e também
andou escrevendo poemas "ruidosos", onopatopaicos, exaltando os ruídos dos
bondes e outras máquinas.
Marinetti esteve em São Paulo em 1926, recepcionado por Ronald de Carvalho,
Sérgio Buarque de Holanda, Renato Almeida, Prudente de Morais Neto, Manuel
Bandeira, Henrique Pongetti, Tasso da Silveira, Agrippino Grieco e Graça
Aranha. 
Claro, os integralistas da época, como Menotti Del Picchia, Plinio Salgado,
Miguel Reale, Gustavo Barroso, também passaram a colocar suas manguinhas
fascistas de fora.
O nome de Filippo Marinetti foi dado a uma rua paulista. A Rua Filipe
Marinetti fica em São Mateus, São Paulo, ali perto da Praça Cattaruza.

Enfim. Isso é passado um tanto quanto vergonhoso, mas o fato é que o uso do
ruído em música se estabeleceu, para aumentar nossa paleta sonora.

Em 1970, quando ninguém ainda preconizava ostensivamente a Ecologia e muito
menos a Reciclagem, eu fui pioneiro nessas áreas compondo a obra "Music for
Eight Persons Playing Things", em que músicos tocam latas, garrafas,
vasilhames de plásticos, copos, tubos de papelão, tubos de ferro, caixas com
bolas de gude, parafusos, porcas, fichas de plástico, extintores de incêndio
etc.
A obra, composta na Holanda em 1970, quando eu era um jovem bolsista do
governo holandês, ganhou o Premio Avro, da Semana Gaudeamus da Holanda, em
1971.


Você pode ouvir a composição aqui:
 <https://soundcloud.com/leonardo-bertolini-labrada/music-for-eight-persons>
https://soundcloud.com/leonardo-bertolini-labrada/music-for-eight-persons

TODOS A LONDRINA !
de 12 a 15 de novembro

 

abraços barulhentos,

Jorge Antunes

 

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