[ANPPOM-Lista] Para refletir!

Ale Fenerich fenerich em gmail.com
Qui Fev 27 11:42:11 BRT 2014


Só posso concordar com Daniel Puig e Carlos Palombini: não se faz mestrado
e doutorado para ter acesso a linhas de fomento; faz-se para desenvolver
uma pesquisa em música de cunho pessoal, e para transmitir esta pesquisa.
Ter acesso a esses meios de fomento não é um privilégio, mas acessá-los é
um dever do pesquisador. Mas este procurará as agências de acordo com as
pesquisas que realiza. Não entender essa dinâmica é revelar uma enorme
distorção e total cegueira institucional...

A universidade não formar bons instrumentistas (e isso é uma mentira, pois
forma muitos bons instrumentistas) não significa que deva excluir a
pesquisa em música nas suas diversas áreas. A diversidade e a intensidade
deveriam ser a marca dessa pesquisa. É problemas diferente se não há bons
instrumentistas na Universidade: não é o pesquisador que deveria suprir
esta lacuna, mas a instituição como um todo. Eu não sei quanto ao colega,
mas não me considero nem filósofo nem butequeiro no meu trabalho enquanto
artista, professor e pesquisador em música. E por isso mesmo valorizo meu
trabalho de pesquisador na sua especificidade e nas necessidades que
levanta, tanto materiais quanto humanas.

---

O artigo em questão não analisa a universidade brasileira no que ela tem de
esquizo: num mesmo curso pretende-se formar técnicos e pesquisadores
acadêmicos. A falta de clareza para o estudante e o próprio corpo docente
de qual foco deva tomar, a meu ver, é uma das principais razões pela qual a
pesquisa em música não tem a dimensão que gostaríamos, e a prática, idem.
No meu caso e no de inúmeros colegas, ministramos disciplinas demais, em
naturezas opostas, sendo também cobrados pela instituição para que sejamos
produtivos enquanto artistas e pesquisadores - atividades que exigem um
mínimo de foco. Não analisar este aspecto é tapar o sol com a peneira.

Mas não concordo absolutamente nem que, apesar de tudo, formemos apenas
maus instrumentistas ou compositores, nem que a pesquisa em música no
Brasil seja totalmente incipiente. Basta olharmos em volta.

Um abraço.



Em 27 de fevereiro de 2014 05:42, <rrrr em usp.br> escreveu:

> vamos recapitular o texto do tal Alexandre Barros (muito bem lembrado
> pelo Prof. Mario Marçal Jr), realmente vale a pena ler:
>
>
> http://ordemlivre.org/posts/sem-doutorado-entao-fora?fb_action_ids=10151995942207712&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1389838204606209%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D
>
> portanto, diz com bom humor que nas academias do Brasil de hoje ha mais
> burocracia que merito... so isso...
>
> abs a todos os colegas da ANPPOM,
>
> Rubens R. Ricciardi
>
>
>
>
>
> ------------------------------
>
> *De: *"Diósnio Machado Neto" <diosnio em gmail.com>
> *Para: *"Fernando" <corvisier em usp.br>
>
> *Cc: *"Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO" <
> anppomcadastro em gmail.com>
> *Enviadas: *Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 2:05:06
>
> *Assunto: *Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>
> Caros colegas,
>
> Acho que insistir na discussão do mérito sobre ter ou não ter o artista
> sem titulação dentro da universidade brasileira não é a questão. Acredito
> que o importante é como se ensina instrumento no Brasil e quais são as
> reais condições em que ocorre este ensino, ou mesmo como se forma o
> processo de aprendizado, desde a infra estrutura até a "superiorização"
> deste ensino. Planteado assim não há cabimento cruzamentos e transportes de
> realidades. É sintoma do colonialismo impresso nos gens que nos faz olhar
> para os Estados Unidos, ou mesmo para o Piauí desde São Paulo; ou de Tatuí
> para Maceió...
> Assim sendo, e sempre considerando que o ofício da música é tão importante
> como a ciência da música, e portanto um título não definiria a contenda, me
> permitam apenas apimentar a discussão considerando que a insistência na
> questão do título serve como um torniquete, que de tanto virar se esquece
> do fator primordial da exigência do título, que é dar condições de acesso
> às políticas de financiamento das agências, ampliando a capacidade de
> montagem de infra estruturas nos núcleos de ensino superior público. E a
> realidade é que esta ideia não tem prosperado, porque até onde percebo há
> poucos projetos de infra estrutura para ensino de instrumento financiados
> pelas agências de pesquisa. Não sei se isto é tão agudo como vejo e
> pergunto para quem sabe se assim é? E se isto for verdade, o processo de
> titulação torna-se inócuo. Logo seria melhor pensar em outras alternativas
> que deem mais impulso ao ensino de instrumento. E é neste ponto que quero
> me dispor e expor minha visão.
> Primeiro quero dizer que, apesar dos muitos avanços, significativos e do
> tamanho e méritos das notas de avaliação que vemos, por exemplo, na UFRGS,
> mudar a forma de ingresso do professor na universidade na nossa realidade é
> tanto mais difícil do que parece ser entender, e usar, as possibilidades de
> articulação que estão disponíveis dentro do próprio sistema. Para mim, o
> que aponta o Rodolfo poderia ser sanado se as instituições superiores de
> ensino técnico, como no caso das Fatecs paulistas, assumissem o que é
> difícil para a universidade, ou seja, montar a imensa estrutura que é
> necessária para capacitar o jovem no aprendizado de um instrumento. Pode
> parecer simplista, mas o que vejo hoje no Brasil é o aluno que quer ser um
> instrumentista privado de ambientes fundamentais para seu desenvolvimento,
> simplesmente porque a universidade tem protocolos de contratação e gastos
> que não são condizentes com o que necessita o instrumentista para se
> desenvolver; pergunto onde no Brasil há um orquestra-disciplina que dê
> oportunidade para o instrumentista aprender a tocar um repertório que vai
> de Mozart a Mahler? Isto pode se desdobrar para música de câmara, e tantas
> outras áreas do aprendizado do instrumento.  É só imaginar que boa parte
> dos músicos de orquestra em São Paulo, por exemplo, tiveram seu treinamento
> na Orquestra Experimental de Repertório (e aqui fica minha homenagem ao
> Jamil Maluf) e não numa disciplina regular e nos corpos musicais nas
> diversas escolas de música espalhadas em três universidades públicas!!!!!
> Em suma, o problema está além de ter ou não o professor artista. Está nas
> possibilidades, reais, de infraestrutura de ensino e, também, na formação
> de uma mentalidade do professor titulado em buscar as vias de financiamento
> que lhe permite o título. E isto articula-se também por definir melhor uma
> política institucional sobre a música na universidade, pois parece que
> queremos tudo, mas podemos bem pouco! Esta condição que nos fragiliza ao
> requerer paridade do artista com o cientista (e por favor me poupem de
> explicação da natureza de um e de outro, pois ambos formam o arabesco do
> saber e sentir humano)
> Logo, mesmo que sem expor outros argumentos, acho que o problema como
> exposto parece ser mais uma questão de reconhecimento do artista diante do
> saber científico (que é filosófico e butequeiro ao mesmo tempo) do que a
> disposição de criar estruturas competentes para o desenvolvimento do jovem
> instrumentista, que o título permite (e até acho justo bradar contra isto,
> mas aí é outro departamento).
> Atenciosamente,
> Diósnio Neto
>
>
> No dia 26 de Fevereiro de 2014 às 09:24, <corvisier em usp.br> escreveu:
>
>> Caro Rodolfo,
>>
>>
>>
>> Acho que você se enganou. Existem sim professores artistas, sem
>> doutorado, lecionando em tempo integral  nas universidades estatais
>> americanas. Posso citar um exemplo do meu ex-professor de piano  e um
>> notável artista Abbey Simon, que apesar dos seus 91 anos,  ainda leciona em
>> tempo integral na Universidade de Houston.
>>
>>
>> Fernando Corvisier
>>
>> ------------------------------
>>
>> *De: *rcoelho em usp.br
>> *Para: *"Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
>> *Cc: *"Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO" <
>> anppomcadastro em gmail.com>
>> *Enviadas: *Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2014 18:04:03
>> *Assunto: *Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>
>>
>> Meu caro Mario,
>>
>> Nem tão bom assim. Quem conheceu de perto a vida universitária americana
>> (fiz doutorado e pós-doc por lá) sabe que esse artigo é falacioso.
>>
>> O primeiro aspecto a considerar é que as universidades americanas
>> mencionadas são privadas. E mesmo quando (parcialmente) estatais tem uma
>> autonomia muito maior do que as nossas públicas. Lembre-se que as
>> universidades brasileiras privadas também podem contratar (e contratam)
>> professores sem doutorados e mestrados. Às vezes até despedem um professor
>> quando ele completa uma titulação porque o salário deveria aumentar
>> (conheço colegas que viveram essa experiência).
>>
>> Na prática, na área de música, nunca conheci um professor de universidade
>> norte-americana sem titulação acadêmica: doutorado para as áreas teóricas,
>> ou mestrado para as cadeiras de ensino de instrumento. Havia (e há tempos
>> atrás com mais frequência) a prática de contratar grandes artistas sem
>> titulação, mas de grande reputação. Eleazar de Carvalho, por exemplo, foi
>> professor de Yale. Mas não o era em tempo integral. Regia a OSESP durante o
>> ano e reservava alguns meses das férias no Brasil (que coincidem com um
>> período letivo no hemisfério norte) para dar aulas de regência por lá. Era
>> uma espécie de professor honorário. Quem "carregava o piano" no resto do
>> ano era outro professor menos conhecido, mas portador de titulação.  E esse
>> tipo de contrato é cada fez menos frequente.
>>
>> Os doutorados, aqui e lá, são essenciais para a formação de um
>> pesquisador e de um docente. Grandes profissionais (ou artistas, no nosso
>> caso) não são necessariamente bons pesquisadores e nem mesmo bons
>> professores. São carreiras e competências diversas.
>>
>> Creio que na nossa área o problema é outro, e bem mais específico. A
>> universidade pública brasileira fez uma mistura dos modelos universitários
>> europeus e americanos, mas engessou as flexibilidades que porventura tais
>> modelos tivessem. Tempos atrás podíamos contratar mestres. Isso está se
>> tornando cada vez mais raro. A USP, onde trabalho, não o permite mais, em
>> nenhuma hipótese. Isso dificulta muito a contratação de professores de
>> instrumento. Os cursos de música que pretendem oferecer bacharelados em
>> instrumento sofrem pela escassez de profissionais competentes com titulação
>> de doutor. Esse tipo de profissional não tem vocação e nem interesse pela
>> pesquisa acadêmica. Aliás, não se deveria esperar que tivessem, pois não é
>> a natureza de sua profissão. Por isso as universidades americanas contratam
>> regularmente portadores de títulos de mestres para essas cadeiras (e não
>> exigem que eles façam pesquisa) e as europeias contratam esses professores
>> nos conservatórios e não nas universidades. Por outro lado projetos em
>> cursos de música de nossas universidades que pretendam se voltar para uma
>> formação fortemente teórica, como para as carreiras de musicólogos,
>> professores de teoria, e mesmo educadores e compositores, principalmente os
>> que se dedicam às novas tecnologias, continuam a sofrer uma forte
>> resistência dos colegas, por razões que tem a ver com disputas de mercado
>> de trabalho e não com a natureza do trabalho que realizam, que é
>> perfeitamente adequado ao perfil de um conhecimento universitário.
>>
>> Lembremos que a universidade não é apenas um local de formação
>> profissional. É o espaço do saber, profissionalizante ou não. Nem é a
>> universidade o único local de formação profissional. Por exemplo, a
>> escolinha de futebol do Santos F.C. tem formado profissionais muito bem
>> sucedidos. Quem não gostaria de ganhar o salário do Neymar?
>>
>> Não apenas por isso, mas também por isso, vira e mexe ressurgem as
>> críticas do teor desse texto aos professores titulados, como se eles
>> representassem uma reserva de mercado. Criar critérios de seleção não é
>> fazer reserva de mercado, é cuidar do resultado da contratação para os fins
>> pretendidos.
>>
>> O que a universidade brasileira deveria reconhecer é a natureza diversa
>> dos diferentes professores que são necessários para se montar um curso de
>> música e colocar exigências de concurso, modelos de contrato e planos de
>> carreiras diferenciados para as diferentes situações. Muita disputa interna
>> desnecessária seria evitada com isso. Mas parece que isso é um ovo que nem
>> Colombo conseguiria colocar em pé.
>>
>> Rodolfo Coelho de Souza
>>
>> ------------------------------
>>
>> *De: *"Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
>> *Para: *"Anppom CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>, "Anppom CADASTRO" <
>> anppom-l em iar.unicamp.br>
>> *Enviadas: *Domingo, 23 de Fevereiro de 2014 13:18:20
>> *Assunto: *[ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>
>> Olá Caríssimos Colegas!!!
>>
>> Um excelente texto para nossa reflexão! !!
>>
>>
>> http://ordemlivre.org/posts/sem-doutorado-entao-fora?fb_action_ids=10151995942207712&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1389838204606209%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D
>>
>> Grande abraço
>>
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>> Lista de discussões ANPPOM
>> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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> Diósnio Machado Neto
> História da Música e Música Brasileira
> Departamento de Música - FFCLRP/USP
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Alexandre Sperandéo Fenerich
prof. Adjunto IAD - UFJF - http://www.ufjf.br/musica/

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http://sussurro.musica.ufrj.br/fghij/f/fenerichale/fenerichale.htm
n-1.art.br
http://soundcloud.com/n-1-1
http://www.ufjf.br/eimas/
http://www.limiares.com.br/duo-n1.html

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