[ANPPOM-Lista] Para refletir!

André Fadel andrefadel em gmail.com
Qui Fev 27 13:58:51 BRT 2014


Imaginava que o instituto da pós-graduação *lato* e *stricto sensu* se
voltava para a produção de conhecimento humano alcançado por meio de
metodologias específicas, bem como para a discussão de ideias.

"Linhas de fomento..." vivendo e aprendendo para que as coisas servem, veja
só!

Abraços
A




Em 27 de fevereiro de 2014 11:42, Ale Fenerich <fenerich em gmail.com>escreveu:

> Só posso concordar com Daniel Puig e Carlos Palombini: não se faz mestrado
> e doutorado para ter acesso a linhas de fomento; faz-se para desenvolver
> uma pesquisa em música de cunho pessoal, e para transmitir esta pesquisa.
> Ter acesso a esses meios de fomento não é um privilégio, mas acessá-los é
> um dever do pesquisador. Mas este procurará as agências de acordo com as
> pesquisas que realiza. Não entender essa dinâmica é revelar uma enorme
> distorção e total cegueira institucional...
>
> A universidade não formar bons instrumentistas (e isso é uma mentira, pois
> forma muitos bons instrumentistas) não significa que deva excluir a
> pesquisa em música nas suas diversas áreas. A diversidade e a intensidade
> deveriam ser a marca dessa pesquisa. É problemas diferente se não há bons
> instrumentistas na Universidade: não é o pesquisador que deveria suprir
> esta lacuna, mas a instituição como um todo. Eu não sei quanto ao colega,
> mas não me considero nem filósofo nem butequeiro no meu trabalho enquanto
> artista, professor e pesquisador em música. E por isso mesmo valorizo meu
> trabalho de pesquisador na sua especificidade e nas necessidades que
> levanta, tanto materiais quanto humanas.
>
> ---
>
> O artigo em questão não analisa a universidade brasileira no que ela tem
> de esquizo: num mesmo curso pretende-se formar técnicos e pesquisadores
> acadêmicos. A falta de clareza para o estudante e o próprio corpo docente
> de qual foco deva tomar, a meu ver, é uma das principais razões pela qual a
> pesquisa em música não tem a dimensão que gostaríamos, e a prática, idem.
> No meu caso e no de inúmeros colegas, ministramos disciplinas demais, em
> naturezas opostas, sendo também cobrados pela instituição para que sejamos
> produtivos enquanto artistas e pesquisadores - atividades que exigem um
> mínimo de foco. Não analisar este aspecto é tapar o sol com a peneira.
>
> Mas não concordo absolutamente nem que, apesar de tudo, formemos apenas
> maus instrumentistas ou compositores, nem que a pesquisa em música no
> Brasil seja totalmente incipiente. Basta olharmos em volta.
>
> Um abraço.
>
>
>
> Em 27 de fevereiro de 2014 05:42, <rrrr em usp.br> escreveu:
>
> vamos recapitular o texto do tal Alexandre Barros (muito bem lembrado
>> pelo Prof. Mario Marçal Jr), realmente vale a pena ler:
>>
>>
>> http://ordemlivre.org/posts/sem-doutorado-entao-fora?fb_action_ids=10151995942207712&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1389838204606209%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D
>>
>> portanto, diz com bom humor que nas academias do Brasil de hoje ha mais
>> burocracia que merito... so isso...
>>
>> abs a todos os colegas da ANPPOM,
>>
>> Rubens R. Ricciardi
>>
>>
>>
>>
>>
>> ------------------------------
>>
>> *De: *"Diósnio Machado Neto" <diosnio em gmail.com>
>> *Para: *"Fernando" <corvisier em usp.br>
>>
>> *Cc: *"Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO" <
>> anppomcadastro em gmail.com>
>> *Enviadas: *Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 2:05:06
>>
>> *Assunto: *Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>
>> Caros colegas,
>>
>> Acho que insistir na discussão do mérito sobre ter ou não ter o artista
>> sem titulação dentro da universidade brasileira não é a questão. Acredito
>> que o importante é como se ensina instrumento no Brasil e quais são as
>> reais condições em que ocorre este ensino, ou mesmo como se forma o
>> processo de aprendizado, desde a infra estrutura até a "superiorização"
>> deste ensino. Planteado assim não há cabimento cruzamentos e transportes de
>> realidades. É sintoma do colonialismo impresso nos gens que nos faz olhar
>> para os Estados Unidos, ou mesmo para o Piauí desde São Paulo; ou de Tatuí
>> para Maceió...
>> Assim sendo, e sempre considerando que o ofício da música é tão
>> importante como a ciência da música, e portanto um título não definiria a
>> contenda, me permitam apenas apimentar a discussão considerando que a
>> insistência na questão do título serve como um torniquete, que de tanto
>> virar se esquece do fator primordial da exigência do título, que é dar
>> condições de acesso às políticas de financiamento das agências, ampliando a
>> capacidade de montagem de infra estruturas nos núcleos de ensino superior
>> público. E a realidade é que esta ideia não tem prosperado, porque até onde
>> percebo há poucos projetos de infra estrutura para ensino de instrumento
>> financiados pelas agências de pesquisa. Não sei se isto é tão agudo como
>> vejo e pergunto para quem sabe se assim é? E se isto for verdade, o
>> processo de titulação torna-se inócuo. Logo seria melhor pensar em outras
>> alternativas que deem mais impulso ao ensino de instrumento. E é neste
>> ponto que quero me dispor e expor minha visão.
>> Primeiro quero dizer que, apesar dos muitos avanços, significativos e do
>> tamanho e méritos das notas de avaliação que vemos, por exemplo, na UFRGS,
>> mudar a forma de ingresso do professor na universidade na nossa realidade é
>> tanto mais difícil do que parece ser entender, e usar, as possibilidades de
>> articulação que estão disponíveis dentro do próprio sistema. Para mim, o
>> que aponta o Rodolfo poderia ser sanado se as instituições superiores de
>> ensino técnico, como no caso das Fatecs paulistas, assumissem o que é
>> difícil para a universidade, ou seja, montar a imensa estrutura que é
>> necessária para capacitar o jovem no aprendizado de um instrumento. Pode
>> parecer simplista, mas o que vejo hoje no Brasil é o aluno que quer ser um
>> instrumentista privado de ambientes fundamentais para seu desenvolvimento,
>> simplesmente porque a universidade tem protocolos de contratação e gastos
>> que não são condizentes com o que necessita o instrumentista para se
>> desenvolver; pergunto onde no Brasil há um orquestra-disciplina que dê
>> oportunidade para o instrumentista aprender a tocar um repertório que vai
>> de Mozart a Mahler? Isto pode se desdobrar para música de câmara, e tantas
>> outras áreas do aprendizado do instrumento.  É só imaginar que boa parte
>> dos músicos de orquestra em São Paulo, por exemplo, tiveram seu treinamento
>> na Orquestra Experimental de Repertório (e aqui fica minha homenagem ao
>> Jamil Maluf) e não numa disciplina regular e nos corpos musicais nas
>> diversas escolas de música espalhadas em três universidades públicas!!!!!
>> Em suma, o problema está além de ter ou não o professor artista. Está nas
>> possibilidades, reais, de infraestrutura de ensino e, também, na formação
>> de uma mentalidade do professor titulado em buscar as vias de financiamento
>> que lhe permite o título. E isto articula-se também por definir melhor uma
>> política institucional sobre a música na universidade, pois parece que
>> queremos tudo, mas podemos bem pouco! Esta condição que nos fragiliza ao
>> requerer paridade do artista com o cientista (e por favor me poupem de
>> explicação da natureza de um e de outro, pois ambos formam o arabesco do
>> saber e sentir humano)
>> Logo, mesmo que sem expor outros argumentos, acho que o problema como
>> exposto parece ser mais uma questão de reconhecimento do artista diante do
>> saber científico (que é filosófico e butequeiro ao mesmo tempo) do que a
>> disposição de criar estruturas competentes para o desenvolvimento do jovem
>> instrumentista, que o título permite (e até acho justo bradar contra isto,
>> mas aí é outro departamento).
>> Atenciosamente,
>> Diósnio Neto
>>
>>
>> No dia 26 de Fevereiro de 2014 às 09:24, <corvisier em usp.br> escreveu:
>>
>>> Caro Rodolfo,
>>>
>>>
>>>
>>> Acho que você se enganou. Existem sim professores artistas, sem
>>> doutorado, lecionando em tempo integral  nas universidades estatais
>>> americanas. Posso citar um exemplo do meu ex-professor de piano  e um
>>> notável artista Abbey Simon, que apesar dos seus 91 anos,  ainda leciona em
>>> tempo integral na Universidade de Houston.
>>>
>>>
>>> Fernando Corvisier
>>>
>>> ------------------------------
>>>
>>> *De: *rcoelho em usp.br
>>> *Para: *"Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
>>> *Cc: *"Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO" <
>>> anppomcadastro em gmail.com>
>>> *Enviadas: *Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2014 18:04:03
>>> *Assunto: *Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>>
>>>
>>> Meu caro Mario,
>>>
>>> Nem tão bom assim. Quem conheceu de perto a vida universitária americana
>>> (fiz doutorado e pós-doc por lá) sabe que esse artigo é falacioso.
>>>
>>> O primeiro aspecto a considerar é que as universidades americanas
>>> mencionadas são privadas. E mesmo quando (parcialmente) estatais tem uma
>>> autonomia muito maior do que as nossas públicas. Lembre-se que as
>>> universidades brasileiras privadas também podem contratar (e contratam)
>>> professores sem doutorados e mestrados. Às vezes até despedem um professor
>>> quando ele completa uma titulação porque o salário deveria aumentar
>>> (conheço colegas que viveram essa experiência).
>>>
>>> Na prática, na área de música, nunca conheci um professor de
>>> universidade norte-americana sem titulação acadêmica: doutorado para as
>>> áreas teóricas, ou mestrado para as cadeiras de ensino de instrumento.
>>> Havia (e há tempos atrás com mais frequência) a prática de contratar
>>> grandes artistas sem titulação, mas de grande reputação. Eleazar de
>>> Carvalho, por exemplo, foi professor de Yale. Mas não o era em tempo
>>> integral. Regia a OSESP durante o ano e reservava alguns meses das férias
>>> no Brasil (que coincidem com um período letivo no hemisfério norte) para
>>> dar aulas de regência por lá. Era uma espécie de professor honorário. Quem
>>> "carregava o piano" no resto do ano era outro professor menos conhecido,
>>> mas portador de titulação.  E esse tipo de contrato é cada fez menos
>>> frequente.
>>>
>>> Os doutorados, aqui e lá, são essenciais para a formação de um
>>> pesquisador e de um docente. Grandes profissionais (ou artistas, no nosso
>>> caso) não são necessariamente bons pesquisadores e nem mesmo bons
>>> professores. São carreiras e competências diversas.
>>>
>>> Creio que na nossa área o problema é outro, e bem mais específico. A
>>> universidade pública brasileira fez uma mistura dos modelos universitários
>>> europeus e americanos, mas engessou as flexibilidades que porventura tais
>>> modelos tivessem. Tempos atrás podíamos contratar mestres. Isso está se
>>> tornando cada vez mais raro. A USP, onde trabalho, não o permite mais, em
>>> nenhuma hipótese. Isso dificulta muito a contratação de professores de
>>> instrumento. Os cursos de música que pretendem oferecer bacharelados em
>>> instrumento sofrem pela escassez de profissionais competentes com titulação
>>> de doutor. Esse tipo de profissional não tem vocação e nem interesse pela
>>> pesquisa acadêmica. Aliás, não se deveria esperar que tivessem, pois não é
>>> a natureza de sua profissão. Por isso as universidades americanas contratam
>>> regularmente portadores de títulos de mestres para essas cadeiras (e não
>>> exigem que eles façam pesquisa) e as europeias contratam esses professores
>>> nos conservatórios e não nas universidades. Por outro lado projetos em
>>> cursos de música de nossas universidades que pretendam se voltar para uma
>>> formação fortemente teórica, como para as carreiras de musicólogos,
>>> professores de teoria, e mesmo educadores e compositores, principalmente os
>>> que se dedicam às novas tecnologias, continuam a sofrer uma forte
>>> resistência dos colegas, por razões que tem a ver com disputas de mercado
>>> de trabalho e não com a natureza do trabalho que realizam, que é
>>> perfeitamente adequado ao perfil de um conhecimento universitário.
>>>
>>> Lembremos que a universidade não é apenas um local de formação
>>> profissional. É o espaço do saber, profissionalizante ou não. Nem é a
>>> universidade o único local de formação profissional. Por exemplo, a
>>> escolinha de futebol do Santos F.C. tem formado profissionais muito bem
>>> sucedidos. Quem não gostaria de ganhar o salário do Neymar?
>>>
>>> Não apenas por isso, mas também por isso, vira e mexe ressurgem as
>>> críticas do teor desse texto aos professores titulados, como se eles
>>> representassem uma reserva de mercado. Criar critérios de seleção não é
>>> fazer reserva de mercado, é cuidar do resultado da contratação para os fins
>>> pretendidos.
>>>
>>> O que a universidade brasileira deveria reconhecer é a natureza diversa
>>> dos diferentes professores que são necessários para se montar um curso de
>>> música e colocar exigências de concurso, modelos de contrato e planos de
>>> carreiras diferenciados para as diferentes situações. Muita disputa interna
>>> desnecessária seria evitada com isso. Mas parece que isso é um ovo que nem
>>> Colombo conseguiria colocar em pé.
>>>
>>> Rodolfo Coelho de Souza
>>>
>>> ------------------------------
>>>
>>> *De: *"Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
>>> *Para: *"Anppom CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>, "Anppom CADASTRO"
>>> <anppom-l em iar.unicamp.br>
>>> *Enviadas: *Domingo, 23 de Fevereiro de 2014 13:18:20
>>> *Assunto: *[ANPPOM-Lista] Para refletir!
>>>
>>> Olá Caríssimos Colegas!!!
>>>
>>> Um excelente texto para nossa reflexão! !!
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>>>
>>> Grande abraço
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>> Diósnio Machado Neto
>> História da Música e Música Brasileira
>> Departamento de Música - FFCLRP/USP
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> --
> ------------------------------------------
> Alexandre Sperandéo Fenerich
> prof. Adjunto IAD - UFJF - http://www.ufjf.br/musica/
>
> http://soundcloud.com/ale_fenerich
> http://sussurro.musica.ufrj.br/fghij/f/fenerichale/fenerichale.htm
> n-1.art.br
> http://soundcloud.com/n-1-1
> http://www.ufjf.br/eimas/
> http://www.limiares.com.br/duo-n1.html
>
> (55 32) 8481-8277
>
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