[ANPPOM-Lista] FW: Para refletir!

Zélia Chueke zchuekepiano em ufpr.br
Sáb Mar 1 10:45:02 BRT 2014


Querida Cristina ,

Antes de mais nada, de novo, e sempre, parabéns pela carreira que
desenvolve com talento, competência e dedicação.

Não poderia concordar mais com você. Minha experiência de 10 anos nos US
assim como a sua me deram uma visão bem ampla e pratica destes aspectos.
E é isto mesmo : who cares?

O pragmatismo americano, que aprecio sinceramente, é capaz de separar as
competências e abrir espaço, na universidade, para que o métier do musico
seja transmitido pelos grandes mestres, no caso das praticas
interpretativas (musical performance), conferindo o titulo de DMA e
exigindo uma quantidade X de apresentações dentro e fora da instituição, 
possibilitando ainda outras duas modalidades : o DMA para o performer que
tem o perfil de pesquisador e, além das X apresentações artisticas, deixa
documentado o resultado de seu trabalho em 150 paginas (let's put it this
way) e também um terceiro perfil, o PHD em perfomance, que escreve suas
300 paginas (ou mais) além de apresentar os recitais devidos dentro e fora
da universidade (veja SUNY, NYUniversity, entre outras).

Cabe ao candidato saber escolher o contexto que mais lhe convier. O auto
conhecimento é essencial, pois da mesma forma que não formamos um
performer em quatro anos de graduação e muito menos em três ou quatro de
doutorado, se este não vier munido de uma bagagem anterior, de solida
formação (dentro ou fora do conservatorio) enquanto musico,também não
formamos um pesquisador, se este não vier munido de uma passado de
pesquisa, de interesse, de diversas competências que configuram o perfil
do "scholar".

A discussão existe quando se pretende combinar num mesmo individuo duas
competências diversas sem se levar em conta que existem estes três perfis
diferentes percebidos nos US e onde foram criados programas condizentes
com a demanda artistico-acadêmica.

Assim, resumidamente, coloquei minhas considerações e fico muito feliz que
esta discussão esteja ocorrendo, esperando que encontremos uma solução
pratica ao invés de tentar encaixar os performers num modelo que não lhes
convém, prejudicando a transmissão do métier de um lado, a formação de
pesquisadores de outro, e a possivel combinação destes dois quando for o
caso.




>
>
> Date: Fri, 28 Feb 2014 09:07:48 -0300
> From: rcoelho em usp.br
> To: cgerling em ufrgs.br
> CC: anppom-l em iar.unicamp.br; anppomcadastro em gmail.com
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>
> Olá Cristina,parabéns pela Cátedra de Indiana patrocinada pela
> Fulbright! É um belíssimo reconhecimento de seu talento e trabalho
> árduo. A maravilhosa Universidade de Indiana em Bloomington ao lhe
> conceder essa honraria inscreve o seu nome entre o dos "Grandes Nomes".
> Justíssimo!abraçosRodolfo
>
> De: "temp" <cgerling em ufrgs.br>
> Para: corvisier em usp.br
> Cc: rcoelho em usp.br, "Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom
> CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>
> Enviadas: Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 11:13:54
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>
> Prezados, estou passando um semestre letivo em Bloomington, Indiana
> através de um programa denominado "Indiana Chair"  sob os auspícios da
> Comissão Fulbright e da própria universidade.  Como sabem, esta é uma
> escola de música simplesmente espetacular. Conheço várias escolas
> norte-americanas, tive o privilégio de estudar em algumas instituições
> de altíssimo nível. Por isto posso dizer com convicção que existem
> poucas com  a estrutura física de Indiana/Bloomington, sobretudo, o seu
> elevadíssimol nível artístico. Pois bem, aqui os artistas/docentes são
> escolhidos pela atuação artística. Os "grandes nomes" tais como Menahem
> Pressler e Evelyne Brancart, entre tantos,  são detentores de um saber
> originado da grande tradição oral de tocar e de ensinar. Este é o fator
> que define a qualidade artística da escola, provavelmente a maioria não
> têm titulações convencionais, quem está ligando para isto onde se faz
> música de verdade?Abraços, Cristina
> On Feb 26, 2014, at 7:24 AM, corvisier em usp.br wrote:Caro Rodolfo, Acho que
> você se enganou. Existem sim professores artistas, sem doutorado,
> lecionando em tempo integral nas universidades estatais americanas. Posso
> citar um exemplo do meu ex-professor de piano  e um notável artista Abbey
> Simon, que apesar dos seus 91 anos,  ainda leciona em tempo integral na
> Universidade de Houston.
> Fernando Corvisier
> De: rcoelho em usp.br
> Para: "Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
> Cc: "Anppom CADASTRO" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "Anppom CADASTRO"
> <anppomcadastro em gmail.com>
> Enviadas: Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2014 18:04:03
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>
> Meu caro Mario,Nem tão bom assim. Quem conheceu de perto a vida
> universitária americana (fiz doutorado e pós-doc por lá) sabe que esse
> artigo é falacioso.O primeiro aspecto a considerar é que as
> universidades americanas mencionadas são privadas. E mesmo quando
> (parcialmente) estatais tem uma autonomia muito maior do que as nossas
> públicas. Lembre-se que as universidades brasileiras privadas também
> podem contratar (e contratam) professores sem doutorados e mestrados. Às
> vezes até despedem um professor quando ele completa uma titulação
> porque o salário deveria aumentar (conheço colegas que viveram essa
> experiência).Na prática, na área de música, nunca conheci um professor
> de universidade norte-americana sem titulação acadêmica: doutorado para
> as áreas teóricas, ou mestrado para as cadeiras de ensino de
> instrumento. Havia (e há tempos atrás com mais frequência) a prática
> de contratar grandes artistas sem titulação, mas de grande reputação.
> Eleazar de Carvalho, por exemplo, foi professor de Yale. Mas não o era em
> tempo integral. Regia a OSESP durante o ano e reservava alguns meses das
> férias no Brasil (que coincidem com um período letivo no hemisfério
> norte) para dar aulas de regência por lá. Era uma espécie de professor
> honorário. Quem “carregava o piano†no resto do ano era outro
> professor menos conhecido, mas portador de titulação.  E esse tipo de
> contrato é cada fez menos frequente.Os doutorados, aqui e lá, são
> essenciais para a formação de um pesquisador e de um docente. Grandes
> profissionais (ou artistas, no nosso caso) não são necessariamente bons
> pesquisadores e nem mesmo bons professores. São carreiras e competências
> diversas.Creio que na nossa área o problema é outro, e bem mais
> específico. A universidade pública brasileira fez uma mistura dos
> modelos universitários europeus e americanos, mas engessou as
> flexibilidades que porventura tais modelos tivessem. Tempos atrás
> podíamos contratar mestres. Isso está se tornando cada vez mais raro. A
> USP, onde trabalho, não o permite mais, em nenhuma hipótese. Isso
> dificulta muito a contratação de professores de instrumento. Os cursos
> de música que pretendem oferecer bacharelados em instrumento sofrem pela
> escassez de profissionais competentes com titulação de doutor. Esse tipo
> de profissional não tem vocação e nem interesse pela pesquisa
> acadêmica. Aliás, não se deveria esperar que tivessem, pois não é a
> natureza de sua profissão. Por isso as universidades americanas contratam
> regularmente portadores de títulos de mestres para essas cadeiras (e não
> exigem que eles façam pesquisa) e as europeias contratam esses
> professores nos conservatórios e não nas universidades. Por outro lado
> projetos em cursos de música de nossas universidades que pretendam se
> voltar para uma formação fortemente teórica, como para as carreiras de
> musicólogos, professores de teoria, e mesmo educadores e compositores,
> principalmente os que se dedicam às novas tecnologias, continuam a sofrer
> uma forte resistência dos colegas, por razões que tem a ver com disputas
> de mercado de trabalho e não com a natureza do trabalho que realizam, que
> é perfeitamente adequado ao perfil de um conhecimento
> universitário.Lembremos que a universidade não é apenas um local de
> formação profissional. É o espaço do saber, profissionalizante ou
> não. Nem é a universidade o único local de formação profissional. Por
> exemplo, a escolinha de futebol do Santos F.C. tem formado profissionais
> muito bem sucedidos. Quem não gostaria de ganhar o salário do
> Neymar?Não apenas por isso, mas também por isso, vira e mexe ressurgem
> as críticas do teor desse texto aos professores titulados, como se eles
> representassem uma reserva de mercado. Criar critérios de seleção não
> é fazer reserva de mercado, é cuidar do resultado da contratação para
> os fins pretendidos.O que a universidade brasileira deveria reconhecer é
> a natureza diversa dos diferentes professores que são necessários para
> se montar um curso de música e colocar exigências de concurso, modelos
> de contrato e planos de carreiras diferenciados para as diferentes
> situações. Muita disputa interna desnecessária seria evitada com isso.
> Mas parece que isso é um ovo que nem Colombo conseguiria colocar em
> pé.Rodolfo Coelho de Souza
> De: "Mario Marçal Jr" <mariomarcaljr em gmail.com>
> Para: "Anppom CADASTRO" <anppomcadastro em gmail.com>, "Anppom CADASTRO"
> <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Enviadas: Domingo, 23 de Fevereiro de 2014 13:18:20
> Assunto: [ANPPOM-Lista] Para refletir!
>
> Olá Caríssimos Colegas!!!Um excelente texto para nossa reflexão!
> !!http://ordemlivre.org/posts/sem-doutorado-entao-fora?fb_action_ids=10151995942207712&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1389838204606209%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5DGrande
> abraço
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Zélia Chueke, DMA
Pianist - researcher
Professor of Music- DeArtes, UFPR
Permanent Researcher - Observatoire Musical Français/Sorbonne,Paris 4
www.zeliachueke.com




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