[ANPPOM-Lista] RILM - Academia Brasileira de Música > Keller e Mannis

Profa. Dra. Maria Alice Volpe volpe em musica.ufrj.br
Dom Abr 26 11:01:50 BRT 2015


Caros Damián Keller, José Augusto Mannis e colegas da ANPPOM,

Obrigada pela contribuição ao debate.
Concordo com os pontos ressaltados por Damián e adiciono que atualmente o
governo brasileiro, por meio das universidades públicas, agências de
fomento e leis de incentivo, arca com todos os custos, desde a formação do
pesquisador, o desenvolvimento das pesquisas e sua disseminação. Vale
dizer, os impostos dos cidadãos brasileiros sustentam tudo isso.
O debate deve ponderar sobre qual seria a política científica que melhor
beneficiaria a sociedade brasileira.
Temos diferenças regionais e profundas desigualdades sócio-econômicas que
precisam ser corrigidas por políticas de inclusão social e democratização
do conhecimento.

A Bibliografia Musical Brasileira da Academia Brasileira de Música optou
por adotar a política de acesso livre e democratização do conhecimento,
seguindo diversos organismos nacionais e internacionais (entre os quais
UNESCO, IBICT, SCIELO) e também a orientação diplomática brasileira em
estabelecer acordos de cooperação em regime de reciprocidade.

Todos concordamos e atuamos em prol da internacionalização da pesquisa.

A questão primordial é se vamos adotar a política de acesso livre ou se
vamos fomentar essa economia científica de acesso restrito.

Esse debate tem ocupado organismos nacionais e internacionais e mobilizado
a comunidade de pesquisadores das diversas áreas de conhecimento.

Vejam, por exemplo, o parágrafo de abertura do site da UNESCO sobre o
acesso à informação:
http://en.unesco.org/themes/access-information

"Globalization, while shaping a new era of interaction between nations,
economies and people, may as well be disruptive, and engender side effects
such as marginalization."
[A globalização, enquanto molda uma nova era de interação entre as nações,
as economias e as pessoas, pode também ser disruptiva e gerar efeitos
colaterais, como a marginalização.]

A Bibliografia Musical Brasileira da Academia Brasileira de Música tem se
pautado as recomendações da UNESCO, entre as quais destaco,
Promotion and Use of Multilingualism and Universal Access to
Cyberspace disponível
em
http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/about-us/how-we-work/strategy-and-programme/promotion-and-use-of-multilingualism-and-universal-access-to-cyberspace/
, com atenção especial ao item 18:

"Member States and international organizations should encourage open access
solutions including the formulation of technical and methodological
standards for information exchange, portability and interoperability, as
well as online accessibility of public domain information on global
information networks."
[Estados-membros e as organizações internacionais devem incentivar soluções
de acesso abertos, incluindo a formulação de normas técnicas e
metodológicas para a troca de informações, portabilidade e
interoperabilidade, bem como a acessibilidade em linha de informações de
domínio público sobre redes globais de informação.]

A Bibliografia Musical Brasileira da Academia Brasileira de Música espera
contar com o apoio da comunidade para dar continuidade a um projeto que tem
construído nossa autonomia científica ao longo das décadas ao construir um
repositório eletrônico controlado pelo Brasil que oferece acesso livre à
produção científica de nossa área e oportuniza sua internacionalização.

Atenciosamente,
Maria Alice

*Profa. Dra. Maria Alice Volpe*

*Academia Brasileira de Música*

*Cadeira no. 2*

*Projeto Bibliografia Musical Brasileira, Coordenadora*

*http://www.abmusica.org.br/ <http://www.abmusica.org.br/>*





Em 25 de abril de 2015 23:22, Andre Cardoso <andrecardoso em musica.ufrj.br>
escreveu:

> Prezado Damián
>
> Obrigado por enviar a mensagem e contribuir com informações importantes.
> Elas reforçam a necessidade de um debate mais amplo e aprofundado sobre as
> questões colocadas. Me parece claro que a aceitação passiva das regras
> impostas por determinados organismos internacionais, o sistema R sendo um
> deles, nos coloca em posição frágil.
>
> Trabalhamos voluntariamente para o RILM e para ter acesso aos resumos
> precisamos pagar. Não me parece a melhor das situações.
>
> A Academia Brasileira de Música ao se posicionar claramente sobre a
> questão, o acesso pago a informações geradas por nós mesmos, abre a
> possibilidade de debate. A ANPPOM me parece o fórum mais adequado para tal
> discussão. Como instituição que reúne os pesquisadores brasileiros da área
> da Música certamente terá mais condições e legitimidade para propor
> alternativas, levando em consideração inclusive as diferenças regionais,
> como você pontua.
>
> Atenciosamente
>
> André Cardoso
>
> Em 24 de abril de 2015 14:00, Damián Keller <musicoyargentino em gmail.com>
> escreveu:
>
>> Caros André, Maria Alice e colegas,
>>
>> Gostaria de sublinhar a colocação do professor Diósnio, trazendo a
>> discussão para o contexto mais amplo da produção e do acesso ao
>> conhecimento.
>>
>> > Considero a participação brasileira nos repositórios R importante. Ela
>> integra ao mesmo tempo que divulga. No entanto, não posso deixar de
>> manifestar que não é possível não termos uma contrapartida em forma de
>> livre acesso quando os dados se referem a nossa própria produção.
>>
>> A tendência atual é clara. Existe um aumento no acesso livre à produção
>> científica e artística impulsionado pelo baixo custo de publicação na
>> internet. Porém simultaneamente existe a tendência (fortemente induzida
>> pelas editoras) de repassar o custo da publicação dos leitores para os
>> autores. A nível internacional, essa prática já está institucionalizada em
>> dois âmbitos: os eventos científicos (que cobram taxas abusivas sem fazer
>> diferença entre pesquisadores de países centrais e periféricos) e os corpos
>> editoriais dos periódicos de acesso restrito (que usam o trabalho altamente
>> especializado dos pesquisadores, sem retribuição efetiva pelo tempo
>> investido).
>>
>> Ao ceder nosso trabalho para repositórios de acesso pago, ajudamos a
>> legitimar mais uma instância do lucro através da produção acadêmica. Essa
>> produção no Brasil é financiada pela verba para as universidades públicas.
>> Porém essa verba não é distribuída de maneira uniforme. Ao concordar com o
>> acesso restrito, ajudamos a legitimar a exclusão efetiva dos pesquisadores
>> que estão trabalhando em universidades periféricas.
>>
>> O acesso a verba para pesquisa na região Sudeste, na forma de apoio a
>> participação em eventos, taxas para publicação e subscrição a periódicos e
>> repositórios, pode exigir tempo e dedicação mas não é inviável. Em outras
>> regiões, com destaque para o Norte e Nordeste, o acesso é simplesmente
>> aleatório. O CNPq destina menos de 4% do seu orçamento para o Norte e desde
>> 2012, zero para produtividade em pesquisa em Artes. Só para citar um
>> exemplo próximo, a FAPAC não financia projetos de pesquisa em Artes.
>> Portanto, aqui não temos nenhum programa de apoio a publicações de
>> resultados de pesquisa, nem apoio para acesso a repositórios fechados.
>>
>> Resumindo, tanto a nível internacional quanto regional, quem paga o preço
>> da restrição no acesso à produção em pesquisa somos nós, pesquisadores.
>>
>> Abraços,
>> Damián
>>
>>
>> Dr. Damián Keller | ccrma.stanford.edu/~dkeller
>> NAP | sites.google.com/site/napmusica
>>
>>
>
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