[ANPPOM-Lista] EDITORA PRISMAS

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Dom Ago 9 05:38:44 BRT 2015


Heloísa,

Também não recebi convite, mas minha experiência é bem diferente da sua. Em
2010 publiquei o ensaio "perdido" de Schaeffer que você conhece. Verdade
que o autor tinha certo prestígio, mas o texto reconstituído por mim saiu
com vasto aparato crítico, tão longo quanto o ensaio que reconstituímos, na
França; maior que ele, no Brasil. Lá publiquei com uma pequena editora
comercial e no Brasil com uma grande editora acadêmica. Não tenho queixas
nenhumas. A editora francesa, originalmente especializada em
situacionistas, tornara-se conhecida por publicar uma tradução completa de
Leopardi ao francês. Ela fez uma edição barata elegantíssima da qual tirou
3.000 exemplares, minha porcentagem sobre os 3 mil recebida no ato da
assinatura do contrato.

Aproximadamente aos três meses de meu trabalho de pesquisa, um amigo
francês, literato, disse: há duas editoras para o seu trabalho, Klincksieck
e Allia. Perguntei: qual a melhor? Ele disse: Allia. Meu amigo, veja, teve
a oportunidade de publicar suas memórias pela Allia aos 21 anos de idade, e
recusou porque não queria cortes. Ele me disse que tinha um amigo que
trabalhava com o dono e procuraria reatar relações para que o amigo me
apresentasse. Entrementes escrevi para Klincksieck. Não responderam. Um
outro amigo comum defendia a publicação na Seuil, que à época andava numa
reviravolta. Eu já estava com Allia na cabeça.

Poucos dias antes de meu retorno ao Brasil, Guillaume conseguiu obter pra
mim o encontro com o amigo que trabalhava para Allia. Foi encantador: ele
me disse que estava a fundar sua própria editora, melhor que a do
ex-patrão, e era com ela que eu deveria publicar. Mas não voltei ao Brasil
de mãos abanando. Guillaume me havia dito que o dono possuía um curioso
método para decidir se publicava ou não. Ele chamava o autor, cuja obra
havia lido, para uma conversa e, olhos nos olhos, decidia. Pensei: se é
assim, o intermediário é o caminho errado. Escrevi um e-mail com o
manuscrito em PDF, ele respondeu, se interessou, e disse que em três meses
daria uma resposta. Eu estaria de volta à França no início de 2010.
Passados três meses, não havia resposta, e se aproximava a data de minha
viagem. Telefonei do Brasil. Ele: passe aqui para conversarmos. Fui,
discutimos o projeto, o que entraria, o que não entraria (ele só cortou
prefácio e introdução, porque do contrário haveria mais texto meu que de
Schaeffer, e o livro teria de ser vendido sob meu nome), me mostrou seu
catálogo, seus funcionários, seus projetos mais bem sucedidos, a casa. Ao
final da revisão, eu disse: bem, agora, tecnicamente, temos de submeter o
texto a Sophie, que já revisou tudo e me disse que a palavra final era
minha, mas se ela ler o livro, tenho certeza que irá retroceder. Ele me
chamou para uma longa conversa e um café. Disse-me que era um editor
independente, que não estava ligado a nenhuma *cotêrie* (a França é pior
que o Brasil nesse aspecto), que o que ele queria era uma visão
independente, e essa visão era a minha. Sophie se escabelou quando o
impresso chegou da fábrica italiana, mas acabou por aceitar.

A pequena editora independente além de graficamente sofisticada era
conhecida por empenhar-se na divulgação do que imprimia. Palavras do dono:
"só publico aquilo pelo qual estou preparado para me empenhar, do contrário
seria desonesto." O resultado talvez não tenha sido um sucesso de vendas,
mas foi um sucesso de crítica, com comentários na *Crtitique* e na
*ArtPress*, entre várias outras. Detalhe: qualquer problema, o telefone
dava direto na mesa do dono, que resolvia tudo, ou me passava para o
funcionário encarregado.

É uma longa história que conto aqui porque essa de que as grandes editoras
não nos querem e as pequenas nos enganam me parece patologia.

Abraço,

Carlos
-------------- Próxima Parte ----------
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