[ANPPOM-Lista] Composition is not research???

Jorge L. Santos jorgelsantos02 em gmail.com
Dom Dez 13 14:18:26 BRST 2015


Pesquisa ou não, o termo importante menos, pois é uma mera briga pelo
status e pelo capital político que pode trazer, entretanto  o tipo de
pesquisa realizada no campo composicional vai na contramão de todas as
tendências de pesquisas em áreas tão distintas quanto física quântica e
geografia cultural.

A "descoberta" do Bóson de Higgs foi assinada por mais de 4 mil
pesquisadores. Apenas o CERN tem mais de 3 mil pesquisadores associados.
Nas áreas de humanas grandes temas, por exemplo "democracia participativa",
estão engajados em redes de pesquisadores que abordam não só a teoria
abstrata do fenômeno mas também suas formas de  expressões nas mais diveras
regiões.

Enquanto isso, a composição (acho que o problema é ainda maior na
"performance" - aquele tipo de pesquisa em que o sujeito faz uma análise da
música e depois sugere uma digitação ou interpretação) até por sua tradição
individualista, centrada no gênio individual, é na maioria das vezes um
teoria/método de um homem só.
A partir do momento que deixou de haver um paradgima único do que é a "boa
composição" [ e não estou defendendo a volta de disso, claro] uma análise
racional do resultado (de uma obra) se tornou tecnicamente inviável, ou tão
subjetivo que não pode se arrogar uma crítica dentro dos "padrões
científicos" ( ou seja, a avaliação se tornou basicamente opinião -
desconsiderando questões técnicas de instrumentação, claro), o foco então
foi para o processo. A disputa de hegemônia, que sempre tem como peso maior
a questão política (*latu sensu) [*ou seja quem fala e de onde fala
(diretor disso ou daquilo, de país tal ou qual, professor doutor daqui ou
dali)] se dá pelos métodos e técnicas. Por esse caminho é mais fácil se
aproximar do saber o hegemônico dos nosso tempos, ou seja
racional-científico, fazer parecer que sua "pesquisa composicional" não
mera expressão do seu ego artístico.

A questão é que basicamente esse é um saber autóctone. Espera-se que cada
compositor invente seu próprio método, depois publique e convença os outros
da engenhosidade racional-científica dele. Na composição acadêmica o mundo
se volta para o *self, *é como se a composição fosse um fenômeno puramente
individual. Mesmo grupos de "pesquisas" são autóctones, um sujeito do grupo
X publica artigos falando do seu colega do mesmo grupo. Isso é o máximo de
produção "coletiva" que se vê.

Isso sem falar nas "imposturas intelectuais" , que deixaram o Alan Sokal
mais "chocado" do que ficou com Julia Kristeva e seu uso da matemática, que
fazem associações forçosas entre composição e outras áreas de muito mais
status como matemática, física e biologia na busca por legitimidade
enquanto pesquisa.

Nas ciências sociais a décadas se critica as práticas intelectuais que
reproduzem um status "colonizado" de pensamento, tem uma citação de
facebook mesmo que diz mais ou menos isso: '" neste momento o próximo
Bourdieur ou Latour está concluindo seu doutorado em alguma universidade na
Europa, enquanto no Brasil paralelamente o próximo especialista desse
próximo Bourdieu/Latour está concluindo seu doutorado".

Esse tipo de autocrítica praticamente inexiste na área de pesquisa em
música, e menos ainda na área de composição.

A reação do "campo" ao texto do Croft só demonstra como as vozes deste
campo estão mais preocupados em manter seu status acadêmico do que em
realmente tornar a pesquisa na área algo coerente e socialmente relevante.

Att,


Jorge L. Santos <http://jorgesantosmusica.wordpress.com/>
Rio de Janeiro
55 21 980508454
website <http://jorgesantosmusica.wordpress.com/>
ProjetoBC - Compositores <http://projetobc.com/>
Academia <https://unicamp.academia.edu/JorgeSantos>

<https://www.facebook.com/jorge.lima.santos>
<https://twitter.com/jorsantos02>

2015-12-12 21:03 GMT-02:00 Carlos Eduardo Mello <melloedu em unb.br>:

> Ok Jorge,
>
> a piada é boa, mas só pra retificar:
>
> Nunca foi colocada nenhuma placa de "Laboratório de Trombone" aqui não.
> Pelo menos não nos últimos 23 anos, desde quando temos um curso e um
> professor de trombone.
>
> C. E. M.
>
> On Dec 12, 2015, at 11:10 AM, Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
>
> > Olá:
> >
> > O tema é interessante.
> > Toda atividade humana em uma determinada área é pesquisa, quando os
> protagonistas da área dizem, majoritariamente, que ela é pesquisa.
> > Pesquisa séria necessita da instalação de laboratórios.
> > Lembro-me do momento, há muitos anos, em que a Universidade e alguns
> órgãos de fomento resolveram prover recursos para áreas de pesquisa que
> precisassem instalar laboratórios.
> > Na semana seguinte, quem passeava pelos corredores da Universidade,
> verificava que novas placas estavam afixadas nas portas das salas:
> Laboratório de Canto Coral, Laboratório de Trombone, Laboratório de Oboé,
> Laboratório de Fagote, Laboratório de Regência, Laboratório de Violão etc.
> > Jorge Antunes
> >
> > Em 12 de dezembro de 2015 02:15, Liduino Pitombeira <
> pitombeira em yahoo.com> escreveu:
> > Artistic research reports: When composition is not research
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> > Artistic research reports: When composition is not resea...
> > An article by UK composer and Brunel University lecturer John Croft,
> "composition is not research," was published in last April’s issue of TEMPO
> and has been doing ...
> > View on artisticresearchrepor...
> > Preview by Yahoo
> >
> >
> >
> > Liduino Pitombeira
> > Professor de Composição
> > Escola de Música - UFRJ
> > +55-21-98166-1160
> >
> >
> > From: Dr. K <musicoyargentino em gmail.com>
> > To: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> > Sent: Friday, December 11, 2015 3:11 PM
> > Subject: [ANPPOM-Lista] Composition is not research???
> >
> > Colegas (esp. compositores),
> >
> > O texto do Croft é altamente enviesado e já teve múltiplas respostas.
> > A visão dele encaixa facilmente no entendimento do compositor como
> > artesão – alguém que aplica técnicas já estabelecidas mas é incapaz de
> > gerar conhecimento novo. E está muito longe da atitude dos músicos do
> > século XXI que defendem a pesquisa como forma de contribuição de
> > estratégias socialmente relevantes e inovadoras para o fazer musical.
> >
> > De fato, perguntar-se se o ato criativo constitui pesquisa é válido. E
> > esse assunto está sendo discutido em encontros e em publicações aqui
> > no Brasil, só para citar as recentes - GT Práticas Criativas – SIMA
> > 2015; Workshop em Música Ubíqua; Encun. Antes de fazer declamações
> > sobre “outros países”, Croft deveria ler os trabalhos dos seus
> > colegas.
> >
> > Damián
> >
> >
> > Dr. Damián Keller | ccrma.stanford.edu/~dkeller
> > NAP | sites.google.com/site/napmusica
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> > Lista de discussões ANPPOM
> > http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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>
> On Dec 12, 2015, at 11:10 AM, Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
>
> > Olá:
> >
> > O tema é interessante.
> > Toda atividade humana em uma determinada área é pesquisa, quando os
> protagonistas da área dizem, majoritariamente, que ela é pesquisa.
> > Pesquisa séria necessita da instalação de laboratórios.
> > Lembro-me do momento, há muitos anos, em que a Universidade e alguns
> órgãos de fomento resolveram prover recursos para áreas de pesquisa que
> precisassem instalar laboratórios.
> > Na semana seguinte, quem passeava pelos corredores da Universidade,
> verificava que novas placas estavam afixadas nas portas das salas:
> Laboratório de Canto Coral, Laboratório de Trombone, Laboratório de Oboé,
> Laboratório de Fagote, Laboratório de Regência, Laboratório de Violão etc.
> > Jorge Antunes
> >
> > Em 12 de dezembro de 2015 02:15, Liduino Pitombeira <
> pitombeira em yahoo.com> escreveu:
> > Artistic research reports: When composition is not research
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> > Artistic research reports: When composition is not resea...
> > An article by UK composer and Brunel University lecturer John Croft,
> "composition is not research," was published in last April’s issue of TEMPO
> and has been doing ...
> > View on artisticresearchrepor...
> > Preview by Yahoo
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> >
> > Liduino Pitombeira
> > Professor de Composição
> > Escola de Música - UFRJ
> > +55-21-98166-1160
> >
> >
> > From: Dr. K <musicoyargentino em gmail.com>
> > To: "anppom-l em iar.unicamp.br" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> > Sent: Friday, December 11, 2015 3:11 PM
> > Subject: [ANPPOM-Lista] Composition is not research???
> >
> > Colegas (esp. compositores),
> >
> > O texto do Croft é altamente enviesado e já teve múltiplas respostas.
> > A visão dele encaixa facilmente no entendimento do compositor como
> > artesão – alguém que aplica técnicas já estabelecidas mas é incapaz de
> > gerar conhecimento novo. E está muito longe da atitude dos músicos do
> > século XXI que defendem a pesquisa como forma de contribuição de
> > estratégias socialmente relevantes e inovadoras para o fazer musical.
> >
> > De fato, perguntar-se se o ato criativo constitui pesquisa é válido. E
> > esse assunto está sendo discutido em encontros e em publicações aqui
> > no Brasil, só para citar as recentes - GT Práticas Criativas – SIMA
> > 2015; Workshop em Música Ubíqua; Encun. Antes de fazer declamações
> > sobre “outros países”, Croft deveria ler os trabalhos dos seus
> > colegas.
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