[ANPPOM-Lista] [etnomusicologiabr] atribuição de "mulato calado"

Alexandre Negreiros alexandrenegreiros em yahoo.com.br
Qui Fev 19 16:36:23 BRST 2015


Mandando outra vez a mensagem com a pesquisa sobre “Mulato Calado” para a lista da ANPPOM.
Abcs
Alexandre


> Em 18/02/2015, à(s) 00:59, Alexandre Negreiros <alexandrenegreiros em yahoo.com.br> escreveu:
> 
> Oi pessoal
> 
> Me metendo, o site da UBC oferece uma pesquisa ao banco de dados do ECAD (serviços / consulta web). Creio ser uma busca relevante principalmente por se dar no banco de dados que informa a distribuição dos direitos aos beneficiários da execução pública, dentre os usos, em geral o mais rentável para músicas.
> 
> Lá consta uma única obra com esse nome, com código ECAD nº 1526. O ISWC não é informado (o código internacional, e uma busca pelo banco lá de fora traz nenhum resultado, o que sugere não ter havido interesse dos gringos por ela ou, se houve, em trazer seus frutos pra cá). Constam como autores Benjamim Baptista Coelho e Marina Baptista, e a Edições Todamérica como editora.
> 
> Uma busca por Wilson Batista (sem o P) resulta em nenhum resultado. A busca com o P traz um só Wilson Baptista, que é o pseudônimo único de Wilson Baptista de Oliveira, cujo nº CAE/IPI (Identidade internacional do autor) é 70301034. Este consta como compositor de mais de 300 músicas. Na lista em ordem alfabética não aparece nenhuma obra com o nome Mulato Calado; de “Mocinho da Vila” vai para “Mulher de Trinta Anos”, e também não consta algo como “O Mulato…"
> 
> Outra busca por Benjamim Baptista Coelho resulta em dois titulares com esse mesmíssimo nome. Num há três obras: Mulato Calado, Cartomante e Teu Retrato. No outro só falta uma delas, o que parece revelar apenas um cadastro em duplicidade, gerado por nova sociedade depois de mudança pouco planejada (um problema bem brasileiro e estadunidense, únicos países que admitem mais de uma sociedade de autores do mesmo gênero de criação artística)
> 
> Na busca por Fonogramas com esse título, constam 3 gravações: Da Aracy Teles de Almeida (EMI), Adriana da Cunha Calcanhoto (Sony) e Clementina de Jesus da Silva (EMI). A única delas constando o ISRC é a da Aracy, cujo número é BREMI4700011. 
> 
> 
> Esses dados nos permitem algumas conclusões. Primeiro, no Brasil não há outro Wilson Baptista, e este já é um pseudônimo. O Benjamim é outra pessoa, e compôs só três músicas. Depois, que pelo menos um dos autores da obra "Mulato Calado" tem um contrato de edição assinado com a Todamérica, mas é possível que ambos tenham assinado com essa editora. Isso significa que ela recebe uma parte de tudo o que é gerado para cada um deles. Se o acesso ao banco de dados fosse “por dentro” do ECAD, saberíamos inclusive os percentuais, extraídos dos contratos para criar a “chave de partição” do dinheiro.
> 
> O lançamento duplo explicita o fato de que o sistema é falho, mas por ser o que gera os principais recursos é suscetível a reclamações de candidatos a prejudicados, especialmente se for um grande arrecadador, freguês assíduo das verificações necessárias a que se evitem erros mais danoso$ ao patrimônio. Ocorre que pelo parentesco entre ambos os herdeiros do Wilson (que morreu no meu aniversário de 3 anos, rs), podem ser os mesmos, o que tornaria irrelevante qualquer acerto. Só que os editores são em geral ávidos por cada centavo a que tem direito pelos contratos com que tomam a alma dos envaidecidos, e não deixariam passar uma atribuição indevida, capaz de multiplicar lançamentos equivocados em planilhas de rádios e TVs, o que lhes tomaria tempo e dinheiro. 
> 
> Não consigo identificar a existência de editor representando o Wilson em suas muitas obras, mas é possível ver muitas parcerias diferentes em que há muitos editores diferentes representando talvez ambos, talvez apenas o parceiro. Isso pode significar que ele “não assinava obras com editores” (o que me parece exageradamente lúcido para um autor daquela época), ou que assinava cada vez com um editor diferente. Se não assinava, é mais provável que sua sociedade esteja negligente na defesa de seus direitos (um dos muitos ônus da fragmentação inacreditável do nosso sistema) mas, se assinava cada vez com uma, o provável é que não haja erro, pois esta viria com sede tentar fazer valer a autoria do contrato que detém.
> 
> O sistema admitiria mais de uma música com o mesmo nome, mas esforços contra fraudes vem pressionando pela não inserção de uma 2ª música com o nome de outra que lá já conste, especialmente se esta tiver boa arrecadação. Mas não há nada na lei que impeça. Então, não há duas músicas com esse nome, que gerasse confusão assim.
> 
> Por fim, lembro que a atribuição de autoria é declaratória, pois a Conv. de Berna impede que sejam criadas formalidades (como é o registro) para o exercício dos direitos autorais, e para um juiz decidir que uma autoria da obra originária não está devidamente atribuída, deve ser inequivocamente demonstrada a anterioridade de outra assunção sobre obra materializada (enquanto no plano das ideias não há proteção). Mas se a chance de conflito é reduzida pelo parentesco, a hipótese de o autor ter mesmo sido o Wilson, que teria atribuído a seu tio e esposa - tal como consta que Noel pagava dívidas - só relatos mais detalhados (diria, íntimos) poderão nos esclarecer. Mas se pelo que nos relata o Severiano foi vago, creio que se deva colocar barbas de molho.
> 
> Enfim, acho que essa atribuição de autoria ao Wilson não procede, ou carece de demonstrações mais sólidas.
> 
> Abçs!
> Alexandre
> 
> 
> 
> 
> 
> 
>> Em 17/02/2015, à(s) 14:56, Carlos Sandroni <carlos.sandroni em gmail.com <mailto:carlos.sandroni em gmail.com>> escreveu:
>> 
>> Oi Carlos (e demais colegas eventualmente interessados neste assunto),
>> 
>> Eu andei às voltas com esta mesma pergunta para o artigo que publiquei na Revista USP em 2010 (creio que vc já conhece):
>> 
>> http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13836 <http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13836>
>> 
>> Para elucidar este ponto, escrevi um email para a Daniella Thompson, cujo site sobre música popular brasileira está cheio de informações interessantes e raras:
>> 
>> http://daniellathompson.com/ <http://daniellathompson.com/>
>> 
>> Ela me respondeu dizendo que a fonte que havia usado para atribuir a autoria de "Mulato calado" a Wilson Batista havia sido o pesquisador da MPB Paulo César de Andrade. Escrevi pra ele que me respondeu o seguinte, num email do dia 2 de fevereiro de 2010:
>> 
>> "Alô Carlos.
>>  
>> Wilson Batista várias vezes usou em sua carreira outros nomes, parece que para driblar obrigações contratuais com as editoras e gravadoras de músicas. Benjamin Batista, Marina Batista (sua mulher por um tempo) e J.
>> Batista foram os mais usados. Isso em torno da virada das décadas de 1930 / 1940. MULATO CALADO é de autoria exclusiva de Wilson Batista.
>> Qualquer problema, continuo a seu dispor.
>> Um abraço"
>> 
>> Ele também não diz de onde obteve estas informações. Fala como se soubesse disso por experiência direta... Mas foi o melhor que consegui como esclarecimento.
>> Abraço grande,
>> Sandroni
>> 
>> 
>> 2015-02-16 13:43 GMT-03:00 Carlos Palombini cpalombini em gmail.com <mailto:cpalombini em gmail.com> [etnomusicologiabr] <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br <mailto:etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>>:
>>  
>> 
>> 
>> Alguém saberia me dizer com que base "Mulato calado" é atribuído a Wilson Batista? No acervo do Instituto Moreira Salles, a gravação, por Aracy de Almeida, em 1947, aparece como de autoria de Benjamin Batista e Marina Batista (acervo Franceschi). No acervo Tinhorão do IMS, a partitura impressa, também de 1947, aparece como de Benjamin Batista.
>> 
>> O livro Wilson Batista e sua época, de Bruno Ferreira Gomes (Funarte, 1985), não cita a música, mas também não fala dos dons musicais de Marina Silva Batista, esposa do compositor, e, para completar, ainda chama um amigo deste, de "o 'Mulato Calado'". 
>> 
>> Por fim, também em 1985, a Funarte lança um LP em cujo selo "Mulato calado" aparece como de Marina Baptista e Benjamin Baptista, mas o LP se chama Wilson Batista, e, no encarte, Jairo Severiano afirma que, em "Mulato calado" substituiu-se "o nome do autor pelos de Benjamin e Marina Baptista, respectivamente, seu tio e esposa". Severiano diz ainda que Wilson Batista "deixou viúva (D. Marina Baptista) e três filhos, que não herdariam suas qualidades artísticas." Em seu último livro, Severiano cita "Mulato calado" como de Wilson Batista pura e simplesmente, mas não fornece maiores explicações.
>> 
>> -- 
>> carlos palombini
>> professor de musicologia ufmg
>> professor colaborador ppgm-unirio
>> ufmg.academia.edu/CarlosPalombini <http://goo.gl/KMV98I>
>> www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2 <http://www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2>
>> 
>> __._,_.___
>> Enviado por: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com <mailto:cpalombini em gmail.com>>
>> Responder através da web <https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/etnomusicologiabr/conversations/messages/9655;_ylc=X3oDMTJxamkxcnZnBF9TAzk3NDkwNDM3BGdycElkAzE3OTEyNjM1BGdycHNwSWQDMjEzNzExMTE2OQRtc2dJZAM5NjU1BHNlYwNmdHIEc2xrA3JwbHkEc3RpbWUDMTQyNDEwNTA0MA--?act=reply&messageNum=9655>                       	•	 <mailto:cpalombini em gmail.com?subject=Res%3A%20atribui%C3%A7%C3%A3o%20de%20%22mulato%20calado%22>	•	através de email             <mailto:etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br?subject=Res%3A%20atribui%C3%A7%C3%A3o%20de%20%22mulato%20calado%22>           	•	Adicionar um novo tópico <https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/etnomusicologiabr/conversations/newtopic;_ylc=X3oDMTJmNW1vM2JjBF9TAzk3NDkwNDM3BGdycElkAzE3OTEyNjM1BGdycHNwSWQDMjEzNzExMTE2OQRzZWMDZnRyBHNsawNudHBjBHN0aW1lAzE0MjQxMDUwNDA->           	•	Mensagens neste tópico <https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/etnomusicologiabr/conversations/topics/9655;_ylc=X3oDMTM1Y2traHBzBF9TAzk3NDkwNDM3BGdycElkAzE3OTEyNjM1BGdycHNwSWQDMjEzNzExMTE2OQRtc2dJZAM5NjU1BHNlYwNmdHIEc2xrA3Z0cGMEc3RpbWUDMTQyNDEwNTA0MAR0cGNJZAM5NjU1> (1)                       
>> ABET (Associação Brasileira de Etnomusicologia)
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