[ANPPOM-Lista] [etnomusicologiabr] 50 discos independentes que você deveria ter baixado de graça em 2014

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Seg Jan 5 15:18:53 BRST 2015


Hugo,

Obrigado pela resposta!

Na mensagem anterior estive a ponto de me alongar sobre outra lista que
enviei há pouco, esta assinada e comentada, dos não sei quantos melhores
funks de 2014. Na verdade, só comecei a ouvir as músicas depois de
enviá-la. E, após seus comentários, fica claro que assinar e comentar não
resolve o problema. Pelo contrário, pode ser este o problema. Aproveito sua
mensagem para desenvolver o tema.

Eu não a tinha escutado antes a primeira música listada, "Os novinhos tão
sensacional", com os MCs Gorila e Preto, produção do DJ Gordura, e fiquei
feliz em conhecê-la. Mas isso porque eu sabia que "as novinhas tão
sensacional" (com o MC Romântico, produção musical do DJ Bambam, clip de
Tom Produções) havia sido um dos bordões mais escutados em 2014 (mais de
seis milhões e meio de visualizações apenas no canal da Tom Produções), com
a mesma melodia e a mesma base (a música é uma paródia portanto); sabia que
a base Olodum que ela utiliza havia figurado antes na música X e na paródia
Y da música X; sabia dos jogos de paródias e citações que são parte da
linguagem do hip-hop e do funk carioca em particular; sabia que 2014 havia
sido o ano de ascensão fulgurante de um jovem MC (evidentemente incluído na
lista em posição de destaque), alçado, do circuito dos bailes de favela e
de asfalto, a um contrato com uma "grande gravadora"; sabia das piadas
internas que circularam entre DJs acerca do comportamento do dito MC em
bailes de favela; sabia dos jogos de afirmação de normas de comportamento
sexual e dos jogos de transgressão de tais normas --- dependentes de sua
afirmação --- e sabia, finalmente, dos modos de pressão para frustrar o
sucesso alheio que são um dos principais temas do meio e, por consequência,
motivo condutor da música. Para quem não esteja informado acerca de nada
disso, creio que "Os novinhos tão sensacional" na primeira posição da lista
não faça sentido nenhum.

Eu poderia continuar me alongando por mais dois ou três itens sucessivos.
Depois disso, desisti de ouvi-los por considerar a lista irrelevante, a não
ser como um catálogo de contas do Soundcloud de gente ativa na área.
Sobretudo ao perceber que, uma sim outra não, a produção das faixas era
assinada pelos DJs que organizam a listagem.

É problema semelhante ao do livro os não sei quantos funks que você precisa
ouvir antes de morrer. Creio que sem pesquisa sistemática do tipo
denominado positivista (datas, autores, intérpretes, produtores
fonográficos, biografias, circulação do produto), sem trabalho conceitual
de crítica e refinamento das nomenclaturas, sem trabalho etnográfico (no
campo da etnomusicologia ou fora dele) toda a interpretação tende ao
delírio, à irrelevância ou à autopromoção, seja em trabalhos científicos,
seja em textos de divulgação.

Abraço,

Carlos

2015-01-05 12:51 GMT-02:00 Hugo Leonardo Ribeiro hugoleo75 em gmail.com
[etnomusicologiabr] <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>:

>
>
> Prezado Rafael,
>
> a pergunta do Sandroni continua sem ser respondida. Um site não é uma
> pessoa, e mesmo que seja um coletivo, seria interessante saber qual a
> metodologia de escolha, dentro de um coletivo, para se fazer uma lista que
> represente a todos, coletivamente. Ou seja, ainda nada sabemos sobre o
> responsável por tal lista.
>
> Outro ponto, é o fato de eu nada saber sobre nenhum dos artistas, fora o
> Crioulo. Logo, para mim, essa lista não me diz nada. E não tive nenhum
> interesse em baixar nenhum dos discos ali listados. Como Palombini bem
> escreveu "Nenhum deles, que eu saiba, é minha praia, portanto tampouco
> tenho a intenção de ouvi-los, porque ali já acontece mais do que posso
> absorver".
>
> Mas achei interessante perceber que, somente através das capas, nenhum
> deles me interessou. Talvez uma capa "gore" me causasse interesse. Em minha
> pesquisa de doutorado eu dei uma certa atenção aos códigos simbólicos por
> trás das imagens, roupas, comportamentos (posse e local das fotos), em
> relação às fronteiras estilísticas. Seria como se houvesse uma coerência
> estilística entre que une, de alguma forma, todos os aspectos de
> determinado gênero musical. Essa coerência eu chamei de ideologia. Mas, em
> tempos de misturas musicais, identificar a ideologia que rege e dá
> coerência às práticas culturais (uma vez que vão além das práticas
> musicais/sonoras) não é fácil. Principalmente quando eu não conheço esse
> submundo da chamada música independente...
>
> Ou seja, pelas capas eu não tive noção de qual tipo de música os artistas
> fazem. E como meu tempo livre é curto, fico na minha praia, onde ainda há
> muito para ouvir.
>
> Talvez, se junto com cada capa do disco viesse um breve comentário do que
> iremos encontrar, eu pudesse me interessar mais.
>
> Ou, talvez, e muito provável, eu seja cabeça dura. Estranho isso vindo de
> um etnomusicólogo. Todavia, nem sei se sou mais essa coisa, (rindo
> potássios)...
>
> Um abraço,
>
> Hugo Ribeiro
>
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