[ANPPOM-Lista] Janine defende educação sem currículos rígidos

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Dom Mar 29 10:48:01 BRT 2015


Minha sugestão ao ministro é que haja isonomia salarial para todo professor doutor, seja dando aulas na universidade, na educação infantil, no fundamental ou no médio. 

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Prof. Dr. Marcos Câmara de Castro 
Compositor e Professor de Canto Coral, Etnomusicologia e Educação Musical do Departamento de Música da FFCLRP-USP 
Membro do NAP-CIPEM Núcleo de Apoio à Pesquisa em Ciências da Performance em Música 
Líder do Grupo de Pesquisa EsTraMuSE - Estudos Transdisciplinares em Música, Sociedade, Educação 
http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/4094693495303397 
Universidade de São Paulo 
Campus de Ribeirão Preto (SP), BRASIL 
http://portal.ffclrp.usp.br/sites/camaradecastro 
http://lattes.cnpq.br/8866596468646798 

----- Mensagem original -----

> De: "Carlos Palombini" <cpalombini em gmail.com>
> Para: anppom-l em iar.unicamp.br, "etnomusicologiabr"
> <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>
> Enviadas: Domingo, 29 de Março de 2015 9:28:45
> Assunto: [ANPPOM-Lista] Janine defende educação sem currículos
> rígidos

> Escolhido por Dilma Rousseff para comandar o Ministério da Educação,
> o filósofo Renato Janine Ribeiro tem ideias avançadas para o setor.
> Ele discorreu sobre elas num artigo veiculado há quatro meses na
> coluna semanal que mantém no jornal ‘ Valor Econômico ’. Defendeu,
> por exemplo, a tese segunda a qual a educação deveria deixar de
> seguir currículos rígidos, tornando-se mais prazerosa e criativa.
> Para o novo ministro, não se pode entender o mundo moderno sem levar
> em conta o seguinte: “a educação não termina no último dia do ensino
> profissional ou do curso superior —nem nunca.” Janine avalia que
> certos diplomas, como o de médico, poderiam ser “concedidos com
> exigência de atualização” em prazos pré-determinados. Ministradas em
> “cursos avaliados”, essas atualizações seriam “obrigatórias,
> previstas em lei”.
> Janine defende também a criação de “um crescente leque de cursos
> abertos, sem definição profissional, que aumentarão incrivelmente a
> qualidade da vida dos alunos.” Ele explicou: “Para cada curso de
> atualização em genoma para profissionais de saúde, haverá dezenas
> sobre filmes de conflitos entre pais e filhos, de aprendizado com
> religiões distantes, de arte em videogames, destinados a cidadãos em
> geral, de qualquer profissão —e a lista não acaba.”
> O escolhido de Dilma deu exemplos do que pode suceder num sistema
> educacional que inclua os cursos abertos: “Quem cresceu num meio
> limitado pode descobrir que o sentido de sua vida é a fotografia
> (como o jovem favelado que é o narrador do filme ‘Cidade de Deus’):
> um artista se revela. Ou um menino sensível, alvo de ‘bullying’ na
> escola, descobre que é homossexual e que não está sozinho no mundo:
> um ser humano se liberta da ignorância que o prendia. Assim, a
> cultura aumenta seu próprio contingente – com a descoberta de novos
> artistas – mas, acima de tudo, amplia a liberdade humana.”
> Noutros tempos, anotou Janine, a identificação da vocação das pessoas
> seguia padrões engessados. “Cada pessoa vivia num pacote
> identitário: por exemplo, homem branco abonado, casado, filhos,
> advogado ou médico ou engenheiro. Tudo isso vinha junto.” Hoje,
> avalia o novo titular da Educação, os horizontes alargaram-se.
> “Há milhares de profissões”, escreveu Janine. “No limite, cada um
> cria a sua. Profissão, emprego, orientação sexual, estado civil,
> crenças políticas e religiosas, tudo isso se combina como um
> arco-íris felizmente enlouquecido. Ninguém é mais obrigado a se
> moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável
> descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal.”
> Janine esgrimiu no artigo um ponto de vista ousado sobre quais seriam
> os principais ministérios da Esplanada. Começou brincando com as
> palavras: “Qualquer um sabe responder quais são os principais
> ministérios do governo federal —aliás, de qualquer governo no mundo
> atual. São os da área econômica. Só que não”.
> Depois, foi ao ponto: “Os ministérios que definem o futuro de um
> país, que deverão ser decisivos nos próximos anos, e em poucas
> décadas serão reconhecidos como os principais, são três: Cultura,
> Atividade Física (como eu chamaria a atual pasta dos Esportes) e
> Meio Ambiente.”
> Tomado pelas palavras, Janine talvez preferisse que Dilma o tivesse
> convidado para chefiar a pasta da Cultura. No artigo, ele falou de
> educação como um complemento da cultura. Traçou um paralelo: “A
> cultura tem a ver com a educação. As duas pressupõem que o ser
> humano não nasce pronto, mas é continuamente construído pela
> descoberta dos segredos do mundo e pela invenção do novo.”
> Prosseguiu: “Na educação como na cultura, não há limite: sempre se
> pode descobrir ou inventar mais. Nada é tão crucial quanto elas para
> uma sociedade em mudança rápida, como a nossa. A educação e a
> cultura, nas suas várias formas, fazem crescer a liberdade das
> pessoas.”
> Janine recordou que, em artigo anterior, afirmara que “a cultura é a
> educação fora de ordem, livre e bagunçada.” Comparou: “Para cursos,
> há currículos. Para a cultura, não. Um curso sobre a abolição da
> escravatura é educação, o filme ‘Lincoln’ é cultura.”
> Foi nesse ponto que o novo ministro revelou o que seria para ele o
> modelo ideal de educação: “Cada vez mais, a educação deverá se
> culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois,
> tornando-se prazerosa; três, criativa.” Na opinião de Janine,
> deve-se conservar apenas “um currículo norteador, que leve da
> infância à idade adulta.” Sem perder de vista que a educação jamais
> termina.
> Vai abaixo a íntegra do artigo de Renato Janine Ribeiro, datado de 1º
> de dezembro de 2014:

> Os principais ministérios: Cultura
> Q ualquer um sabe responder quais são os principais ministérios do
> governo federal —aliás, de qualquer governo no mundo atual. São os
> da área econômica.
> Só que não.
> Os ministérios que definem o futuro de um país, que deverão ser
> decisivos nos próximos anos, e em poucas décadas serão reconhecidos
> como os principais, são três: Cultura, Atividade Física (como eu
> chamaria a atual pasta dos Esportes) e Meio Ambiente.
> Essa tese parece tão insensata que precisa ser justificada. Começo
> pela Cultura; nas próximas colunas falarei das outras duas áreas.
> Mas um artigo de Antonio Callado pode ilustrar esta questão inteira:
> em abril de 1994, quando Rubens Ricupero deixou o Ministério do Meio
> Ambiente e da Amazônia Legal para assumir a Fazenda, Callado
> lamentou o que ele, só ele, chamou de rebaixamento: Ricupero deixava
> uma pasta que portava o futuro do mundo, para cuidar de algo sem a
> mesma relevância estratégica. É nesta linha que vamos argumentar.
> É claro que a economia é decisiva para um país, um governo. Mas ela
> geralmente trata de meios, mais que de fins. O próprio nome de
> ‘infraestrutura’, usado para agrupar algumas de suas pastas, já
> indica isso: infra, não super. O solo que pisamos, não o espaço
> entre zero e dois metros de altura em que nos movemos. Temos também
> ministérios para lidar com nossos déficits sociais, como saúde,
> direitos humanos, igualdade das mulheres e dos negros. Um dia que
> não deve demorar muito, a igualdade de direitos estará alcançada.
> Mas, desde já, há setores da administração que devem apontar fins –
> não de forma autoritária, vertical, mas fazendo a riqueza criativa
> da sociedade impactar a administração.
> A cultura tem a ver com a educação. As duas pressupõem que o ser
> humano não nasce pronto, mas é continuamente construído pela
> descoberta dos segredos do mundo e pela invenção do novo. Na
> educação como na cultura, não há limite: sempre se pode descobrir ou
> inventar mais. Nada é tão crucial quanto elas para uma sociedade em
> mudança rápida, como a nossa.
> A educação e a cultura, nas suas várias formas, fazem crescer a
> liberdade das pessoas. A cultura, já afirmei aqui, é a educação fora
> de ordem, livre e bagunçada. Para cursos, há currículos. Para a
> cultura, não. Um curso sobre a abolição da escravatura é educação, o
> filme “Lincoln'' é cultura. Cada vez mais, a educação deverá se
> culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois,
> tornando-se prazerosa; três, criativa.
> A Cultura deixará de ser o sobrinho menor da Educação. O próprio
> caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la
> fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa
> sociedade criativa. Deve-se conservar na educação um currículo
> norteador, que leve da infância à idade adulta. Mas para entender o
> mundo que hoje desponta é bom ter claro o seguinte: a educação não
> termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior –
> nem nunca.
> Alguns diplomas, como o de médico, até poderão ser concedidos com
> exigência de atualização, a cada tantos anos. Essa atualização será
> dada por cursos avaliados e fará parte da área da Educação. Mas além
> das atualizações obrigatórias, previstas em lei, será necessário – e
> demandado – um crescente leque de cursos abertos, sem definição
> profissional, que aumentarão incrivelmente a qualidade da vida dos
> alunos. Já temos iniciativas neste sentido, inclusive uma
> empresarial (a Casa do Saber), que têm dado certo. Enfatizo: esses
> cursos serão mais culturais, não estritamente educacionais. Para
> cada curso de atualização em genoma para profissionais de saúde,
> haverá dezenas sobre filmes de conflitos entre pais e filhos, de
> aprendizado com religiões distantes, de arte em videogames,
> destinados a cidadãos em geral, de qualquer profissão – e a lista
> não acaba.
> A cultura é indutora de liberdade. Romances, filmes e mesmo novelas
> nos abrem para experiências com as quais, no mundinho em que cada um
> nasceu e cresce, nunca pudemos sonhar. (É inquietante como estamos
> voltando a viver em guetos; a própria dificuldade de tantos
> aceitarem que houve gente que votou diferente deles, na recente
> eleição, é sinal desse fechamento de cada grupo sobre si – o que
> pode limitar a capacidade de cada um se enriquecer com a compreensão
> do outro, do diferente).
> Quem cresceu num meio limitado pode descobrir que o sentido de sua
> vida é a fotografia (como o jovem favelado que é o narrador do filme
> “Cidade de Deus''): um artista se revela. Ou um menino sensível,
> alvo de “bullying'' na escola, descobre que é homossexual e que não
> está sozinho no mundo: um ser humano se liberta da ignorância que o
> prendia. Assim, a cultura aumenta seu próprio contingente – com a
> descoberta de novos artistas – mas, acima de tudo, amplia a
> liberdade humana.
> Hoje, pela primeira vez na história mundial, cada um de nós pode
> efetuar a sintonia mais fina possível de sua vocação. Antigamente,
> cada pessoa vivia num pacote identitário: por exemplo, homem branco
> abonado, casado, filhos, advogado ou médico ou engenheiro. Tudo isso
> vinha junto. Hoje, as possibilidades se ampliaram muitíssimo. Há
> milhares de profissões. No limite, cada um cria a sua. Profissão,
> emprego, orientação sexual, estado civil, crenças políticas e
> religiosas, tudo isso se combina como um arco-íris felizmente
> enlouquecido. Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas
> isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que
> não dizer, coragem pessoal. A cultura ajuda aqui, porque nenhum
> setor da aventura humana nos capacita tanto para, cada um de nós,
> descobrir sua diversidade única. “
> http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2015/03/28/janine-defende-educacao-sem-curriculos-rigidos

> --

> carlos palombini
> professor de musicologia ufmg
> professor colaborador ppgm-unirio
> ufmg.academia.edu/CarlosPalombini

> www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2

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