[ANPPOM-Lista] VÍDEO RARO RECUPERADO

Camila Zerbinatti camiladuze em gmail.com
Qui Jun 30 12:37:55 BRT 2016


Olá,

Cara Eliana, muito obrigada pelas ótimas e mais do que justificadas
observações e perguntas.  Me pergunto, a partir do que você coloca: por que
será que são sempre [com raríssimas exceções, as quais desconheço] os
corpos de mulheres cujas nudez, erotismo, sexualidade e sensualidade são
explorados, objetificados e expostos em obras artísticas e, ao mesmo
tempo,  por
que será que [praticamente] nunca o são, destas mesmas formas, os corpos
dos homens?" ou "Acredite: se fosse o contrário [histórica e geralmente], com
músicos nus e partners vestidas, ainda assim também seria oportuno e
enriquecedor questionar e polemizar.*"*

Caros Marcos e Luciano, muito obrigada pelas reflexões e colocações de
vocês. Só posso dizer que concordo plenamente. Em todos os pontos. Sobre
algo bem pontual que Marcos diz, sobre saber conviver com opiniões
diferentes, parece que séculos de Brasil Colônia e décadas de ditaduras
autoritárias nos impregnaram, de fato, no Brasil, até mesmo em um ambiente
acadêmico, com uma tristíssima herança: não sabemos e não conseguimos
conviver com ideias diferentes, não sabemos e não conseguimos sequer
suportar a existência de ideias diferentes das nossas sem imediatamente
partir para silenciamentos, deslegitimações, invalidações, extermínios,
aniquilações, intimidações, fascismos, exclusões, etc. Não sabemos e não
conseguimos conviver, co- existir, acolher e suportar discordâncias,
diferenças, os(as) diferentes, diversidades de ideias, de opiniões, de
posturas,
de escolhas,  heterogeneidades de quaisquer tipos, não sabemos e não
conseguimos discutir, debater, construir de forma dialogal e dialógica
relações que se dão no tempo. Tristes e sombrios tempos os que vivemos. Que
possamos todos e todas aprender com isto tudo, por mais difícil que seja.

Professor Jorge, parabéns por uma concepção de obra que conta com (e
insere) o(a) criador(a) na própria obra, na performance. Este aspecto da
peça foi o que mais admirei, como aliás, vários outros aspectos do teu
pensamento e de tua forma de compor (que acompanho principalmente em
entrevistas). Embora tenha questões e críticas com alguns aspectos muito
específicos de algumas obras, como a nudez das mulheres e a forma como ela
é utilizada nesta obra e em sua divulgação, admiro muito o fato de você
 transitar e criar na fronteira entre música e teatro, e tua trajetória.



Saudações cordiais para todos e todas,
Camila.


Em 30 de junho de 2016 11:01, <mcamara em usp.br> escreveu:

> É, tem isso...
>
> Aliás, desculpem, mas essa onda de pedidos para sair da lista visa a quê,
> em última análise? Fugir do debate? Fazer birra? Não é aqui que se deve
> discutir tudo que nos diz respeito? Peço, por favor, *que não me tirem da
> lista!* Peço também que não censurem o que quer que seja. É difícil
> conviver com as diferentes opiniões, mas é a única maneira de balizarmos
> nosso trabalho de maneira civilizada. Hoje em dia, é intolerável a
> objetificação do corpo feminino. Até a Playboy está fechando porque ninguém
> lia as tais entrevistas. Acho que discutir esse e outros assuntos é o que
> nos faz crescer como pesquisadores e cidadãos. Quando as ideias não se
> tornam hegemônicas, é quando se descobre que a diferença é o natural e como
> tal deve ser respeitada. O Wolff falou recentemente sobre o lugar de quem
> está falando. Pois é: cada um fala do seu e aprende-se muito com isso. São
> gratas surpresas. Parabéns à Eliana por sua coragem e perspicácia, com todo
> respeito ao colega Prof. Dr. Jorge.
>
> O meio acadêmico durante muito tempo sofreu de algo parecido com a
> sociedade de corte (ELIAS): quem não falava afinado, era rejeitado. Muito
> melhor assim: todos falam o que pensam e aprendemos a viver
> democraticamente. Democracia é um processo, não um estado final. Se é que
> todos querem isso. Na aristocracia, ainda que signifique "poder dos
> virtuosos", ninguém diz que o rei está nu.
>
> Abraços aos colegas diferentes de mim,
> Marcos
>
> ------------------------------
>
> *De: *"luciano cesar" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
> *Para: *"ms eliana" <ms.eliana em usp.br>, "Jorge Antunes" <antunes em unb.br>
> *Cc: *"ANPPOM-L" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> *Enviadas: *Quinta-feira, 30 de Junho de 2016 10:18:59
> *Assunto: *Re: [ANPPOM-Lista] VÍDEO RARO RECUPERADO
>
> Isso lá foi resposta? Foi um escracho, isso sim...
>
>    Acho um absurdo tergiversarmos questões de gênero dessa forma. Não é
> por acaso ou por alguma razão metafísica que as mulheres estavam nuas e os
> homens não. E essa razão não é simplesmente invertível como o prof. Jorge
> sugere. Isso pode não invalidar a beleza da proposta artística, mas há um
> pano de fundo aí que tem que ser debatido sim, mesmo que tenha que ser
> deixado claro que se trata de outro patamar: a objetificação do corpo
> feminino e a sua exposição, a separação de papeis (a mulher entrega a
> palavra nua, em estado natural, bruto, ela é uma força da natureza; mas o
> homem tem o trabalho intelectual, racional, ele é que e-labora, ele é quem
> TRABALHA e tem sua intimidade resguardada e protegida da exposição íntima,
> embora não haja mal nenhum em expor a intimidade desse "outro" - a
> alteridade feminina - visto como "natural")...
>     Enfim, há o que debater. Eliana foi muito cortês e talvez haja mesmo
> uma dimensão "estética" para além da escolha de quem fica pelado em uma
> montagem artística.
>     Essa dimensão me interessa muito pouco. O que me interessa hoje é o
> processo pelo qual os discursos são naturalizados. Sim, mestre Jorge,
> parabéns pela sua música...
> P.S.: cadê a mensagem do Palombini?
>
> Um abraço,
> Luciano
>
>
> Em Quinta-feira, 30 de Junho de 2016 10:06, "ms.eliana em usp.br" <
> ms.eliana em usp.br> escreveu:
>
>
> Caro Prof Jorge Antunes,
> Sempre há o que polemizar, mas por hora
> agradeço sua atenção em me responder!
> Abraço
> Eliana
>
> ----- Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
> > Oi, Eliana:
> >
> > O desnudamento só tem sentido no caminhar das letras: signos, grafemas,
> que
> > chegam a mim no espaço.
> > O alfabeto é um sistema nu.
> > A etimologia da palavra "alfabeto" procede do grego "alfa+beta". Porém, o
> > termo ab ou ib foi usado também pelos hebreus para denominar a divindade
> > máxima da religião monoteísta. Segundo a religião egípcia, a parte mais
> > importante da alma era o Ab ou Ib (coração). O Ib, coração metafísico,
> era
> > concebido como uma gota do coração da mãe para a criança durante a
> > concepção. Dessa forma, os seios e a região pubiana feminina são
> essenciais
> > na comunicação.
> > Infelizmente tudo é tão óbvio, que não dá para polemizar.
> > Abraço,
> > Jorge Antunes
> >
> > *PS. Acredite: se fosse o contrário, com músicos nus e partners
> vestidas, e
> > se você questionasse isso, eu também teria belas justificativas com
> apelo à
> > metafísica, à semiótica e à mitologia.*
> >
> > Em 29 de junho de 2016 10:24, <ms.eliana em usp.br> escreveu:
> >
> > > Muito interessante o vídeo Prof. Jorge Antunes,
> > > Somente para polemizar gostaria de perguntar por que os excelentes
> músicos
> > > não aparecem nus também?
> > > E qual a relevancia da nudez das mulheres para a mensagem que o senhor
> > > quis passar com este espetáculo?
> > > Abraço
> > >
> > > Eliana Monteiro da Silva
> > >
> > > ----- Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
> > > > VÍDEO RARO RECUPERADO.
> > > > Acaba de ser recuperada a filmagem raríssima de um espetáculo que
> > > realizei
> > > > em 1990:
> > > > SONS E LETRAS DE JORGE ANTUNES
> > > > Assista, curta, divulgue.
> > > > .
> > > > Nele, enquanto fabulosos músicos interpretam obras minhas, mulheres
> nuas,
> > > > no palco, me oferecem letras para que eu escreva poemas. E eu os
> escrevo.
> > > > Em outros momentos, faço o que sempre fiz: falo para as paredes e dou
> > > > murros em pontas de facas.
> > > > .
> > > > https://www.youtube.com/watch?v=cJjnyCNycuY&feature=youtu.be
> > >
> > >
>
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> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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>
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> Prof. Dr. Marcos Câmara de Castro
> Departamento de Música
> Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
> Universidade de São Paulo
> http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/4094693495303397
> http://portal.ffclrp.usp.br/sites/camaradecastro
> http://lattes.cnpq.br/8866596468646798
>
> https://scholar.google.com.br/citations?hl=pt-BR&user=GBa82HMAAAAJ&view_op=list_works&sortby=pubdate
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