[ANPPOM-Lista] Manifestação de Reitoria

Lu Cuervo luciane.cuervo em gmail.com
Seg Out 15 07:34:07 BRT 2018


Bom dia.
Feliz dia dos professores!

Encaminho a vocês um texto contundente e honesto, de colega reitor da UFG.
Quiçá todos os profissionais que com o ministro trabalharam se
manifestassem com esta coragem, objetividade e paixão pela educação. Que
sonho de reitor!

Estamos entre a barbárie e a democracia, e  neste sentido, por tudo que
tenho vivenciado e testemunhado de ataques a aspectos primordiais aos
direitos humanos contra familiares, amigos colegas e estudantes,
especialmente dentre o público LGBT, negros, indígenas e ativistas
feministas aqui no Sul, não posso ficar indiferente.
A arte nunca foi tão marginalizada e a liberdade nunca foi tão oprimida
desde os tempos da ditadura.
Gostaria que todas as instituições e classes representativas de nossas
áreas se manifestassem em defesa da democracia neste momento dramático e
urgente da história.
Eu desejo um professor para presidente, e não um ditador.
Por favor, leiam este texto abaixo e repassem ao máximo.
Abraços,

Luciane Cuervo


Veja o pronunciamento do Reitor da UFG, Edward  Madureira:
Queridos amigos e amigas.

Como vocês são testemunhas, tenho participado de vários grupos de WhatsApp
de forma pouco ativa e me manifestando no grupo apenas para prestar algumas
informações e manter contato com tantas pessoas que têm sido muito
importantes em minha vida.

Acompanho calado toda a discussão em torno das eleições, especialmente a
eleição presidencial, onde vejo o tensionamento se elevando em virtude,
principalmente, da paixão que toma conta de todos nós nesses momentos, fato
a meu ver absolutamente natural, dado que somos seres humanos e a paixão é
inata em nossa espécie.

Vou me manifestar aqui e em outros grupos apenas dessa vez,  e isso não
significa indisposição para o debate, pois já me coloco à disposição de
quem quiser aprofundar na questão para o fazermos no privado, respeitando
assim cada um que não deseja participar de discussões dessa natureza, que
via de regra são cansativas, inconvenientes e invasivas.

Não tenho também a pretensão de convencer a quem quer que seja, mas de
trazer elementos sólidos para uma decisão, ao contrário do material
panfletário que invade nossos dispositivos.

Não poderia me calar e ficar tranquilo com minha consciência se não
tentasse trazer um pouco de racionalidade para o debate. Farei isso a
partir do que já vivi na política e nos governos que participei. Ficar
calado diante de tantas inverdades disseminadas a partir da reprodução sem
o mínimo questionamento e averiguação, de vídeos, imagens e notícias falsas
difamando os projetos e as pessoas me causa profunda indignação.

Nem de longe quero defender que quem praticou corrupção não seja punido,
nem justificar erros de quem quer que seja.

Posso falar de um dos candidatos à presidência da república com muito
conhecimento de causa, uma vez que trabalhei muito próximo a ele por sete
dos oito anos em que fui reitor em meus dois primeiros mandatos, de janeiro
2006 a janeiro de 2014. Nesse período despachava com o ex-ministro Fernando
Haddad mensalmente, às vezes semanalmente, no período em que presidi ou que
participei da diretoria executiva da ANDIFES (Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior).

Afirmo com tranquilidade que conheci poucas pessoas com a determinação,
honestidade, ousadia, competência, inteligência, cordialidade, capacidade
de argumentação, disposição e firmeza para debater e defender suas opiniões
e convicções como é característico de Haddad.

Poderia citar inúmeros exemplos, mas vou me ater a apenas um que pode
resumir essas características.

Durante o período em que foi ministro concebeu e implementou juntamente
conosco o REUNI (Programa de Restruturação e Expansão das Universidades
Federais) que permitiu ao sistema federal mais do que dobrar as vagas em
cursos de graduação, e quase triplicar as vagas nos cursos de pós-graduação
desse sistema. Para tanto foi necessária a construção de milhões de metros
quadrados de salas de aula, laboratórios, auditórios, restaurantes
universitários, etc, todas elas construídas com qualidade e sem qualquer
dúvida sobre a lisura na aplicação dos recursos.

Em nossa querida UFG foram ampliadas as matrículas nos cursos de graduação
de pouco mais de 13.000 para as atuais quase 30.000, tínhamos cerca de 30
programas de pós-graduação stricto sensu com 10 cursos de doutorado, hoje
os programas são em número de 100 e os cursos de doutorado são 40 nas mais
diversas áreas.

Muitas vezes em contato com vocês, noto a surpresa ao visitarem a
universidade e a admiração com a estrutura que vocês encontram aqui, bem
diferente do tempo que por aqui passaram. Pois é amigos, dobramos a área
construída na UFG, de 200.000 metros quadrados para 400.000 metros
quadrados e quase todo a área pré-existente foi reformada quando Haddad era
ministro.

Tenho o orgulho de ver na UFG hoje milhares de jovens da periferia, de
regiões distantes da capital que anteriormente não poderiam sonhar em
estudar em uma universidade pública, gratuita e de qualidade.

Como o texto já está excessivamente longo certamente já deve estar
desestimulando-os a continuar a leitura, vou parar de falar dos feitos dele
que pude acompanhar. Mas afirmo com absoluta segurança que sem nenhuma
dúvida a educação brasileira nunca avançou tanto em tão pouco tempo como no
período em que ele foi ministro, seja na educação superior, seja na
educação básica, que nem é de responsabilidade do governo federal, sendo
atribuição constitucional de estados e municípios, mas que também foi
beneficiada com a criação do Fundeb, também em sua gestão.

São falsas as afirmações e peças que atribuem ao MEC sob o comando dele a
distribuição do “kit gay” e outras que circulam pelas redes. Ressalto que o
que trago nesse longo texto se refere a fatos que vi, participei, ou que
ouvi da própria boca dos candidatos ou de seus familiares.

Vocês sabem o quanto valorizo a universidade pública. Não tenho dúvidas de
que esse é o maior patrimônio do povo brasileiro, pois além de ser a única
forma segura de possibilidade de ascensão social, é também ali que se
produz a maior parte do conhecimento que permitirá o desenvolvimento do
país.

Para a maioria de vocês, que vieram de famílias humildes, foi a
universidade pública, que abriu as portas para conquistarem espaços
profissionais e consequentemente ter uma vida melhor, pois ao contrário
muitos sequer poderiam ter concluído o ensino superior.

Ao ouvir o filho do outro candidato em um vídeo afirmar taxativamente que
as universidades têm que ser entregues a iniciativa privada, vejo a
possibilidade de se fazer justiça social aniquilada.

O outro candidato falou e fala em alto e bom som ser a favor da ditadura,
acha normal a tortura, externa seu preconceito com mulheres, negros,
indígenas, homossexuais, credos e outros, que acha natural fechar o
congresso, restringir direitos e tantos mais absurdos que não precisam ser
detalhados se relacionados.

Mais uma vez reforço que o que afirmo não é por ouvir dizer, meu relato
emana da  minha convivência e das falas de um dos candidatos e das falas
públicas de outro candidato. Não me utilizo de vídeos, fotos, áudios nem de
notícias que não podem ser comprovados.

Me parece que o outro candidato que se apresenta como tão forte, corajoso,
afirmativo e diz ter propostas tão boas para o país, não passa mesmo de um
covarde que foge dos debates.

Será que é porque está à frente nas pesquisas de intenção de votos ou por
medo da inconsistência e fragilidade de seu projeto ancorado em uma
carreira absolutamente invisível de deputado e na truculência de suas
afirmações?

Dessa forma amigos, penso que o que está em jogo na nossa escolha do
próximo dia 28 é a democracia, que com todos os seus defeitos, ainda é a
melhor forma de se construir uma sociedade mais justa.

Não escreveria essa mensagem se o adversário do Fernando Haddad fosse
qualquer um dos outros candidatos que disputaram o primeiro turno da
eleição presidencial, mas diante da eminência da barbárie que já se vê
nesse intervalo entre os dois turnos dessa eleição, não vejo outra
alternativa.

Tenho certeza de que só a democracia ancorada na educação de qualidade
permitirá a inversão das inequívocas injustiças e profundas desigualdades
de nossa sociedade.

Voto Haddad e peço o seu apoio para continuarmos aprofundando a democracia
no acesso à educação pública, gratuita, de qualidade, laica, socialmente
referenciada, democrática, inclusiva, de relevância social e comprometida
com o desenvolvimento da nação.

Atenciosamente.

Prof. Edward Madureira Brasil.
Universidade Federal de Goiás.


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