[ANPPOM-L] Charles Baudelaire e o vanguardismo retrógrado

Jorge Antunes antunes em unb.br
Sex Ago 3 15:15:35 BRT 2007


Caro Palombini:

Os parágrafos que você comenta não são de autoria da Anppom. Eles são meus.
Os comentários que você faz são seus. Por isso você é o destinatário de minha resposta.
É pouco desconfiar de algumas vanguardas. Faça como eu, que desconfio de tudo e de todos.
Por favor, não me venha com frases de efeito de Baudelaire.
O livro que você menciona é a ediçao póstuma de seus diários. Nestes só encontramos ódio.
Os traumas de infância alimentaram o ódio ao general Aupick e ao mundo.
As críticas à civilização moderna, expressas nos diários, são desvarios inclusos no bojo daquele ódio.
Logo depois de Baudelaire abandonar os ideais da revolução de 1848, ele tornou-se aristocrata elitista.
Ser contra bandeiras, militância e luta, não é postura exclusiva do poeta descobridor de Poe.
Isso é pensamento permanente da direita. Vatimmo continua tentando convencer-nos de que o capitalismo e a democracia burguesa são o auge.
A Vanguarda não acabou e a História não acabou, simplesmente porque a Luta de Classes não acabou.
Abraço,
Jorge Antunes



carlos palombini wrote:

> Acredito em algumas vanguardas, mas desconfio muito de outras.
> Sobretudo, desconfio de vanguardas artísticas que vociferam seu direito
> de serem sustentadas pelo estado (i.e. pelo contribuinte, que sou eu) e,
> na falta de tal sustento, atacam o governo vigente, seja este qual for.
>
> > Existe um oceano de coisas distintas, que não são distintas aos olhos
> > e aos ouvidos de leigos, de surdos, de musicólogos, de cegos e de
> > críticos musicais da grande imprensa. Esse oceano é chamado de
> > pós-modernismo.
> >
>
> Existem idéias nebulosas que gradualmente configuram um fato novo.
> "Pós-modernismo" pode ser uma destas. A possibilidade de que isto
> aconteça foi demonstrada por Thomas Kuhn, filósofo da ciência, em 1962,
> no livro _The Structure of Scientific Revolutions_.
>
> > Existe uma parte desse oceano que é formada por compositores
> > /soi-disant /pós-modernos, mas que não passam de neoclássicos
> > envergonhados que tentam tapar o sol com a peneira. Aproveitando-se da
> > ignorância perceptiva e estética de incautos, alguns conseguem, apesar
> > do sol escaldante, fazer sombra com a peneira.
> >
>
> Aproveitar-se da ignorância perceptiva e estética de incautos não é,
> absolutamente, apanágio dos compositores pós-modernos.
>
> > Existe outra parte formada por compositores viciados ou recém-viciados
> > no ópio do povo (religião), que, em busca de uma hipotética e falsa
> > êxtase espiritual das esferas, aderem à retaguarda, alardeando uma
> > mentira: o fim das vanguardas.
> > Em verdade vos digo que a História não acabou e que a Vanguarda não
> > acabou.
> >
> Que a história enquanto disciplina não tenha acabado é evidente. Não
> acabou porque soube reconsiderar suas premissas e objetivos em vista de
> novos paradigmas (homenagem a Kuhn) narrativos.
>
> No que diz respeito a vanguardas e retaguardas, Baudelaire discordou de
> você há um século e meio, quando a idéia de uma vanguarda artística
> nascia ainda. Veja o que ele escreveu em meados do século XIX, num livro
> extraordinário chamado _Mon coeur mis a nu_.
>
> XXIII
>
> Do amor, da predileção dos franceses pelas metáforas militares. Toda a
> metáfora aqui usa bigodes.
>
> Literatura militante.
> Estar pronto para a luta.
> Carregar alta a bandeira.
> Segurar a bandeira alto e firme.
> Jogar-se na batalha.
> Um dos veteranos.
>
> Todas estas fraseologias gloriosas aplicam-se geralmente a pernósticos e
> moscas de bar.
>
> ***
>
> Metáforas francesas
>
> Soldado da imprensa judicial (Bertin).
> A imprensa militante.
>
> ***
>
> Para acrescentar às metáforas francesas:
>
> Os poetas de combate.
> Os literatos de vanguarda.
> Estes hábitos de metáforas militares denotam espíritos, não militantes,
> mas feitos para a disciplina, isto é, para a conformidade, espíritos
> nascidos domésticos, espíritos belgas, que só podem pensar em sociedade.
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