[ANPPOM-L] RES: Plágio

Jorge Antunes antunes em unb.br
Qui Dez 13 13:30:34 BRST 2007


Querida Professora Heloisa:

Suas ponderações são ultra-pertinentes e concordo com você.
Resumo repetindo aquilo que eu já disse: existem exceções e elas confirmam a regra.
Abraço,
Jorge Antunes




Heloísa e Wagner Valente wrote:

> Caro Professor e Maestro,
>
> Gostei de ler sua sábia argumentação, bastante esclarecedora. No entanto, se me permite, gostaria de colocar alguns ‘adendos’ que, espero, não tome como reprovação ou provocação...  É que fiquei bastante incomodada com a falta da menção, por sua parte, de algumas exceções que considero importantes.
>
> -----Mensagem original-----
> De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br] Em nome de Jorge Antunes
> Enviada em: terça-feira, 11 de dezembro de 2007 12:52
> Para: Marcia Taborda; anppom-l em iar.unicamp.br
> Assunto: Re: [ANPPOM-L] Plágio
>
> Cara Márcia:
>
> Sou do tempo em que as titulações (mestrado e doutorado) não resultavam em aumentos salariais ou outras vantagens.
>
> [Heloísa] Primeiramente, lamento muito em lembrar que, em grande medida, muitos profissionais altamente qualificados vêm sendo dispensados no emprego, em estabelecimentos públicos, justamente em virtude da sua titulação, na verdade uma situação “privilegiada”... em termos!  Tornam-se ‘onerosos’ financeiramente e acabam sendo substituídos por outros ‘de custo inferior’, de acordo com os critérios empresariais (e não acadêmicos).
>
>  
> Fiz meu doutorado em 1976. Salvo engano, foi o primeiro doutoramento em música de brasileiro. Logo em seguida o José Maria Neves terminou o dele. Na época nem existiam bolsas do CNPq. Ambos fizemos tudo com bolsas do governo francês. Quando voltei à UnB e mostrei minha tese de 664 páginas (Son nouveau, nouvelle notation) ao chefe do departamento (Moisés Mandel), ele me disse: -Pra que serve isso? Tem gente pra tudo!
>
> Naquela época os jovens pesquisadores tinham um projeto de pesquisa, uma tese a ser demonstrada, e então buscavam, como saída para a ansiedade de desenvolver o trabalho, o mestrado e o doutorado.
>
> [Heloísa] Acredito que isso ainda ocorra e, modestamente, incluo-me nesse grupo.
>
>
> Depois que surgiram os aumentos salariais para os que têm titulações, e a obrigatoriedade destas para o ingresso na carreira acadêmica, começou a busca desenfreada, às vezes cega e irresponsável, de se fazer um mestrado e um doutorado a todo custo.
>
> [Heloísa] Reitero o que menciono no início e acrescento: cada vez se exigem mais títulos porque a escolarização básica não vem sendo suficiente, assim como a graduação. A má formação profissional exige a contrapartida das pencas de cursos complementares. (Será que, em virtude disso, teremos um dia algo semelhante à prova da OAB, em todos os níveis?)
>
>  
> Começou então uma nova fase, bem surrealista. O graduado mete na cabeça que tem que fazer o mestrado e o doutorado de qualquer maneira. Não importa em qual área. Não importa em qual tema.
> Resumindo, antigamente tinha-se uma idéia, um tema, um projeto de tese, e buscava-se o curso pós-graduado na área do tema, com o orientador especialista.
>
> [Heloísa] Somente lhe pediria a bondade de não ser extremo. Essa não é a regra geral. Hoje também há muitas pessoas nessa mesma situação...
>
>
> Hoje, começa-se com a peculiaridade de não se ter idéia alguma, projeto nenhum. Busca-se um orientador. Alinhava-se um projeto, com conteúdo que se encaixe no curso, que se encaixe no perfil do orientador desejado.
>
> [Heloísa] Uma grande parte das instituições exige a apresentação de um pré-projeto como condição para candidatar-s a uma vaga. Outra coisa a se acrescentar é que muitas das disciplinas oferecidas não atendem às necessidades do projeto. Não são poucos os pós-graduandos que não têm outra alternativa senão optar pelas disciplinas que têm à disposição. Assim, o estudante tem de cursá-las, apenas para dar conta do programa essencial exigido. Sobretudo no mestrado, que deve ser concluído em dois anos, não há tempo para esperar o oferecimento de uma disciplina que venha contribuir para o desenvolvimento do trabalho final .
>
> Ao se entrar no curso, muda-se o projeto.
>
> [Heloísa] Mudar o projeto também pode ser resultado de uma reflexão mais apurada, de um amadurecimento no trabalho, no qual o orientador pode estar colaborando lucidamente.
>
>  
> A busca desesperada da titulação faz com que, por exemplo, ao invés de fazerem doutorado em Música, músicos façam doutorado em Sociologia, Antropologia, Arquitetura e outras áreas.
>
> [Heloísa]  O fato de buscar outras áreas do conhecimento ou especialidades também pode se dever ao fato de que os cursos de música não contemplem o projeto de pesquisa do pós-graduando.
>
> ESTAS SÃO CONSIDERAÇÕES GERAIS ?E NÃO SE APLICAM AO PLAGIADOR DO TRABALHO DA MÁRCIA.
>
> *****
>
>
> Enfim, para mim, esse jovem que te plagiou, e que alega ter vivido, no momento da feitura da tese, uma "instabilidade emocional", é mais uma vítima da conjuntura cruel que promete emprego somente a quem tem titulação.
>
> [Heloísa] Aqui, permito-me outras possibilidades: estar se dedicando a outras atividades, problemas pessoais ou mesmo... preguiça! Se as razões apresentadas pelo comitê são inconsistentes e inaceitáveis isso não significa, objetivamente, que o candidato seja necessariamente uma “vítima do sistema”, não?
>
> Pior, abre a possibilidade a carreira acadêmica a qualquer um que tenha a titulação, pouco se importanto sobre como e onde ela foi alcançada. Basta ter o diploma.
>
> [Heloísa] Se, a princípio, a possibilidade é aberta, de outra parte, estamos nós, os pares, para avaliar a qualidade do trabalho e, em alguma medida, o caráter do graduado. O diploma pode levá-lo a altas esferas e, circunstancialmente, colocá-lo até como chefe em agências de fomento. De outra parte, existem pessoas que produzem excelentes trabalhos e tiveram uma formação escolar (independentemente do nível) bastante deficiente e conturbada. Muitos dos que elevam seu ‘padrão de qualidade’ são auto-didatas...
>
>
> Códigos de ética profissional existem para serem cumpridos pelos profissionais. Muitos jovens mestrandos e doutorandos ainda não são profissionais.
>
> [Heloísa] Por que a faixa etária deve, necessariamente, estar atada à idéia de responsabilidade e decência? Se maturidade e conhecimento de códigos se adquirem com o tempo, a formação do caráter já vem desde o berço...
>
> Muitos ainda são apenas estudantes recém-graduados que começam a, desesperadamente, buscar titulação pós-graduada. E aí, vale tudo para o pobre desorientado.
>
> [Heloísa] Aqui lembro, também, que os orientadores têm, sob sua responsabilidade, um número elevado de pupilos... De todo modo, isso não diminui sua responsabilidade.
>
> Para ele vale copiar, vale plagiar, vale fazer o já feito com outro discurso, vale repetir idéias já reveladas mas pouco ou nada conhecidas pela comunidade. Para disfarçar essas estratégias, basta fazer um monte de citações de autores famosos.
> Enfim, acima eu usei a expressão "pobre desorientado", porque eu penso que o grande culpado do plágio que você relata não é o plagiador.
>
> [Heloísa] Este moço teria outra saída? Alegar problemas mentais minimiza penas, a princípio, mais drásticas, como indenização em dinheiro e impugnação do diploma.
>
>  Este já reconheceu o erro, alegou problemas psicológicos, se desculpou e, parece, vai refazer o trabalho, dessa vez citando a fonte do texto surrupiado.
> Para mim o grande vilão dessa história é o "Orientador" do rapaz. Este sim é o profissional que deve respeitar, e fazer ser respeitado, o código de ética. É ele quem deveria ser punido. Está evidente que o "orientador" não orientou coisíssima nenhuma. Não quero afirmar que o orientador devesse conhecer o teu texto e, assim, identificar o plágio durante a orientação. Quero apenas dizer que um "orientador" deve acompanhar passo a passo a pesquisa, a bibliografia, e até mesmo a redação de cada parágrafo e capítulo. Quando esse trabalho é desenvolvido criteriosamente pelo orientador, ele é capaz de reconhecer estilos de escrita e, assim, pelo menos, desconfiar de textos escritos por autores diferentes que, é óbvio, terão sempre estilos diferentes.
>
> [Heloísa] Aqui, concordo.
>
>
> Abraço,
> Jorge Antunes
>
> PS. Talvez essas minhas colocações acima sejam bem polêmicas, podendo encontrar, na Anppom, opositores radicais. Mas abro-me em reflexões próprias, sinceras, de experiência de vida acadêmica, para tentar contribuir com o debate, desde já dizendo que não me considero dono da verdade e que estou aberto a revisões de minhas convicções.
>
> [Heloísa] Espero ter colocado em pauta outros atenuantes que não foram mencionados na sua reflexão e não pretendo me estender mais a este tema, no momento.
>
> Abraço a todos, Heloísa
>
>
>
>
>
> Marcia Taborda wrote:
>
>> Agradeço a todos pelas mensagens.
>> Acho que o mais importante no momento
>>
>> será a revitalização dessa comissão e o desenvolvimento  junto à ANPPOM de
>> um código de ética,
>> que possa nos amparar em casos semelhantes; uma tomada de atitude
>> institucional;
>> Abraço,
>>
>> Marcia Taborda
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