[ANPPOM-L] Qual a música que queremos em nossas Universidades?

Carlos Sandroni carlos.sandroni em gmail.com
Dom Out 14 12:21:18 BRST 2007


Prezado Rubens e demais colegas,

Não é educado chamar de "bobagem" a expressão do ponto de vista de um
colega. Em todo caso, não numa lista pública como esta.
O contraponto de Bach, trazido à baila por Antunes, é europeu. Assim como
este alfabeto é latino, os algarismos 1 e 2 são arábicos e o futebol é o
esporte bretão. Isso não nos impede de usá-los, nem afirmaria eu tal coisa.
O que afirmo (aliás afirmamos eu e, por assim dizer, a torcida do Flamengo -
não confundir com a torcida dos franco-flamengos) é que o domínio do
contraponto europeu não capacita a compreender as polifonias vocais do
Pacífico.
Saudações,
Carlos


On 10/12/07, Rubens Ricciardi <rrrr em usp.br > wrote:
>
>  meus caros...
>
> onde estamos????
>
> "contraponto europeu"??? - que bobagem é esta???
>
> ha, então o futebol (invenção inglesa!) também é europeu (aliás, não é o
> esporte mais popular por lá também)????
>
> nossa senhora, por que será então que eu torço aqui pro meu glorioso
> Comercial de Ribeirão Preto???
>
> certamente uma postura eurocentrista e com certeza politicamente
> incorreta (estes corinthianos, estes flamenguistas, todos uns vendidos à
> submissão eurocêntrica)...
>
> pois viva a nossa identidade, viva a nossa verdadeira cultura, abaixo toda
> e qualquer forma de inteligência estrangeira!!!...
>
> Rubens Ricciardi
>
> PS: caro Silvio Ferraz, concordo com vc que o estudo dos contrapontos deve
> ser sempre desenvolvido nos contextos das linguages, porisso, já há alguns
> anos venho dando aulas do contraponto da Polifonia Gótica em seus
> primórdios, da Ars Antiqua (em especial Perotinus) e da Ars Nova (em
> especial Machault e Landini), até os primeiros polifonistas
> franco-flamengos quando se inicia o Renascimento, realmente é muito mais
> enriquecedor que trabalhar só com as 5 espécies do Fux ou com os recursos
> dos contrapontos em meio aos diversos estilos e época do sistema tonal...
>
> ----- Original Message -----
>  *From:* Carlos Sandroni <carlos.sandroni em gmail.com>
> *To:* antunes em unb.br
> *Cc:* anppom-l em iar.unicamp.br ; hugoleo75 em gmail.com
> *Sent:* Friday, October 12, 2007 3:10 PM
> *Subject:* Re: [ANPPOM-L]Qual a música que queremos em nossas
> Universidades?
>
> Prezado Antunes e demais colegas,
>
> Citando:
>
> "A fuga nº 24 é bem complexa estruturalmente. A lamentação de funeral das
> Ilhas Solomos é bem menos complexa estruturalmente.
> O estudo da estrutura dos cantos a duas vozes dessas lamentações não
> garante sucesso no estudo da estrutura da fuga. Mas o estudo da estrutura da
> fuga, garante o sucesso no estudo da estrutura dos cantos a duas vozes das
> lamentações fúnebres."
>
> Fim da citação.
>
> "Mais complexo" e "menos complexo", aqui, do ponto de vista do contraponto
> europeu. A harmonia de Wagner também é mais complexa que a dos Beatles. Mas
> saber harmonia e contraponto nao nos habilitam a compreender nem
> formalmente, e muito menos estruturalmente, música vocal das Ilhas
> Salomon ou rock. (No caso do rock saber alguns acordes pode às vezes
> ajudar).
>
> Se voce analisa polifonias do Pacífico ou dos pigmeus com instrumentos
> teóricos de contraponto europeu, o resultado é a primeira e a segunda frases
> citada acima. Esta é uma das razões pelas quais a terceira e a quarta frases
> citadas acima são, na opinião dos etnomusicólogos, falsas (isto inclui Hugo
> Zemp, que estudou a fundo as polifonias das Ilhas Salomon).
>
> Abraços,
> Carlos
>
>
> On 10/12/07, Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
> >
> > Eduardo:
> >
> > Você está usando a palavra "forma", que nunca utilizei. No escopo de
> > nosso debate ela não cabe.
> > Você fala em "complexidade formal" e em se "compreender formalmente o
> > contraponto".
> > Nunca me referi a forma. Sempre estou me referindo a estrutura.
> > Estou falando em complexidade estrutural.
> > Também nunca disse que a análise se sustenta unicamente pela abordagem
> > estrutural e formal.
> > As aspectos simbólicos e contextuais hão de vir, numa boa análise, a ser
> > estudados profundamente após as análises estrutural e formal.
> > Mas aquela ficará solta, descontextualizada e superficial, se estas não
> > se estabelecerem antes.
> > A fuga nº 24 é bem complexa estruturalmente. A lamentação de funeral das
> > Ilhas Solomos é bem menos complexa estruturalmente.
> > O estudo da estrutura dos cantos a duas vozes dessas lamentações não
> > garante sucesso no estudo da estrutura da fuga. Mas o estudo da estrutura da
> > fuga, garante o sucesso no estudo da estrutura dos cantos a duas vozes das
> > lamentações fúnebres.
> > Veja, estou falando em estrutura. Quanto à forma, os níveis de
> > complexidade são altos nos dois casos. As lamentações fúnebres têm, em
> > geral, a forma ABAB CBCB. A fuga nº 24, segundo caderno, tem forma de fuga
> > tripla, com a complexidade imposta pelo uso de três sujeitos.
> > Para completar as análises, aí sim, seria necesssário abordar as
> > questões que você menciona. Seria então preciso abordar a religiosidade de
> > Bach, suas construções quiasmáticas, sua época, seu entorno, sua fixação na
> > cristologia e seu encantamento pelas letras de seu próprio nome (b, a, c,
> > h). Quanto às Lamentações fúnebres das imediações da Polinésia, seria
> > necessário, na etapa final da análise, considerar a coreografia da dança
> > ritual *suahongi*, as escalas usadas, suas simbologias, ritmos,
> > andamentos, textos, o gestual da distribuição de alimentos durante o
> > velório, etc.
> > Abraço,
> > Jorge Antunes
> >
> >
> >
> >
> >
> Carlos Sandroni
> Departamento de Música, UFPE
> Programa de Pós-Graduação em Música, UFPB
> Setembro 2007/Fevereiro 2008:
> Pesquisador Associado ao Centre de Recherches en Ethnomusicologie
> CNRS - LESC UMR 7186 - Paris
> Endereço pessoal na França:
> Chez Duflo-Moreau
> 199, rue de Vaugirard
> 75015 - Paris
> Telefone profissional no Brasil
> (81) 2126 8596 (telefone e fax)
> (Recados com Anita)
> Endereço pessoal no Brasil:
> Rua das Pernambucanas, 264/501
> Graças - 52011-010
> Recife - PE
>
> ------------------------------
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
> ------------------------------
>
> No virus found in this incoming message.
> Checked by AVG Free Edition.
> Version: 7.5.488 / Virus Database: 269.14.5/1058 - Release Date: 8/10/2007
> 16:54
>
>


-- 
Carlos Sandroni
Departamento de Música, UFPE
Programa de Pós-Graduação em Música, UFPB
Setembro 2007/Fevereiro 2008:
Pesquisador Associado ao Centre de Recherches en Ethnomusicologie
CNRS - LESC UMR 7186 - Paris
Endereço pessoal na França:
Chez Duflo-Moreau
199, rue de Vaugirard
75015 - Paris
Telefone profissional no Brasil
(81) 2126 8596 (telefone e fax)
(Recados com Anita)
Endereço pessoal no Brasil:
Rua das Pernambucanas, 264/501
Graças - 52011-010
Recife - PE
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20071014/46b893f0/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L