[ANPPOM-L] RES: Qual a música que queremos em nossas Universidades?

Pablo Sotuyo Blanco psotuyo em ufba.br
Seg Out 15 12:45:12 BRST 2007


Meus caros... como sempre... "cutucando"... ;-)
Concordo com Sandroni na questão do uso do verbo "compreender".
Desde o inicio deste assunto venho pensando que o verbo deveria ser
"entender". Embora sejam verbos com significados "emparentados" possuem
nuances que permitiriam conciliar ambos discursos confrontados nesta
discussão...
Insisto... Já pensaram se não se ensinasse mais a língua portuguesa, a sua
gramática, ortografia e/ou sintaxe? Até a poesia concreta faz uso delas...
;-)
Ainda... como muito bem cantava a "grande" Mercedes Sosa... "Donde iremos a
parar si se apaga Valderrama?"
;-))

Saudações...
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Prof. Dr. Pablo Sotuyo Blanco
Programa de Pós-Graduação em Música
Escola de Música
Universidade Federal da Bahia
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e-mailto: psotuyo em ufba.br
homepage: http://www.ufba.br/~psotuyo/
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  -----Mensagem original-----
  De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br
[mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]Em nome de Carlos Sandroni
  Enviada em: segunda-feira, 15 de outubro de 2007 09:14
  Para: antunes em unb.br
  Cc: anppom-l em iar.unicamp.br; hugoleo75 em gmail.com
  Assunto: Re: [ANPPOM-L]Qual a música que queremos em nossas Universidades?


  Prezado Antunes,

  Obrigado pelo tom cordial e pela disposição a debater revelados em sua
mensagem. Tentarei seguir o seu exemplo, embora infelizmente não possa me
alongar muito.
  Talvez uma parte da discordância tenha a ver com o uso da palavra
"compreender". O que seria "compreender" as polifonias vocais do Pacífico?
Mensagens prévias de Sílvio e Eduardo Luedy já apontaram na direção que
considero apropriada.
  Você, com sua formação contrapontística e musical, certamente "compreende"
de alguma maneira aquelas polifonias. A maneira como você as compreende pode
tê-lo ajudado a escrever o seu livro mencionado, e pode ajudá-lo em outras
coisas eventualmente.
  Mas você próprio reconhece que a compreensão que tem, se deve em parte
também à leitura de livros de etnomusicólogos sobre aquelas culturas
musicais. Ora, estes livros não são livros de contraponto, são livros sobre
culturas, sobre sistemas simbólicos. Sistemas dentro dos quais,
exclusivamente, a música, inclusive no que se refere às estruturas sonoras,
pode ser "compreendida", pelo menos da maneira que os etnomusicólogos
entendem o verbo "compreender". A referência mais imediata é Blacking, já
mencionado aqui duas ou três vezes. Mas a gente pode pensar no Clifford
Geertz também - "A arte como sistema simbólico", em \O Saber Local - novos
ensaios de Antropologia Interpretativa\.
  Sim, Zemp usa a palavra contraponto, mas eu seria capaz de jurar que ele
não domina contraponto florido a oito vozes, que eu saiba ele era jazzista
antes de ser etnomusicólogo, como tampouco o Lortat-Jacob, ou o Beaudet, que
foi o meu orientador.
  Você é um compositor que estuda a diversidade musical do mundo com
objetivos diferentes daqueles que estão dedicados a compreender o que
significam estas diversas músicas para as pessoas que as fazem. Estes,
incluindo os etnomusicólogos que você cita - integrantes da tal "torcida do
Flamengo" a que me referi - não subscreveriam aquelas duas frases suas que
citei no meu primeiro email. O tipo de "compreensão" que eles proporcionam
serve a objetivos diferentes, mas é também na minha opinião mais rica, mais
nuançada, mais - vá lá - compreensiva (também  no sentido do inglês
"comprehensive").
  Não excluo que você possa ter feito um excelente uso das polifonias vocais
do mundo no seu livro, ao contrário. Minha discordância se relaciona à idéia
de que proficiência em música de tradição ocidental capacite a "compreender
outras tradições musicais" (num sentido diferente de "usá-las para fins
indiferentes a seus significados contextuais"), no mesmo gesto
considerando-as "menos complexas".
  Espero ter ajudado a deixar mais claro meu ponto de vista. Em todo caso,
acho que não vou poder dar muito mais que estes dez centavos nos próximos
dias.
  Abraços,
  Carlos



  On 10/14/07, Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
    Prezado Carlos Sandroni:
    Você afirma que o domínio do contraponto europeu não capacita a
compreender as polifonias vocais do Pacífico.
    Essa afirmação é interessante, porque bombástica para mim.
    Não me considero dono da verdade e, assim, gostaria de me fazer todo
ouvidos, para que você me convença acerca dessa sua convicção.
    Talvez isso seja possível, se você me der exemplos concretos. Você
poderia citar nomes de pessoas que dominam o contraponto "europeu" e que,
apesar de possuirem esse domínio, não estão capacitadas para compreender as
polifonias vocais do Pacífico.

    Eu, de minha parte, tenho exemplos que demostram justamente o contrário.
    Para escrever meu mais recente livro, intitulado Sons Novos para a Voz,
passei dois anos, de setembro de 2005 a agosto de 2007, estudando todas as
manifestações musicais do mundo, produzidas com o aparelho fonador.
    Estudei todos os trabalhos de Hugo Zemp, Trân Quang Hai, Jean-Michel
Beaudet, Jacques Bouët, Gilles Léothaud e Bernard Lortat-Jacob, sobre as
práticas vocais contrapontísticas de Taiwan, Georgia, Albania, Itália, Ilhas
Solomon, República da África Central (Pigmeus e Banda Linda), Etiópia e
Indonésia.
    O estudo abordou as construções mais complexas, desde os cantos a duas
vozes de Malita (Ilhas Solomon), passando pela polifonia a três vozes de
Tai-Tung, no Taiwan, até as polifonias a doze vozes dos portuários de
Gênova, na Itália (o canto trallallero) e as canções himarioçe, no estilo
Himara, cantadas em Vlorë no sul da Albânia, que também são a 12 vozes.
    Para compreender essas polifonias, entendo eu que o que me capacitou foi
o domínio que tenho do contraponto que você chama de europeu. O que eu chamo
de domínio do contraponto, não é aquela capacidade desenvolvida ao se
praticar contraponto modal a apenas duas vozes. Estou me referindo ao
domínio do contraponto florido a oito vozes, nas linguagens tonal e atonal.
São a essas práticas que chegam meus alunos em final de curso: tonalismo
clássico bachiano a 8 vozes e atonalismo integral de Julien Falk a 8 vozes.
    A maioria dos etnomusicólogos que mencionei acima, também dominam o
contraponto florido a dois coros, porque foram alunos do Conservatório de
Paris.
    Talvez eu esteja enganado, e é possível que minha compreensão das
polifonias vocais dos diversos povos do mundo não se deva ao domínio que
tenho da técnica contrapontística. Talvez o que me capacitou para tanto foi
algum outro fator de que não tenho consciência. Deixo então a você a
incumbência de me passar exemplos que demonstrem a sua convicção de que o
contraponto "europeu" não capacita a compreender as polifonias vocais do
Pacífico.
    Abraço,
    Jorge Antunes


  --
  Carlos Sandroni
  Departamento de Música, UFPE
  Programa de Pós-Graduação em Música, UFPB
  Setembro 2007/Fevereiro 2008:
  Pesquisador Associado ao Centre de Recherches en Ethnomusicologie
  CNRS - LESC UMR 7186 - Paris
  Endereço pessoal na França:
  Chez Duflo-Moreau
  199, rue de Vaugirard
  75015 - Paris
  Telefone profissional no Brasil
  (81) 2126 8596 (telefone e fax)
  (Recados com Anita)
  Endereço pessoal no Brasil:
  Rua das Pernambucanas, 264/501
  Graças - 52011-010
  Recife - PE
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