[ANPPOM-L] Currículos

Alvaro Neder alvaroneder em uol.com.br
Seg Out 15 22:37:59 BRST 2007


Hugo Leonardo Ribeiro escreveu:


<4) Porque a disciplina Etnomusicologia (ou seus codinomes "fundamentos da música", "folclore" - ugh!) e parentes tais como sociologia e educação musical, somente são obrigatórias para os cursos de licenciatura da UFBA e da UFRGS? >

Hugo, sem entrar no mérito de suas constatações --- que são bastante interessantes --- por absoluta falta de tempo nesse momento, gostaria de dizer que a UNIRIO aboliu os cursos de folclore e instituiu em seu lugar o curso --- obrigatório para a licenciatura --- de Introdução à Etnomusicologia, que tenho o prazer de ministrar.

Em tempo, acho que saber contraponto florido não faria mal a nenhum músico com formação universitária, mas sabemos que os recursos são limitados e algo vai ficar faltando. Logo, um acúmulo ou desequilíbrio de exigências músico-técnicas favorecendo a tradição européia redunda em uma completa inocência/idealização dos estudantes de graduação frente a uma visão mais crítica da música. A realidade que constato com grande espanto na sala de aula é uma concepção --- a este ponto do século XXI --- da música como estudo dos Grande Homens, da Obra de Arte, do Gênio Universal, da "essência" do "povo", da "nação", música como repúdio à "massificação", à "manipulação" da "indústria cultural", etc. 

Apesar de músico, acho que há conspícua ausência de disciplinas que discutam de forma mais aprofundada e atualizada os elos entre música e sociedade --- reflexo da ideologia do século XIX da autonomia da música, e com a qual áreas como as Letras, por exemplo, não comungam, mesmo sendo talqualmente "artísticas". Por isso, não sou um ardente defensor da etnomusicologia como um conservatório de "world music", como se vê em muitas universidades norte-americanas, pois acho que precisamos de mais scholars profissionais que vejam a atividade acadêmica e de pesquisa como principal e não acessória. No entanto, é necessário ressaltar que esta é uma prática político-estética válida (não fosse a estética um ramo da ideologia) para desestabilizar a idéia de que só o que é sério é música de tradição européia. Por isso, face à afirmação que circulou por aqui, de que seria louco ou absurdo ensinar todas as músicas "folclóricas" ou "populares" do mundo nas universidades, é preciso dizer que esta é uma prática corrente. Não o ensino de todas elas, mas daquela(s) que acontece(m) ser a especialidade do professor contratado. Assim, certos cursos de etnomusicologia possuem um especialista em gamelão javanês, outros de samba, etc. Não é o ideal --- representar *todas* as tradições sem hierarquizá-las --- mas já é um início. E a idéia não é populista (ser condescendente com os mais fracos), mas o contrário: essa música é que está permitindo a regeneração de muita música ocidental popular e mesmo erudita, como, entre outros exemplos de outros compositores, parece também demonstrar a afirmação do Professor Jorge Antunes a respeito de seu último livro.

Meus dois centavos (sou bem mais gastador quando tenho tempo...)  

abraços a todos

Alvaro

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Alvaro Neder, PhD - Brazilian Literature, Language and Literary Theory, PUC-Rio
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