[ANPPOM-L] .: KUDURO - AfroHipHop de Periferia :.

carlos palombini palombini em terra.com.br
Qui Out 18 22:56:48 BRST 2007


O Kuduro é mesmo muito legal: um som de hip-hop com dança de funk carioca.

O texto, bem menos. Sem dúvida inteligente, mas excessivamente 
abrangente. Que história é esta de tonalistas versus modalistas? 
Precisamos inventar mais uma guerra dos antigos contra os modernos?  
Isto tudo me cheira muito ao reverso de certas retóricas do 
ressentimento com as quais estamos familiarizados.

"Funk carioca e o Kwaito (da África do Sul) é a resposta africana 
avassaladora influência da indústria cultural de massa capitalista, cujo 
eixo como se sabe, localiza-se, desde o fim da segunda guerra mundial, 
na América do Norte."

Não entendi nada ou é mais uma banalidade retumbante? E leiam isto:

"Alguns pesquisadores tentam explicar a estrutura da base rítmica, da 
batida (beat) do Kuduro por meio de teorias moderninhas ou 
simplificações que insistem em preconizar a importância, ao nosso ver, 
exagerada, das tecnologias na criação e na evolução destas danças e 
gêneros musicais. Os reis da parada seriam portanto os equipamentos 
eletrônicos (como o já velho Sampler, por exemplo)."

"Apenas uma opinião, mas, é preciso cuidado porque assim, por extensão, 
o papel do Mocinho poderia ser atribuído a sociedade neoliberal 
globalizada, ao Capitalismo em suma, e ao estupendo grau de 
desenvolvimento tecnológico que ele propicia."

Como se vê, as catarses dos antigos se parecem muito com as dos modernos.

Pena estragar um tema tão bom com esta espécie de literatura.

Algumas partes do texto chegam a ser obscenas:

"Ora, é evidente que, olhando detidamente os movimentos de dança deste 
Funk Carioca, iremos encontrar a mesma filosofia coreográfica do Kuduro, 
em nosso caso, representada por passos de umbanda e candomblé (ritmos 
aliás, hoje banidos de algumas favelas cariocas, dominadas pela cultura 
ditatorial-evangélica das milícias)."

Não sabia desta associação entre as milícias e os movimentos evangélicos 
e suspeito que ela exista mais em função de seu esperado efeito 
retórico. Afinal, há grupos neo-pentecostais no Rio de Janeiro que 
utilizam o funk carioca em sua liturgia (e.g. na Pavuna). O funk 
evangélico tem, inclusive  seus astros:  Adriano Gospel Funk,  Kelly 
Krenty, MC Erick,  MC F Reis. O hip-hop evangélico também: DJ Alpiste 
(que é muito bom).

Mas vou parar por aqui, antes que eu acabe irremediavelmente contaminado 
por este estilo de prosa.

Tudo o que eu queria agora era um adorniano de verdade!

Durmam bem!

Carlos


Luciano Carôso escreveu:
> Caros:
>
> Texto inteligente e abrangente, acompanhado de discussão muito 
> interessante e que pode ser acessada em [ 
> http://www.overmundo.com.br/overblog/kuduro-afrohiphop-de-periferia 
> <http://www.overmundo.com.br/overblog/kuduro-afrohiphop-de-periferia> ].
>

-- 
carlos palombini (dr p)
professor adjunto de musicologia
universidade federal de minas gerais
<cpalombini em gmail.com>

"Cosa odiosissima è il parlar molto di se." (Giacomo Leopardi, Pensieri XL, 1845)

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