[ANPPOM-L] composição

Carlos Sandroni carlos.sandroni em gmail.com
Dom Abr 6 17:13:19 BRT 2008


Caro Rodrigo e demais colegas,

Como você bem sabe, Rodrigo, eu não sou da área da Composição, mas não
resisto a meter o bedelho nesta conversa porque acho que ela é importante
para pensar a maneira como a Música, de maneira geral, se relaciona com a
Universidade.

Confesso que gostei muito do email do Sílvio. Acho que ele expressa uma
visão ampla, engajada e aberta do papel do Músico quando ele é um
professor-doutor dentro de uma Universidade. E gostei também de que tal
visão fosse expressa por um compositor, em vez de por um musicólogo como eu
e outros colegas.

Já o que achei importante no teu email, foi expressar uma outra visão, que
talvez não seja só sua, destas relações um pouco complicadas entre "ser
músico" e "ser universitário". Na verdade eu li o email do Silvio e imaginei
com meus botoes que ela ia desencadear uma torrente de reações negativas.
Ela foi seguida, em vez disso, de alguns dias de silêncio, até que veio a
sua resposta. Talvez eu estivesse errado.

Mas eu acho que na sua resposta ficou faltando explicar um pouco melhor.
Quero dizer, quando não se tem uma visão como a que foi expressa por Sílvio,
como é que se vê o papel do compositor na universidade? (Eu acho que seria
possivel, e talvez até mais facilmente, extrapolar esta suposta visão
"não-Sílvio" para o caso do instrumentista, cantor ou regente.)

Afinal, SIlvio não disse que os compositores tinham que ser musicologos, Mas
será que você discorda realmente da idéia de que o músico, quando está na
universidade, tem que ser também um bom "preparador de aula", um bom
orientador? Quanto a ser um bom "interlocutor", não é só na universidade que
a gente precisa disso, sendo músico ou não... E se a gente pensa em alguns
exemplos de compositores - gostando deles ou não - como não ver em Machaut,
Palestrina, Bach, Haydn, Schoenberg, Villa-Lobos, Edino Krieger e Boulez,
por exemplo, aquelas qualidades de "nucleadores", "interlocutores" e à
maneira deles, administradores também? (Administradores de capelas, de
orquestras, de príncipes, de presidentes, de Funartes, cantos orfeônicos e
outros "domaines musicales" e Ircams...) Afinal o que se espera de um
compositor universitário talvez não seja tão diferente de tudo que espera um
compositor na interface dele com qualquer sociedade...

Bem, ficam estas perguntas a título de provocação de um não-compositor, mas
afinal um músico e um universitário, que acha que entre Sílvio e Rodrigo
alguns dilemas importantes da nossa vida profissional foram abordados.
Escrevi porque gostaria de ouvir mais sobre isso...

Abraços
Carlos



2008/4/4 Rodrigo Cicchelli Velloso <rodcv em acd.ufrj.br>:

> Ih, Silvio...
>
>
>
> Pobre da composição, que não é mais defendida como um campo autônomo da
> expressão musical, digno de ser prestigiado por seus próprios méritos e
> por
> sua importância, nem por um professor da área! Isso que você apregoa
> gerará
> um punhado de compositores bissextos, travestidos de teóricos ou
> musicólogos
> irrelevantes, que tentarão aturar como
> "nucleadores"/gerentes/interlocutores/agregadores/preparadores de
> aula/orientadores/administradores/ produtivos em áreas tão díspares...
> Desconfio da qualidade dos eventos, gestões, publicações, composições,
> etc.
> de alguém satisfaça a esse perfil... Mas isso lá importa?
>
>
>
> Que mal haveria se essas qualidades estivessem não concentradas num só
> indivíduo, mas distribuídas entre os diferentes personagens de uma
> instituição? Alguns compõem melhor, outros são mais afeitos à
> administração,
> uns são excelentes professores, outros escrevem brilhantemente... Haveria
> espaço até para os polivalentes!
>
>
>
> Abraço,
>
>
>
> Rodrigo
>
>
>
> ----- Original Message -----
> From: "silvio" <silvio.ferraz em terra.com.br>
> To: <rrrr em usp.br>; <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Sent: Monday, March 31, 2008 11:55 AM
> Subject: Re: [ANPPOM-L] composição
>
>
> vc resumiu bem
> valendo acrescentar talvez q este prof.
> claramente deverá ter parte de sua vida dedicada
> a escrever música também, e q tais músicas
> reflitam um tanto do q é a vida musical de sua
> época (sem restrições estilísticas).
> ensinar a própria poética é patético, istoa
> gente até pode colocar num livro, mas passar
> horas da aula dizendo "veja como sou o
> bom"....blerg.
> abs
> silvio
>
> >caro Silvio,
> >muito bom, vc formulou bem melhor, estou
> >plenamente de acordo, afinal, o pior professor
> >de composição (se é que se deva ter algum
> >"professor de composição" para se tornar
> >compositor) é aquele que ensina a própria
> >poética,
> >abraços do Rubens
> >
> >Citando silvio <silvio.ferraz em terra.com.br>:
> >
> >>parece-me o debate interessante e a resposta do damián elucída
> >>algumas coisas:
> >>é um concruso para prof. e não para compositor.
> >>o contratado vai dar aulas, fazer projetos,
> >>trabalhar com colegas e não simplesmente ser o
> >>escrevedor de música da reitoria.
> >>
> >>nas suas entrelinhas e com hábito na prática
> >>unviersitária as ponderações do edital deixam
> >>claro que são importantes critérios:
> >>1. a capacidade de nucleação de projetos e pesquisadores jovens e
> senior;
> >>2. a capacidade de gerenciamento de projetos e de pessoal;
> >>3. a capacidade de diálogo com colegas da instituição e de outras
> >>instituições;
> >>4. a capacidade de agregar valores, ou seja, de
> >>aprender com pessoas q pensam diferente dele em
> >>prol do desenvolvimento do seu departamento;
> >>5. a capacidade de preparar uma aula sobre o tema
> >>com atualização bibliográfica e que consiga
> >>também relacionar temas a pesquisas recentes na
> >>área;
> >>6. a capacidade de orientação, ou seja saber
> >>preparar estudantes, conduzir trabalhos de
> >>estudantes;
> >>7. a produtividade em setores dispares, como
> >>orientar, escrever, compor, preparar aulas,
> >>participar de bancas, articular pessoas...
> >>
> >>são todas estas habilidades q dizem respeito ao
> >>projeto maior que é a universidade púlbica e não
> >>a projetos individuais como o de escrever música
> >>em casa, distinguindo aquele que escreve música
> >>por exercício matinal quase diletante, daquele
> >>que produz face a projetos maiores que envolvem
> >>equipe de colegas, estudantes e temática atual e
> >>relevante.
> >>
> >>a universidade em questão é um espaço público
> >>voltado à docência, pesquisa e produção artística
> >>vinculada à pesquisa e produção de conhecimento e
> >>não o lugar de manifestar realizações de cunho
> >>privado. isto a distingue da prática doméstica de
> >>escritura musical que por vezes gera confusão em
> >>concursos públicos na nossa área.
> >>
> >>talvez o debate vá não no rumo do que está
> >>correto no edital, mas para o que o edital se
> >>destina: concurso para vaga de PROFESSOR DOUTOR,
> >>categoria que diz respeito aos 7 itens que
> >>escrevi acima e não apenas a escrever música boa
> >>e vasta.
> >>
> >>claro que um compositor com produção relevante
> >>atrairá estudantes, formará em torno de si
> >>projetos e catalizará a vontade de seguir adiante
> >>(sobretudo para estudantes jovens que vivem
> >>cotidianamente estas urgências da vida).
> >>mas isto não está relacionado ao catálogo numério
> >>de obras, mas à importância de seu trabalho para
> >>sua época e seus contemporâneos.
> >>
> >>abs
> >>silvio
> >>
> >>>Caro Rubens,
> >>>
> >>>Concordo plenamente com a tua colocação. No
> >>>entanto, temos que observar o conteúdo das
> >>>provas.
> >>>
> >>>http://www.prodirh.ufg.br/uploads/files/Editalab%2027_docente_EMAC.pdf
> >>>
> >>>Os seguintes itens são exclusivos da área de
> >>>análise e teoria da música instrumental:
> >>>
> >>>>  d) Composição, Linguagem e Estruturação Musicais
> >>>
> >>>>  Prova Teórico-Prática:
> >>>>  3. O candidato deverá realizar Análise harmônica e redução para
> >>>>piano de um
> >>>curto trecho orquestral, comunicado no momento da prova, em prazo
> máximo
> >>>de duas horas.
> >>>
> >>>>  Prova Didática:
> >>>>  2. Harmonia e Análise: das cadências simples aos limites da
> >>>> tonalidade.
> >>>3. Contraponto: de Palestrina à música contemporânea.
> >>>4. Aspectos estruturais e composicionais da Sonata Clássica.
> >>>5. Trajetória da Música tonal de Bach a Beethoven.
> >>>6. Exposição crítica das principais teorias do tonalismo.
> >>>8. Tonalismos e modalismos durante o século XX.
> >>>10. Descrição e comparação dos princípios composicionais de, no mínimo,
> >>>três entre os compositores seguintes: Haydn, Beethoven, Ravel,
> >>>Stravinsky, Messiaen.
> >>>
> >>>Em relação à prova de títulos, o peso total da produção intelectual é
> >>>30%.
> >>>
> >>>>  Prova de títulos:
> >>>>  Os pesos para o cálculo da Nota de Títulos,
> >>>>atendendo o inciso VI do artigo 25 da
> >>>resolução 001/2007 CONSUNI/CEPEC da UFG são os seguintes:
> >>>
> >>>>  Atividade  / Peso
> >>>I - Atividades de Ensino 2
> >>>II- Produção Intelectual 3
> >>>III - Atividades de Pesquisa e Extensão 2
> >>>IV - Atividade de Qualificação 2
> >>>V - Atividades Administrativas e de Representação 1
> >>>
> >>>Complementando com a resolução mencionada:
> >>>
> >>>>  RESOLUÇÃO CONJUNTA CONSUNI/CEPEC Nº 01/2007Seção IV
> >>>>  Da Prova de Títulos
> >>>>  Art. 24. A pontuação da prova de títulos deve ser estabelecida
> >>>> conforme
> >>>a Tabela de Pontuações Máximas na Prova de
> >>>Títulos, anexa a esta resolução, observando-se o
> >>>disposto no artigo terceiro, parágrafo único,
> >>>inciso V, desta resolução.
> >>>
> >>>E observando a Tabela de Pontuações Máximas na Prova de Títulos:
> >>>
> >>>II - 1 PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA / Pontos
> >>>21. Tese de doutorado defendida e aprovada 25
> >>>
> >>>II - 2 PRODUÇÃO ARTÍSTICA / Pontos
> >>>12. Peças e musicais (autoria) 30
> >>>
> >>>III - 1 ATIVIDADES EM PROJETOS DE PESQUISA / Pontos
> >>>3. Coordenador de projeto de pesquisa com financiamento (*) 4
> >>>
> >>>Neste ponto é interessante observar que um
> >>>candidato precisaria coordenar 7 projetos de
> >>>pesquisa com financiamento para ter quase a
> >>>mesma pontuação que outro candidato que tivesse
> >>>a autoria de uma peça (musical).
> >>>
> >>>Então, voltando ao assunto...
> >>>
> >>>>  caso este mesmo candidato não tenha ele mesmo um
> >>>catálogo próprio de obras musicais, ou seja, caso ele não seja
> >>>compositor de fato, e tal trabalho já realizado e comprovado em seu
> >>>currículo (um conjunto de obras compostas de relevância) deve ser por
> >>>bem mais importante como critério de avaliação,
> >>>
> >>>Concordo que a produção é o item mais importante
> >>>na avaliação do currículo do compositor. Mas a
> >>>realidade neste concurso é a seguinte:
> >>>1. O peso total da produção intelectual é
> >>>30%. A produção artística é somente 1 ponto dos
> >>>11 avaliados pela Tabela da prova de títulos.
> >>>2. Em relação a tabela, por exemplo, na UFAC
> >>>criar e produzir uma obra dá 7 pontos (total).
> >>>Enquanto que publicar um artigo dá 25 pontos.
> >>>
> >>>>  enfim, a questão é: o que vale mais, um diploma de composição ou o
> >>>conjunto da obra do candidato???
> >>>
> >>>Este é o ponto! A obra do candidato neste
> >>>concurso tem um peso máximo de menos de 3% (ver
> >>>valores acima: 30% de peso total dividido pelos
> >>>11 itens avaliados).
> >>>
> >>>>  quanto a critérios de provas, tudo pode ser levado em conta como
> >>>complemento
> >>>
> >>>Mais uma vez concordo, COMO COMPLEMENTO. No caso
> >>>deste concurso (e da maioria dos concursos que
> >>>tenho acompanhado), a obra do candidato não tem
> >>>peso suficiente.
> >>>
> >>>Resumindo, para evitar este problema sugiro a
> >>>elaboração de uma Tabela de Avaliação unificada,
> >>>que leve em conta as especificidades de cada
> >>>área.
> >>>
> >>>Saudações,
> >>>
> >>>Damián
> >>>
> >>>
> >>>
> >>>Dr. Damián Keller
> >>>Coordenador, Curso de Música - Chair, Division of Music
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-- 
Carlos Sandroni
Departamento de Música, UFPE
Programa de Pós-Graduação em Música, UFPB
Setembro 2007/Fevereiro 2008:
Pesquisador Associado ao Centre de Recherches en Ethnomusicologie
CNRS - LESC UMR 7186 - Paris
Endereço pessoal na França:
Chez Duflo-Moreau
199, rue de Vaugirard
75015 - Paris
Telefone profissional no Brasil
(81) 2126 8596 (telefone e fax)
(Recados com Anita)
Endereço pessoal no Brasil:
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