[ANPPOM-Lista] Os novos brasilianistas

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Dom Dez 9 17:44:10 BRST 2012


http://oglobo.globo.com/cultura/os-novos-brasilianistas-5562619
Antes dedicados sobretudo à bossa nova e à geração 1960 da MPB,
pesquisadores de diversos países lançam estudos sobre temas que vão do funk
à nova música pernambucana

Leonardo Lichote<http://oglobo.globo.com/cultura/os-novos-brasilianistas-5562619#>
 Publicado: 24/07/12 - 7h30
 Atualizado: 24/07/12 - 16h23
  [image: O americano Frederick Moehn, a italiana Sandra D’Angelo, o
americano Daniel Sharp e o francês Daniel Loddo (a partir do alto): estudos
sobre a música brasileira Foto: Arte: Claudio Duarte]

O americano Frederick Moehn, a italiana Sandra D’Angelo, o americano Daniel
Sharp e o francês Daniel Loddo (a partir do alto): estudos sobre a música
brasileira Arte: Claudio Duarte

RIO - Os cenários são variados — países como Canadá, Itália, Inglaterra,
Estados Unidos —, mas as histórias têm um início muito parecido. Todos
ouviram bossa nova, ou Tropicália, ou a produção artística da geração dos
festivais, e se apaixonaram pela música brasileira a ponto de desejarem
torná-la centro de suas pesquisas acadêmicas. Mas, diferentemente do que
costumava acontecer nos trabalhos de brasilianistas até o início da última
década, os estudos mais recentes procuram explorar espaços além da trilha
João-Caetano-Chico. É o que aponta o recém-lançado (nos Estados Unidos)
"Contemporary carioca — Technologies of mixing in a brazilian music scene"
(Duke University Press), de Frederick Moehn, sobre a geração de artistas
que, baseados no Rio, se destacou na década de 1990 — Marcos Suzano,
Lenine, Pedro Luís e A Parede, Fernanda Abreu e Paulinho Moska.

Veja também

   - Veja entrevistas com brasilianistas que se dedicam a decifrar a música
   nacional no exterior<http://oglobo.globo.com/cultura/veja-entrevistas-com-brasilianistas-que-se-dedicam-decifrar-musica-nacional-no-exterior-5566393>

É apenas um exemplo entre os muitos estudos que foram e estão sendo feitos
por pesquisadores brasilianistas em diferentes pontos do mundo — nomes como
Bryan McCann, Sandra D’Angelo, Alexander Dent, Daniel Sharp, Sean Stroud,
Lorraine Leu, Daniel Loddo e David Treece. Entre os temas investigados,
estão a música caipira/sertaneja, o funk carioca, gêneros nordestinos como
o repente, relações entre a tradição musical gaúcha e o samba de Lupicínio
Rodrigues, a produção contemporânea de artistas pernambucanos como Lirinha,
Siba e Karina Buhr.

— Os novos pesquisadores estrangeiros estão se preocupando muito mais com
gêneros e artistas que não são da geração MPB, que não são os "suspeitos de
sempre", como Caetano, Chico, Gil, Jorge Ben, este último ainda pouco
estudado, de fato — nota Frederick Moehn. — Há um artigo interessante sobre
o proibidão que saiu na "Latin American music review" (revista publicada
pela Universidade do Texas) e que cito no meu livro. No meu trabalho mais
recente, pesquiso as ligações entre Brasil e Angola.

*‘Rumos menos canônicos’*

Interessada no funk carioca — ou Baile Funk, como o gênero é conhecido fora
do Brasil — desde que o descobriu andando pelas ruas do Rio, a italiana
Sandra D’Angelo vem desenvolvendo pesquisas sobre o ritmo na King’s College
de Londres. Seu estudo traz uma perspectiva original — literalmente um
olhar de fora — mesmo comparado às pesquisas brasileiras sobre o tema.

— Encontrei algumas publicações sobre o aspecto antropológico e sociológico
do Baile Funk, mas pouco foi escrito sobre a música em si em nível
acadêmico — explica Sandra. — Como musicista, encontrei novos aspectos do
funk carioca nunca explorados antes em termos de genealogia, estética,
filosofia, arte, análise técnica. Descobri pessoas que nunca puderam dar
sua versão. Estou falando de protagonistas quase ignorados hoje, como
Carlos Machado, ou DJ Nazz, que deu uma contribuição enorme para o
crescimento da música eletrônica brasileira. E proponho outras raízes.
Muitas pessoas apenas aceitam que o funk vem do miami bass, mas minha
pesquisa está me trazendo outras respostas.

Autor de "Hello, hello Brazil — Popular music in the making of modern
Brazil", sobre o rádio brasileiro como laboratório da música popular entre
as décadas de 1920 e 1950, Bryan McCann diz que, agora, segue "rumos menos
canônicos":

— Eu era DJ de jazz na emissora de rádio da minha faculdade e peguei um
disco de João Gilberto por acaso. Era o "Ao vivo em Montreaux". Botei "Pra
que discutir com madame" e nunca mais olhei para trás. Fiquei alucinado.
Depois, passei por minha fase tropicalista, minha fase Chico Buarque, samba
de raiz, Tim Maia... — lembra. — Mas depois segui outros rumos menos
canônicos. No momento, estou interessado na música gaúcha, especialmente o
samba-canção de Lupicínio Rodrigues e a canção de César Passarinho, dois
negros gaúchos de estilos totalmente distintos. Ou quase totalmente, porque
de certa forma o Lupicínio de músicas com temática gaúcha, como
"Felicidade" e "Cevando o amargo", foi antecessor do movimento
tradicionalista gaúcho que produziu César Passarinho.

McCann diz que salta aos olhos de um estrangeiro a abrangência com a qual
se deparam quando observam a música brasileira.

— No exterior, se você conhece Caetano, Gil e Tom Jobim, é possível pensar
que você conhece a música brasileira. Quando você começa a investigar de
forma mais profunda e descobre um Moacir Santos, um Vitor Ramil, mesmo um
cara como o Wando, que todos os brasileiros conhecem mas ninguém no
exterior conhece, você vê que a música brasileira vai mais além.

Uma descoberta que está se tornando cada vez mais frequente, motivada pela
atenção crescente que o Brasil tem recebido nos últimos anos (pela
estabilização econômica, pelo fenômeno pop que foi o presidente Lula, o
direito de sediar a Copa e as Olimpíadas).

— O conhecimento mundial sobre o Brasil está aumentando, as pessoas estão
mais atentas aos Brics — diz o canadense Alexander Dent, autor de "River of
tears: Country music, memory and modernity in Brazil", que trata da canção
sertaneja/caipira, que ele conheceu durante doutorado na Unicamp. — Os
gringos olham para o Brasil e veem que ele é um superpoder musical, você
não pode falar só do Rio, do samba. Os pesquisadores estrangeiros estão
percebendo isso.

O americano Daniel Sharp percebeu de uma das formas mais radicais a
potência da música brasileira — num show de Chico Science e Nação Zumbi.
Ele viera parar em Fortaleza após ter conhecido a MPB em discos da Luaka
Bop, de David Byrne — não seria absurdo pensar que, com seu selo, o
ex-Talking Heads plantou sementes para os estudos que agora começam a
brotar. Após ver Tom Zé em Minnesota, Sharp se motivou ainda mais a vir ao
Brasil.

— Cresci em Minnesota na época de música indie tipo The Replacements e
Hüsker Dü, e toquei guitarra e violão em várias bandas com meus amigos.
Pirei de vez ao ver a mistura sonora potente deles. Foi tão barulhento
quanto a música que eu tocava em Minnesota, mas junto com ritmos como coco
e maracatu — diz o pesquisador, que hoje pesquisa a música pernambucana
contemporânea. — Estou interessado na onda pernambucana contra o uso óbvio
de sons que representam tradição, como se pode ver no trabalho recente de
Lirinha, Siba e Karina Buhr. Estou terminando de escrever um livro sobre as
histórias das bandas pernambucanas Cordel do Fogo Encantado e Samba de Coco
Raízes de Arcoverde durante os anos 2000.

Pernambuco também atrai a tenção do francês Daniel Loddo, que desde a
década de 1980 estuda a relação das culturas nordestinas e occitã — e, por
isso, com seu projeto musical La Talvera, se tornou parceiro de Silvério
Pessoa. Na primeira metade dos anos 2000, editou CDs de repente na Europa
e, agora, acredita que a mudança de realidade da música brasileira no
exterior se deve à própria forma como o país passou a olhar para si:

— De três ou quatro anos para cá, parece que as coisas mudaram aos poucos.
Parece que o Brasil se interessa mais na diversidade cultural que tem e
está conseguindo exportar melhor todas essas expressões mais diversificadas
da cultura popular. Por exemplo, o forró agora se implanta em vários
países. Alguns anos atrás ninguém conhecia o forró aqui na França, e agora
tem vários grupos que tocam forró. O mesmo com a tradição do pífano. Alguns
anos atrás, um francês querendo tocar música brasileira só tinha a
possibilidade de integrar uma batucada. Agora tem várias escolas de pífano
aqui.
-- 
carlos palombini
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