[ANPPOM-Lista] Composição em Grupo

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Seg Mar 19 16:05:09 BRT 2012


Daniel,

No primeiro caso que citei, a maioria no grupo era de bons instrumentistas
de música contemporânea aos quais a improvisação não era estranha. (Boa
parte deles havia trabalhado anteriormente com Conrado Silva e participado
inclusive de uma apresentação de Cage na bienal). Klaus Huber não chegou
com uma idéia pronta, mas havia necessidade de um ponto de partida, e ele
criou um consenso em torno do Rimbaud picotado. A partir desse momento, eu
perdi o interesse, porque Rimbaud picotado, naquele contexto, era uma
caricatura de "música contemporânea" (*Gesang*, *Visage* etc.). Creio que o
tipo de resultado que o evento pedia fosse algo como uma vanguarda
engajada. E faltou tanto vanguardismo quanto engajamento. Faltou sobretudo
que os integrantes se reconhecessem naquilo que estavam fazendo.

No segundo caso, as coisas fluíram mais naturalmente, visto tratar-se de um
curso técnico, com menos pressupostos estéticos. Curiosamente, o resultado
foi igualmente anódino, mas noutro nicho, o do *middle of the road* ("a
moderate or unadventurous policy or course of action"), o que se chamava na
época de "música FM", e se poderia chamar ainda "música para salas de
espera", "aeroportos" ou "elevadores". Aqui, não havia uma coordenação. Um
aluno mais motivado chegou com uma base (baixo e bateria) pronta, e
construímos o trabalho em cima daquilo, mais ou menos segundo as instruções
do proponente. O trabalho pode ter sido considerado tecnicamente
satisfatório, mas ficamos, musicalmente, frustrados. Só que ali as
expectativas eram de outra natureza. Tratava-se de música popular. Eu, à
época, transformava minha *musique de salon* em *synth pop*. Um de meus
colegas aderiu visceralmente a meu trabalho. E depois do curso, realizamos
gravações interessantes, trabalhando juntos por dois anos.

Um trabalho que conheço de criação musical coletiva que vi funcionar bo
Brasil é o que Conrado Silva desenvolveu na UnB a partir da própria criação
de sons individuais com objetos comuns, passando pelos duos (por exemplo,
entre uma bola de gude e uma folha de papel) até chegar a *concerti
grossi*com orquestras das mais inusitadas. Pergunte pra ele, que vale
a pena.

Rogério Costa e Fernando Iazzetta trabalham com improvisação coletiva na
USP. O pessoal do Ibrasotope também: <www.ibrasotope.com.br>.

Abraço,

Carlos


Le 19 mars 2012 13:34, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br> a écrit :

>
> Olá prof. Palombini,
>
> Creio que no primeiro exemplo que deste, parecer ser também o papel do
> intérprete na composição coletiva. Então esta participação pode ser
> considerada composição coletiva (assim como na Música Aleatória, o
> intérprete pode também ser considerado compositor?) Ou poderia ser mais um
> caso de "fordismo musical", dada a utilização do intérprete pela sua
> especialidade no domínio do instrumento, seguindo as tarefas ordenadas pelo
> "compositor-chefe"? É uma questão a se pensar... ainda não tenho muito
> claro o que seria de fato a composição coletiva, mas seria interessante
> analisar diversos contextos pra compreender o que pode ser "isto". Vamos
> ver se esboçamos algumas conclusões...
>
> Um abraço,


-- 
carlos palombini
www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
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