[ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’ dos bailes funk no Rio

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qui Nov 8 16:39:32 BRST 2012


Há dois pontos que levantei em meu comentário que, pela leveza até
> irresponsável do meu tratamento, foram ignorados. Primeiro, a questão de se
> o funk é (entre muitas coisas diferentes que caracterizam o objeto social)
> um gênero musical legítimo como representação das classes populares
> associadas a ele, ou licença, dada pela classe dominante, para manutenção
> de estruturas sociais desiguais e estratificadas.
>

O funk como "licença, dada pela classe dominante" é um absurdo que mostra
um desconhecimento total das relações entre funk e classe dominante,
representada pelo Estado. Além disso, de que posição você discute a
legitimidade de um gênero enquanto autorepresentação coletiva?


> Mas trabalhar em projetos sociais – como é o meu caso – talvez também
> ajude a alimentar um olhar mais aproximado sobre a representatividade que
> os moradores de comunidades de periferia efetivamente conferem a esse
> gênero musical.
>

É evidente que o funk carioca não é o representante de comunidades e
favelas. Tampouco se propõe sê-lo. Quem se apresenta como tal são os MCs do
hip-hop.


> Não entendo como a crítica feita a partir desses dois pontos
> (estratificação de estruturas de poder e apologia a uma cultura isolada,
> uma reforçando a outra) seja a de uma “mentalidade colonizada”, até porque
> não aleguei em momento nenhum, comparação com qualquer manifestação
> cultural de “elite”.
>

Em primeiro lugar, o termo "apologia", extraído de uma legislação
inconstitucional, já desqualifica seu texto, e mostra exatamente o lugar de
onde vc fala. Em segundo, falar de "estratificação de estruturas de poder"
em relação a subgêneros como o Proibidão ou a Putaria é desconhecê-los
enquanto linguagem musical.


> Sequer falei da relação de belo-não belo. Esse preconceito, provavelmente,
> está na cabeça de quem leu.
>

Falou sim: falou de "estetização" da "expressão social e cultural de uma
classe oprimida", como se, por ser de uma classe oprimida, não fosse arte,
e necessitasse ser "estetizada" por um estrangeiro pervertido.


>
> Embaso essa discussão não só em minha opinião mas, entre outras
> experiências, na ação pública do escritor, cantor e artista Ferrez (
> http://ferrez.blogspot.com.br/p/autor.html), a quem tive oportunidade de
> ouvir renegando os bailes funk como representativos da cultura de periferia
> (palestra dada ao programa Guri Santa Marcelina em 08/02/2012).
>

Não me parece muito interessante discutir aqui a opinião de Ferréz a partir
de uma súmula genérica. Autor do *manual prático do ódio* (objetiva, 2003),
Ferréz entende perfeitamente a problemática social na qual se insere boa
parte da música funk carioca, aquela parte que me interessa, precisamente.
Ele está ligado, no entanto, ao universo do hip-hop, o qual, como já disse
em outra mensagem, se apresenta como o legítimo porta-voz do meio. (E, como
tal, é aceito pelos funkeiros).



>
> Nesses “pareceres”, um verniz cientificista deslocado trouxe a luz uma
> leitura rasa que atribui à minha pessoa posições que absolutamente não
> defendo, além de me acusarem de ignorante sem sequer conhecer a experiência
> que tenho como professor de projetos sociais.
>

Precisamente, o científico ali era apenas um verniz, uma figura de retórica.



>
> Pergunto aos senhores onde está o argumento *ad hominem *na minha
> mensagem, já que não mencionei pessoas: o termo “francês ver”, de minha
> primeira frase, alegoriza um olhar estrangeiro, tradicionalmente
> deslumbrável pelo exótico com que reveste o diferente, às vezes para
> mostrar a beleza, mas às vezes para negar a injustiça social imanente ao
> fenômeno social que observa.
>


"Para francês ver" não pode deixar de evocar "para inglês ver", isto é,
"para enganar", e não resta nenhuma dúvida, dada a autoria das fotos,
quanto a de qual francês se trata.



> Como acabo de dizer, manifestei uma opinião e estou realmente aberto a
> argumentos que enriqueçam essa opinião, desde que haja discussão dos pontos
> levantados.
>

Ei-la.
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