[ANPPOM-Lista] Sobre o email do Daniel que me tirou do sério

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Sáb Jun 1 20:28:44 BRT 2013


Prezados,

Volto à discussão, que pra mim ficará restrita à Lista da ANPPOM, pois não tenho acesso à lista de Etnomusicologia. Manifesto-me sobre o e-mail do prof. Márcio Mattos:

"Não se trata de ridicularizar a tradição européia, mas de valorizar também o que temos de bom na música brasileira e, aí, não confundir música brasileira com música ruim e música européia com música boa."

Naturalmente. Agora, por que não pensar em hibridismo? Qual a diferença entre música brasileira e música europeia? Por acaso serviria só como pretexto para polarização política? Agora seremos mais brasileiros e menos europeus, porque antes éramos mais europeus e menos brasileiros?

"Você diz que associar a música de concerto com elite é coisa do século passado e associa a música popular com o que, quando diz que as pessoas "torram dinheiro aos monte nisso"? De que século é esse comentário?"

Creio que você esteja se referindo à música popular midiática, essa que condiciona a experiência musical de milhões de pessoas através dos meios de comunicação em massa. Música popular é um termo muito amplo; nem todos os tipos de música popular são midiáticos. Portanto, esta distinção é necessária. Agora, se entendermos elite por uma minoria rica, poderosa e manipuladora, é óbvio que não podemos afirmar que a música de concerto é elitista, não é verdade? Basta ver quem são os músicos da atualidade que atuam nesta área. Ou você discorda disso?

Acreditar que a Universidade é uma instituição européia e, por isso, deve ficar como está, é o mesmo que não questionar o que nos tomaram de assalto durante séculos.

É lógico. Agora, do outro lado, não adianta acreditar que ela um dia deixará de ser europeia.

"Você trata a música popular como lixo e a música de concerto como relíquia."

Quero que você diga exatamente de onde tirou esta suposta afirmação minha.

"O músico precisa do público, sim! Quem disse que não? A música é feita para quem? Portanto, precisamos que o público aceite a nossa música, sim (...) É o mesmo público que paga o seu salário na Universidade, pois ela é pública."

Então quer dizer que pelo público estar "pagando meu salário", quer dizer que eu tenha que trabalhar para que ele aceite minha produção artística? A mídia venceu mais uma vez...

O que tem de ruim no mato? Algo que os Europeus esqueceram de colonizar?

Possivelmente sim. O mato está imune ao desmatamento, e à ação do homem branco. É um ótimo lugar para quem quer se desvencilhar por completo da cultura europeia (ou da "elite", como muitas pessoas acreditam).

A desunião entre os músicos ainda é um dos nossos grandes problemas. Os médicos, os advogados e outros profissionais que você citou não ficam denegrindo as atividades dos seus colegas. Ao contrário, eles são corporativistas.

Existe uma grande diferença entre discutir ideias e denegrir as atividades dos colegas. Você está querendo dar à minha afirmação um tom pessoal. Ao mesmo tenho, suponho que você vê um grande aspecto positivo em ser corporativista. Acreditar que o corporativismo torne os músicos mais unidos certamente não vai resolver este problema. O corporativismo ocorre justamente quando um grupo de profissionais monopoliza uma parte das ações que deveriam ser em benefício de todos. É ilusão pensar que advogar em causas próprias ou para determinados coleguinhas irá trazer contribuições para todos.

"(...) já que você disse que não adianta dar nome aos bois."

E não adianta mesmo. Vamos manter a discussão no campo das ideias.


Daniel Lemos Cerqueira
Universidade Federal do Maranhão
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