[ANPPOM-Lista] Continuando a discussão - Música erudita, academia e sociedade

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Qua Jun 5 23:18:22 BRT 2013


Olá meus caros,

Respondendo à recente discussão "remodelada", gostaria de colocar alguns pontos.

Reconheço que não li e não tenho conhecimento sobre os trabalhos de musicólogos mais recentes, entre eles o Nicholas Cook, onde vi rapidamente vários trabalhos interessantes ligados a temáticas variadas (inclusive a Improvisação, quando estava pesquisando isso). Infelizmente meu tempo tem sido muito escasso, nem pra estudar Piano, nem pra ler os autores da linha que trabalho, que é o Ensino da Performance Musical. Não poderia ter me manifestado dessa forma.

Agora, com relação ao comentário que gerou a questão, vou descrever o cenário que entendi. Um professor da área de Filosofia, mencionando as tais "teorias sociais" - que em rápida pesquisa observei serem, na verdade, ideais com base no "Imperialismo Cultural", conceito da década de 1970, e no conceito de "Aculturação (ou seja: não eram "quaisquer teorias sociais"; me expressei mal desde o começo) -  estava defendendo que a Música Erudita não deveria ter espaço na academia justamente porque representa um resquício do imperalismo cultural que o Brasil viveu quando era colônia. Acredito que por este professor não ser da área de Cultura - e, por isso mesmo, não ter noção da condição delicada em que vive a Música Erudita hoje na sociedade (na academia, obviamente, é um pouco melhor, mas não de forma homogênea em todo o país) - ele não tem consciência das implicações que suas ideias, caso aplicadas, geram para a manutenção
 do patrimônio cultural.

Se pararamos de ensinar Piano nas Universidades (por exemplo), onde ele será ensinado? A prática musical não é simples como pegar um livro e ler. Isso é bem diferente das áreas que trabalham basicamente com ideias: tanto que até hoje há releituras de autores da Grécia Antiga. Porém, na Música, grande parte das habilidades musicais é ensinada através da oralidade (e não sabemos como era a interpretação musical na época da Grécia Antiga!). Se isso acabar, não será tão simples (ou até impossível) reaver este conhecimento daqui a cem anos. Acredito muito na necessidade de renovar, agregar novas práticas, mas esta característica da Música não pode ser perdida. Posso dizer que esta é a minha maior e gigantesca preocupação com relação ao que acontece no meio acadêmico da Música.

Espero ter sido um pouco mais claro na minha fala, e que isto possa prover alguma contribuição.

Abraços,

Daniel Lemos Cerqueira 
http://musica.ufma.br

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