[ANPPOM-Lista] Nilo Batista denuncia a censura inconstitucional: A criminalização do funk

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Sex Nov 8 19:02:03 BRST 2013


Lucas,

2013/11/8 Lucas Eduardo <lucasgalon em gmail.com>

Carlos e demais, estou achando bastante divertida esta discussão; Mas
> gostaria , depois de ler todas as postagens, de perguntar, sem ironia (para
> quebrar o tom dominante...), duas coisas:
>

É importante divertir-se.


> Carlos, você realmente acredita que existe isomorfismo entre o Funk ou o
> Rap (por ex.) e as oralidades e tradições regionais brasileiras urbanas ou
> rurais (ou música popular e folclórica brasileira)????? - pergunto com base
> no seu comentário sobre o que disse o Alvaro;
>

Depende do que você queira dizer com "isomorfismo". A palavra, me parece,
situa a questão no campo da análise. Eu comecei a analisar o funk carioca,
mas nunca me detive no rap. O funk carioca descende do hip-hop (cuja
manifestação vocal é o Rap), então é possível demonstrar, historicamente,
as ligações entre funk carioca e hip-hop. Inicialmente, me fixei na
vocalidade, mas desloquei meu foco para o estudo das bases. Os
procedimentos ou dispositivos do hip-hop e do funk carioca são
essencialmente os mesmos no que concerne às bases. Minha hipótese é que as
expressões vocais que se sobrepõem à base no Brasil sejam dependentes de
uma tradição brasileira de improviso vocal rimado. Parece-me bastante
plausível. Em certa medida, esta via foi endossada por Elizabeth Travassos.
Quando, em novembro de 2011, dei um seminário no curso que ela ministrava
na Unirio, mostrei a célebre gravação do MC Smith cantando "Vida bandida"
(de Thiago dos Santos, o Praga) ao vivo no Baile da Chatuba em 2009 e
disse: "Eu me pergunto de onde vem essa voz que me parece surgir de lugar
nenhum na música brasileira." Elizabeth respondeu imediatamente: "Do
Palhaço da Folia de Reis!"

http://youtu.be/LXEq_1jHqXk


> E, pegando carona no que você respondeu para o Rubens Ricciardi: você
> realmente acredita que não existe uma indústria da cultura, ou cultural, ou
> sistema que se apropriaria das manifestações populares etc. etc.
> transformando-as em produtos bastante parecidos uns com os outros????
>

Mas é claro que acredito que exista! Uma coisa todavia é analisar a
especificidade da relação do funk carioca com isso. Outra ficar bradando
"indústria cultural" a dois por três, e sem sequer saber do que se trata,
no interesse de um academicismo pseudoerudito.



> Antes de ser acusado de caricatura, esclareço que pergunto sem procurar
> fazer juízo de valores, postulando sobre o que é pior ou melhor, ou, usando
> a sua lógica, se tem ou não "vida intelectual"...etc. Apenas fiquei
> curioso...
>

Aprecio sua ironia discreta e polida!


> PS. Sobre o RAP nascer na Jamaica, confesso que também fiquei surpreso...
>

Evidentemente dizer que o Rap nasceu na Jamaica é incorrer em anacronismo.
A tradição afro-jamaicana do *toasting* (cantado, diferentemente do
*toasting* afro-norte-americano) e a prática dos *dub plates* são
dispositivos fundamentais para a fundação da cultura hip-hop, da qual o Rap
é um produto tardio. Mas o Rap, pelo menos na Old School, é um elemento da
cultura hip-hop, e esta tem data e endereço registrados em cartório.

Abraço,

Carlos
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